terça-feira, 19 de abril de 2011

I FESTIVAL DE MÚSICA AFROBRASILEIRA DO FECAN

I FESTIVAL DE MÚSICA AFROBRASILEIRA

DO FECAN – FESTIVAL DE CULTURA E ARTE NEGRA

CAPÍTULO I OBJETIVOS

Art. 1 - O I Festival de Música Afro-brasileiro, a ser realizado na cidade de Montes Claros –MG, visa revelar novos talentos e valorizar a cultura Afro-brasileira.

CAPÍTULO II AS INSCRIÇÕES

Art. 2 – Poderão participar do festival compositores, cantores e músicos de quaisquer nacionalidade. Art. 3 – As canções apresentadas deverão ser inéditas e acompanhadas com algum tipo de instrumento cuja origem seja ou descende da África; como por exemplo: tambores, atabaques, berimbau, etc.

Art.4 As inscrições deverão ser realizadas no blogger http://www.tamboresdosmontes.blogspot.com/ No LINK INSCRIÇÔES VI FECAN O envio de material referente para o Centro de Extensão e Cultura Dr Hermes de Paula no endereço Praça Dr Chaves 32 Cep 39400-005 Centro Montes Claros MG. Serão aceitas inscrições cuja a data de carimbo dos correios não sejam posterior a ( colocar a data).

Art. 5 – Não haverá taxa de inscrição,para o primeiro Festival de Música do FECAN 2011


Art. 6 – Para se inscrever no festival, os participantes devem acessar o blogger (inscrição)depois de feita sua inscrição via blogger, enviar cópia de documento de identidade ( RG ou Passaporte ); - letra da música; - um CD ou DVD com a gravação da música; - uma declaração cedendo os direitos de som e imagem em sua participação do I Festival de canções Afro – brasileira; para o endereço conforme Art( 4 )


Art. 7 – Os candidatos serão submetidos a uma seleção prévia da Comissão Organizadora , por meio de letra , CD ou DVD. As gravações e filmagens utilizadas devem ter sido feitas especialmente para o festival.


Art. 8 – Os candidatos selecionados serão notificados através de correspondência via carta ou e-mail pela organização do festival.


Art. 9 – O material encaminhado será devolvido aos candidatos.


CAPITULO III



A APRESENTAÇÃO DOS CANDIDATOS


Art. 10 – Os candidatos selecionados na seleção prévia devem apresentar-se para o sorteio da ordem de apresentação no dia ----, no local ----. A ausência do candidato nesta apresentação será considerada como desistência.


Art. 11 – Os músicos terão direito da passagem de som e reconhecimento de palco no período de 40 minutos, onde a comissão organizadora estabelecera os respectivos horários.


CAPÍTULO IV


TRANSPORTE E ALOJAMENTO


Art. 12 – Os músicos devem arcar com sua própria despesa de transporte, alojamento e alimentação.


CAPÍTULO V


APRESENTAÇÃO


Art. 13 – As apresentações serão no local tal, sendo abertas ao público.


Art.14 – A músicas apresentadas deverão ser executadas de memória.


Art. 15 – Cada música terá o tempo de 10 minutos de apresentação no palco.


CAPÍTULO VI


O JÚRI


Art. 16 – O júri do festival será composto por cinco músicos de renome na área da música. Art. 17 – As decisões do júri têm caráter soberano e inapelável.


CAPÍTULO VII


PREMIAÇÃO


Art. 18 – Os prêmios serão distribuídos da seguinte forma: -


1 lugar – Trofeu -


2 lugar – Trofeu -


3 lugar – Trofeu


CAPÍTULO VIII


COMISSÃO ORGANIZADORA


Art. 19 – O Festival é organizado pela ou por --------- , que manterá uma comissão organizadora responsável pela formação do grupo de pré-seleção, do júri e pelos demais procedimentos relativos ao festival.


Art. 20 – A comissão organizadora manterá os candidatos selecionados informados de todos os procedimentos relativos ao festival .


Art. 21 – Os casos não previstos no regulamento serão resolvidos pela Comissão Organizadora, cujas decisões são soberanas e inapeláveis.

