Negros que
podem, negros que acham que podem e os negros empoderados
22 de novembro de
2013 51 Visualizações
O grande dilema das pessoas que atuam
nos movimentos sociais negros brasileiros nas últimas décadas tem girado em
torno da questão do poder, do exercício do poder constituído e de que tipo de
“poder” estamos disputando. É em meio a essa discussão filosófica e discursiva
que foi cunhado pela intelligentsiadesse
movimento o termo “empoderamento”, largamente utilizado nas reuniões
organizativas, nos momentos de formação e nos debates acalorados dos ativistas
da causa negra.
DALMO OLIVEIRA
De tanto ser usado e repetido, o
neologismo politicamente correto já gerou até uma espécie de corruptela: o
verbo “emponderar”. E assim o glossário militante afrobrasileiro vai se
desdobrando entre erros, acertos e tentativas.
Interessa-nos discutir, nesse
momento, a questão do poder e suas conseqüências. Numa sociedade onde o poder
foi dado (ou conquistado) à uma elite não-negra, fundamentalmente
eurodescendente, discutir a luta pelo poder na perspectiva da população negra
deve ser um exercício cotidiano. Afinal, esse poder tem sido exercido à
milênios por uma minoria autoritária, arrogante e violenta. Que faz de tudo
para manter seus privilégios.
Então chegamos a uma primeira
reflexão: poder e privilégios sociais são a mesma coisa? Porque, para o
conceito de democracia, o poder constituído deveria ser exercido para o bem
comum, para a coletividade, mas efetivamente, não é isso que ocorre. E o poder
posto em prática pela minoria, na verdade, nega os direitos da maioria que é
negra no Brasil.
Empoderar alguém, então, seria lhe
dar poder, ou facilitar para que essa pessoa exerça o poder. Grosso modo, o
movimento negro tem utilizado o neologismo para dizer que o cidadão empoderado
é aquele que tem acesso às informações que lhe garantam a cidadania plena.
Nesse sentido, um negro ou uma negra empoderada é aquela pessoa que conhece
seus direitos, que consegue acessá-los e que tem condições de defendê-los em
qualquer circunstância.
Uma pessoa empoderada é alguém no
exercício pleno de sua cidadania. Não significa, necessariamente, que seja
alguém que “tem poderes”. Ter poder, atualmente, em nossa sociedade
capitalista, significa ter recursos financeiros, ou exercer um cargo de mando.
O proprietário de uma fábrica tem poder de contratar e demitir pessoas. Um
delegado da polícia tem o poder de prender e soltar alguém. O prefeito,
governador ou presidente da República pode decidir mudanças importantes na vida
de milhares de pessoas.
Mas como é que poderíamos analisar a
discursividade sobre o empoderamento na perspectiva de uma “microfísica do
poder”, na definição clássica de Michel Foucault. Para o filósofo francês, a
principal questão envolvendo esse paradigma tem a ver com respostas à seguinte
pergunta: “[...] quais são, em sem seus mecanismos, em seus efeitos, em suas
relações, os diversos mecanismos de poder que se exercem a níveis diferentes da
sociedade, em domínios e com extensões tão variados? [...] a análise do poder
ou dos poderes pode ser, de uma maneira ou de outra, deduzida da economia?”.
Porque o exercício do poder nas
situações mais cotidianas independe da questão financeira e do statuscapitalista. As hierarquias de poder perpassam
quesitos como gênero, geracionalidade, etnorracialidade, pertença
sócio-cultural etc. O fato é que levamos essas determinantes para os exercícios
dos poderes constituídos, no ambiente de trabalho, nas relações amorosas, nas
práticas sociais diversas.
Então a questão que se coloca hoje é
de como os movimentos sociais negros deveriam empoderar seus militantes? Com
quais objetivos e estratégias? Como a ancestral cultura africana pode nos
ajudar a definir outras metodologias para a prática do poder? Como
descentralizar e horizontalizar o exercício do comando? E como diferenciar o
exercício do poder constituído e a práticas dos poderes orgânicos?
Na prática, empoderar deveria ser o
fomento ao exercício coletivo dos poderes, a socialização das tecnologias
sociais de poder. Empoderar, portanto, significaria preparar para a vida em
coletividade, para o exercício da equidade e do igualitarismo, para o combate
ao autoritarismo e às centralizações. Empoderar é distribuir atribuições e
saberes, é coletivizar as decisões que terão impactos sobre a vida social.
Empoderar é quebrar hierarquias, distribuir soluções e acertos.
FOPPIR vai realizar devoluta da 3ª
CONAPIR
O Fórum Paraibano
de Promoção da Igualdade Racial (FOPPIR) realiza no dia 15 de dezembro, das 9
às 16 horas, no Ilê Axé Omidewá, no Valentina de Figueiredo, uma assembléia
especial oferecendo aos seus integrantes e colaboradores uma devolutiva dos
momentos e decisões mais importantes da 3ª Conferência Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (CONAPIR), ocorrida entre os dias 5 e 8 desse mês em Brasília.
“A idéia é que nossos delegados que estiveram na conferência façam relatórios
orais para os demais companheiros e companheiras que não puderam ir. Também
vamos discutir as estratégias que deveremos adotar aqui na Paraíba para colocar
em prática as deliberações das conferências estadual e nacional. A reunião
também terá espaço para socializarmos as publicações, vídeos e outros materiais
que trouxemos de Brasília”, diz Dalmo Oliveira, um dos coordenadores da
iniciativa. Os interessados em participar podem obter mais informações pelo
fone 8897.1340.