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segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Busca da África no Candomblé, Uma Leitura da Obra de Stefania Capone

Luciney Araújo

Uma viagem fascinante ao universo das religiões de matriz africana, assim se pode classificar o livro da antropóloga francesa Stefania Capone: La Quête de l`Afrique dans le Candomblé: Pouvoir et Tradition au Brésil.(A Busca da África no Candomblé: Tradição e Poder no Brasil). Paris: Karthala, 1999. Publicado no Brasil pela Editora Pallas no ano de 2004.
Uma obra essencial para o entendimento do Candomblé brasileiro, a autora faz uma viajem cronológica e mítica através da figura do orixá Exu-Legba, em terras da costa ocidental africana (Benin e Nigéria) passando pelas raízes do candomblé na cidade de Salvador, até chegar ao cotidiano das famílias de santo Cariocas. Usando de uma etnografia fina e detalhada dos cultos, observando detalhadamente suas diferenças, o leitor é transportado para uma viagem literária, e ao mesmo tempo, real dessas casas de culto. Mostrando através das iconografias e relatos o cotidiano desses cultos.
O texto segue em seu primeiro capitulo uma leitura histórica a construção das tradições dos Orixás no Brasil, apontando pesquisadores e antropólogos as mais diversas leituras do culto, até um processo de reafricanização buscada por religiosos e pesquisadores do culto.
Capone usa como válvula de escape para a interpretação das religiões de matriz africana no Brasil, as transformações dadas a Exu ao longo dos séculos XIX e XX no Brasil, apontando desde a literatura produzida e fazendo uso de observações diretas sobre os cultos afro-brasileiros, traçando um paralelo do Exu cultuado em África, aos pontos riscados e cantados dos Exus cultuados na Umbanda, ou até mesmo as formas de culto reverenciadas a estes "servos dos Orixás". Ao mesmo tempo a autora faz uma reflexão de uma forma bastante lúcida de sua experiência dentro das casas de culto, fazendo um contraponto com a produção acadêmica sobre o tema.
A análise feita pela autora parte de estudos realizados por outros pesquisadores como Yvonne Maggie, Patrícia Birman, Reginaldo Prandi, Vagner Gonçalves e Beatriz Góes Dantas, fazendo uma reflexão empírica do tema, ao mesmo tempo, propõe um continuum entre puro/impuro, tradicional/misturado, re-ligião/magia. Fazendo afirmações que a reafrincanização é apenas parte na construção desse continuum.
Em vários pontos do livro, a autora aborda a importância dos Exus, e sua colocação dentro de uma estrutura de culto, que em muitas vezes se repete, mesmo que de forma diferenciada a cada contingência. Um ponto importante abordado na obra é o fato de os exus e pombagiras reafricanizados, não serem submetidos aos orixás sacerdotes na construção da hierarquia do candomblé, mas, fundamentalmente como instrumentos de trabalho do cotidiano das classes populares da sociedade.
O ponto chave do livro são os depoimentos coletados durante a pesquisa de campo, sobretudo de mulheres, contribuem para o ponto central do texto. Questões de gênero, dominações místicas são aprofundados minuciosamente.
Capone constrói seu livro partindo de análises e dados coletados na cidade do Rio de Janeiro, cuja história das casas de candomblé, da relação inseparável destas com a umbanda e outros cultos de possessão.
A análise histórica do livro é apresentada tantos por sacerdotes e iniciados na religião como estudos antropológicos realizados sobre o tema, sendo a principal indagação de Capone a classificação de Salvador como a "Meca" nagô, fazendo paralelo com o cotidiano de outros centros, como diversificação religiosa criada em outras partes do país, deixando a incógnita de como se reconstrói essas religiões nos subúrbios cariocas buscando acima de tudo sua "tradicionalidade".
Uma das perguntas constantes vem do que dignifica o fiel a cada momento do curso deste século? Segundo a hierarquização produzida pela literatura antropológica, a "nação" angola seria menos "pura", tendo incorporado de maneira sistemática o culto dos caboclos às suas práticas rituais. E através desse ponto da passagem que se articularia as diversas modalidades de culto de possessão entre si. De modo, como afirma a autora: hoje, por iniciações sucessivas, se pode começar pela freqüência a terreiros de "umbanda branca" para, após uma primeira iniciação no candomblé em um terreiro angola, tornar-se ketu, logo, "nagô puro", parte de um "axé" de renome. Nesse aspecto, Capone apresenta os inúmeros pontos e estratégias que nos permite entender e ao mesmo tempo interpretar as negociações para aquisição de maior legitimidade, ou seja, levar aquilo que o povo do santo chama de "mudança das águas", pelas quais o iniciado de uma "nação" passa para outra.
Capone ao mesmo tempo em que faz a analise de legitimação e de continuum religioso, destaca a produção literária sobre os cultos afro-brasileiros, dando enfoque central aos pesquisadores franceses Roger Bastide e Pierre Verger e da antropóloga norte-americana Ruth Landes, que produziu no inicio do século XX a obra A Cidade das Mulheres, considerados por muitos pesquisadores como obra fundamental para a compreensão dos cultos afros na cidade de Salvador.
Stefania Capone apresenta-nos uma essência das correntes culturais que há muito tempo cruzaram o atlântico e aportaram aqui por essas terras. A valorização em que a autora apresenta a figura de Exu apresenta como de forma clara que a imagem criada ao longo dos séculos a esse orixá serviu apenas para o crescimento místico não apenas do orixá, mas em torno de uma religião fascinante, pois como afirma a autora, o processo reafricanizaçao da religião nos leva a uma verdadeira viagem ao verdadeiro mundo do candomblé em África.
Bibliografia Citada
CAPONE, Stefania: A Busca da África no Candomblé - Tradição e Poder no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Pallas e Contra-Capa, 2004

sábado, 2 de abril de 2011

lançamento do livro o negro no século XXI



Primeira juíza negra do Brasil lança livro no estande da Bienal do Livro do Judiciário alagoano

1ª JUIZA NEGRA DO BRASIL LUISLINDA VALOIS



Mulher, negra, iniciada em Candomblé, nordestina e determinada: essa é a juíza baiana Luislinda Valois
Março 10, 2011 por Dayane

“Sou filha de Iansã, sou pintada, raspada, uso minhas contas onde passo e defendo meus orixás em todos os espaços que Deus deixou no mundo.”(Fonte da citação: bahianoticias.com.br)

O professor pediu o material de desenho, a custo o pai de Luislinda conseguiu comprar um, meio remendado. Pois bastou o professor ver o material para magoá-la para sempre. “Menina, deixe de estudar e vá aprender a fazer feijoada na casa dos brancos”. Ela chorou, ainda se emociona quando relembra, 58 anos depois. Mas tomou coragem e retrucou: “Vou é ser juíza e lhe prender”. A primeira parte, ela cumpriu. Em 1984, a baiana Luislinda Valois Santos tornou-se a primeira juíza negra do País. Não à toa, também foi quem proferiu a primeira sentença contra racismo no Brasil. Em 28 de setembro de 1993, condenou o supermercado Olhe Preço a indenizar a empregada doméstica Aíla de Jesus, acusada injustamente de furto. Aos 67 anos, lança em agosto seu primeiro livro, O negro no século XXI.

Como foi sua infância? Imagino que não tenha tido muitos recursos…

Faça uma pequena ideia (risos). Minha mãe era lavadeira e costureira e meu pai era motorneiro de bonde. Minha infância foi miserável, mas meus pais sempre primaram pela educação e pela nossa saúde. Quando eu tinha 9 anos, estava começando a estudar, um professor pediu um material de desenho e meu pai, coitado, não pôde comprar o que ele pediu, mas comprou outro. Quando cheguei à escola, feliz da vida, ele disse: “Menina, se seu pai não pode comprar o material, deixe de estudar e vá aprender a fazer feijoada na casa dos brancos”. Imagine como foi marcante pra mim (chora). Saí chorando. Mas sou muito impetuosa. Voltei, fui em cima dele e falei: “Não vou fazer feijoada para branco, não. Vou é ser juíza e lhe prender”. Em casa, ainda tomei uma baita surra do meu pai. Naquela época, não se podia desrespeitar professor.

Começou a trabalhar cedo?

Com 7 anos, quis aprender datilografia e, para pagar o curso, minha mãe sugeriu que eu lavasse aquelas fraldas de pano que se usava na época. Aí fiz isso. Mas, trabalhar realmente, comecei com 14 anos, como datilógrafa. Comecei na Companhia Docas da Bahia e, logo em seguida, minha mãe tinha acabado de morrer, me arrumaram um trabalho no DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagem, hoje Dnit). Fui crescendo lá: trabalhei como escrevente, escriturária, chefe de orçamento. Estudei filosofia, não concluí, depois comecei teatro, mas meu pai não me deixou cursar, disse que era coisa de prostituta. Aí, um dia, decidi fazer direito. Já tinha uns 34, 35 anos. Me inscrevi e passei na Universidade Católica. Me formei aos 39 anos, no dia 8 de dezembro e, no dia 9, começaram as inscrições para o concurso de procurador do DNER. Passei em primeiro lugar no Brasil. Mas não pude assumir aqui.

Por que não?

A pessoa que passou em último também era daqui da Bahia. Como eu não tinha padrinho político, algumas autoridades me puseram numa sala e falaram: “Doutora, precisamos da sua vaga aqui. Vamos lhe oferecer Sergipe ou Paraná”. Aí falei: como vocês estão me mandando embora, vou logo para longe. Fui para o Paraná. Com 90 dias, o chefe da procuradoria de lá se aposentou e fui designada para a vaga dele. Morei lá quase 8 anos.

Li que, antes de estudar direito, a senhora participou de um concurso de beleza. Como foi isso?

Trabalhava no DNER, tinha uns 20 anos, e um dia me chamaram na diretoria e falaram: “estão abrindo um concurso da Mais Bela Mulata e você vai ser a nossa miss” (risos). Aí eles foram falar com meu pai. Era de maiô e tudo, imagine… Meu pai ficou bastante reticente, mas por fim pediu a seu Rangel, que era o chefe do administrativo, para assinar um documento se responsabilizando pela minha integridade física (risos). A integridade física da época era a tal da virgindade, a preocupação era essa. Teve várias etapas. As mais importantes foram no Forte de São Marcelo e na Rua Chile, que era o point. Ganhei como Miss Simpatia.

E como se tornou juíza?

Estava em Curitiba e vim de férias para cá, soube do concurso pelo jornal A TARDE, que meu pai comprou. Falei: pronto, é agora. No dia seguinte, fiz a inscrição e as provas. Aí, uma noite, o telefone tocou e a menina disse que eu tinha sido aprovada. Acordei meia Curitiba, né? (risos). O fato de ser a primeira juíza negra do Brasil só me dá responsabilidade. Até hoje só temos dois ministros negros nos tribunais superiores. Por que isso? A inteligência não é privacidade de nenhuma raça. Até porque só existe uma raça, a humana. Ser juíza não é difícil. É só ter bom senso, estudar de manhã, meio-dia, de tarde e de noite e gostar de lidar com gente. Não pode pensar que, só porque o cidadão é marginal, ele já merece estar enclausurado. Primeiro se vai ver por que aquele sujeito virou marginal. A sociedade é quem escolhe quem vai delinquir. E te digo mais: nesse momento, a sociedade escolheu que é o negro, pobre, jovem, da periferia. Na hora que se tem de condenar, se não tiver a quem condenar, se condena o negro, mesmo que ele ainda esteja no ventre da mãe.

A senhora falou que não é “porque o cidadão é marginal que já merece estar enclausurado”. A sociedade espera uma resposta, de todo modo.

A sociedade não colabora para que as pessoas não cheguem a delinquir. O que é que se tem de dar? Oportunidades. Primeiro, educação de qualidade e continuada. Imagine uma pessoa que tem oito, dez filhos, se depara uma manhã sem ter o pão para alimentar seus filhos. Se não tiver muito equilíbrio, faz bobagem.

Já se viu diante de um caso desse? Como a senhora agiu?

Já, no interior. Resolvi da seguinte forma: fui até o prefeito e consegui um serviço de jardinagem para ele. A pena que dei foi que, com o primeiro salário, ele pagasse o que tinha pego. Nunca mais ouvi falar que esse rapaz fizesse nada de ilegal. Digo sempre o seguinte: se tiver eu e uma loira juntas, o que sumir primeiro, fui eu que peguei. É sempre o negro que é o delinquente de hoje.

No seu trabalho como juíza, ainda sofre muito preconceito?

Sou a sétima juíza mais antiga do Estado e nunca consegui ser convocada para o Tribunal. Me sinto preterida. Tenho certeza de que já era para eu ser desembargadora há muito tempo, preencho todos os requisitos. Para se saber o que é racismo, é só ficar negro por 48h. Certa vez, no juizado de Piatã, aproveitei o tempo para arrumar uns processos. Chegou uma advogada e falou: ‘O juiz vem hoje?’. Eu aí fiz um sinal para a moça não dizer que era eu. A advogada ficou lá, reclamando que juiz nunca chegava na hora, coisa e tal. Na hora da audiência, subi, pus a toga e, quando ela me viu, não acertou fazer nada. Tive de adiar a audiência. Falei: ‘Tenha paciência, a senhora toma um chazinho de erva-cidreira e, amanhã, nós continuamos’. Precisa maior racismo do que esse?

A senhora proferiu a primeira sentença contra racismo no Brasil. Como foi a repercussão do caso?

Me lembro bem. Aíla Maria de Jesus foi a um supermercado e quando estava saindo, o segurança a humilhou, disse que ela tinha posto na bolsa um frango congelado e dois sabonetes. Ela falou que, se ele chamasse a polícia, ela abriria a bolsa. Aí, a polícia chegou e viu que não tinha nada. Na época, a repercussão foi que o feitiço virou contra o feiticeiro (risos). Comecei a receber ameaças, o pessoal ligava para a minha casa dizendo: “Onde é que essa negra faz supermercado?” Fiquei com medo e pedi afastamento, resolvi voltar para Curitiba. Aí fui ao banco com meu filho, me sentei e ele foi resolver as coisas para mim. Passou um tempo o segurança ficou me olhando, depois veio outro, depois veio o gerente. E eu lá sem saber o que fazer. Pensei: se eu me mexer para pegar minha carteira de juíza, eles podem pensar que eu estou armada e me matar. Quando meu filho voltou, criei alma nova. Ele falou: “O que é isso com minha mãe?”. E o gerente respondeu: “Ela ficou muito tempo aí sentada”. Chorei a tarde inteira.

No livro O negro no século XXI, a senhora diz que “a Justiça é inacessível ao negro pobre”. A senhora é uma das idealizadoras do Balcão de Justiça e Cidadania, que atende moradores das periferias. Isso vem melhorando?

Sim. Criei o Balcão de Justiça e Cidadania, o Justiça Bairro a Bairro, Justiça Itinerante da Bahia de Todos-os-Santos e o programa Justiça, Escola e Cidadania, para levar a Justiça às escolas públicas. Recebi em Brasília, em 2006, o Primeiro Prêmio de Acesso à Justiça, pelo trabalho desenvolvido pelo Balcão. A ideia é resolver conflitos pela mediação, inclusive divórcios, separações, pensão alimentícia, que são os casos mais frequentes. As pessoas acham que, para ir até a Justiça, têm de estar com uma roupa muito arrumada, mas não precisa nada disso. Hoje, trabalho no juizado da Unijorge, que eu implantei.

Por que a Justiça na Bahia é uma das mais lentas no Brasil?

Primeiro, temos um número pequeno de magistrados e um número inaceitável de desembargadores. No Paraná, que é bem menor que a Bahia, são 120 desembargadores. Aqui, são apenas 35. É humanamente impossível. E a falta de recursos colabora bastante negativamente.

O movimento negro muitas vezes pleiteia políticas específicas, como as cotas. Isso não fere a Constituição, que diz que “todos são iguais perante a lei”?

Não se pode igualar os desiguais. Tudo que é inferior é encaminhado ao negro. As cotas são importantes, mas não permanentemente, porque senão parece esmola. É enquanto se equipara o ensino público e privado. O problema é que a qualidade da escola pública não melhora.

A maioria das vítimas de homicídio em Salvador são jovens negros. Qual é a parcela de responsabilidade da Justiça? Há apenas duas varas do júri para julgar esses casos.

Depois da visita a presídios, resolvi criar um projeto: Inclua no trabalho e na educação e exclua da prisão, para ocupar os jovens da periferia. A televisão fica com aquele ‘compre, compre, compre’. O adolescente vê um tênis e quer adquirir, seja como for. Pai e mãe também não têm condições, saem para trabalhar, deixam o menino sozinho. O que acontece? O traficante vai e coopta. O poder público é culpado por não dar condições para as famílias terem uma vida mais digna. Isso tudo vai desaguar no Judiciário, e falta estrutura.

No livro, a senhora também fala sobre aborto. É a favor da descriminalização?

Acho que se trata o assunto olhando somente a mulher pobre. A mulher rica faz aborto a todo instante, mas isso não vem a público, ela não morre, nem é presa. Acho que tem de deixar de ser crime, sim. Ninguém aborta porque quer.

A senhora é de santo, e o pastor Márcio Marinho, da Igreja Universal, assina a contracapa do seu livro. Como é a relação de vocês?

Me criei no candomblé, sou filha de Iansã. Acho que, primeiro, não se deve olhar a religião da pessoa, mas sim quem ela é. Já fiz parcerias com a Igreja Universal, e eles sempre cumpriram o papel deles.

Texto Tatiana Mendonça tmendonca@grupoatarde.com.br

Fotos Rejane Carneiro rcarneiro@grupoatarde.com.br

Fonte: Revista Muito #69 (26 de julho de 2009)

Entrevista extraída do blog: rogerioalcazar.wordpress.com

Fonte do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=bAhGu8utIkc