sábado, 26 de fevereiro de 2011

Palmares disponibiliza DVD de show com sete divas negras da Música Popular Brasileira.

Por Daiane Souza

Fruto do concerto que reuniu sete divas negras da MPB para celebrar o 22° aniversário da Palmares, o DVD Mães D’Água – Yèyé Omó Ejá poderá ser assistido diretamente do portal da instituição, através da rede social Youtube. Os melhores momentos do show foram editados e estão disponibilizados, desde hoje (23 de fevereiro), no endereço eletrônico da Fundação.

Lançado em dezembro de 2010, o DVD tem uma hora de duração e traz a celebração em homenagem a Iemanjá – a rainha do mar, segundo as religiões de matriz africana. No palco, Daúde, Margareth Menezes, Mart´nália, Luciana Mello, Rosa Marya Colyn e Paula Lima, negras de diferentes gerações e estilos, representando sete arquétipos da iyabá (o mito, a mulher).

A lenda é contada no decorrer do vídeo por Mãe Railda, sacerdotisa do Ilê Axé Opô Afonjá – Ilê Oxum, de Brasília, intercalando os solos e duetos das cantoras. Entre as músicas mais conhecidas estão Conto de areia, composta por Toninho Nascimento e Romildo Bastos; Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Morais; e Caminhos do Mar, de Dudu Falcão.

O show foi realizado em Brasília (DF), em agosto de 2010, e reprisado em Salvador (BA), em dezembro do mesmo ano. O momento mais emocionante foi o do encerramento, quando as sete divas interpretaram, juntas, as canções Lenda das sereias, de Vicente, Dionel e Veloso; e Dois de fevereiro, de Dorival Caymmi – todas em homenagem a Iemanjá. Vale a pena conferir!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

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Kabengele Munanga: A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil Leia materia completa: Kabengele Munanga: A difícil tarefa de definir quem é n


PARA O ANTROPÓLOGO Kabengele Munanga, professor-titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, não é fácil definir quem é negro no Brasil. Em entrevista concedida a ESTUDOS AVANÇADOS, no último dia 13 de fevereiro, ele classifica a questão como "problemática", sobretudo quando se discutem políticas de ação afirmativa, como cotas para negros em universidades públicas."Com os estudos da genética, por meio da biologia molecular, mostrando que muitos brasileiros aparentemente brancos trazem marcadores genéticos africanos, cada um pode se dizer um afro-descendente. Trata-se de uma decisão política", afirma.

Kabengele Munanga é atualmente vice-diretor do Centro de Estudos Africanos e do Museu de Arte Contemporânea da USP. Nasceu em 19 de novembro de 1942 no antigo Zaire, onde recebeu sua educação primária e secundária. Sua educação superior ocorreu em seu país natal, de 1964 a 1969. Foi o primeiro antropólogo formado na então Université Officielle du Congo, em Ciências Sociais (Antropologia Social e Cultural). No mesmo ano em que se graduou, recebeu uma bolsa do governo belga, como pesquisador no Museu Real da África Central, em Tervuren e como aluno do programa de pós-graduação na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Essa bolsa foi interrompida em 1971, por questões políticas, antes da conclusão de seu doutorado.

Em julho de 1975, veio ao Brasil com uma bolsa da USP, a fim de continuar seus estudos. Defendeu sua tese em 1977. No mesmo ano, voltou a seu país, mas não conseguiu permanecer lá por muito tempo. Regressou ao Brasil em 1979, para trabalhar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em 1980, iniciou a segunda fase de sua carreira na USP. Em 2002, o governo brasileiro concedeu a Kabengele Munanga o diploma de sua admissão na Ordem do Mérito Cultural, na classe de Comendador.

Participaram da entrevista com Kabengele Munanga, o editor de ESTUDOS AVANÇADOS, professor Alfredo Bosi, e o editor assistente, jornalista Dario Luis Borelli.

ESTUDOS AVANÇADOS - Quem é negro no Brasil? É um problema de identidadeou de denominação?

Kabengele Munanga - Parece simples definir quem é negro no Brasil. Mas, num país que desenvolveu o desejo de branqueamento, não é fácil apresentar uma definição de quem é negro ou não. Há pessoas negras que introjetaram o ideal de branqueamento e não se consideram como negras. Assim, a questão da identidade do negro é um processo doloroso. Os conceitos de negro e de branco têm um fundamento etno-semântico, político e ideológico, mas não um conteúdo biológico. Politicamente, os que atuam nos movimentos negros organizados qualificam como negra qualquer pessoa que tenha essa aparência. É uma qualificação política que se aproxima da definição norte-americana. Nos EUA não existe pardo, mulato ou mestiço e qualquer descendente de negro pode simplesmente se apresentar como negro. Portanto, por mais que tenha uma aparênciade branco, a pessoa pode se declarar como negro. No contexto atual, no Brasil a questão é problemática, porque, quando se colocam em foco políticas de ações afirmativas - cotas, por exemplo -, o conceito de negro torna-se complexo. Entra em jogo também o conceito de afro-descendente, forjado pelos próprios negros na busca da unidade com os mestiços. Com os estudos da genética, por meio da biologia molecular, mostrando que muitos brasileiros aparentemente brancos trazem marcadores genéticos africanos, cada um pode se dizer um afro-descendente. Trata-se de uma decisão política. Se um garoto, aparentemente branco, declara-se como negro e reivindicar seus direitos, num caso relacionado com as cotas, não há como contestar. O único jeito é submeter essa pessoa a um teste de DNA. Porém, isso não é aconselhável, porque, seguindo por tal caminho, todos os brasileiros deverão fazer testes. E o mesmo sucederia com afro-descendentes que têm marcadores genéticos europeus, porque muitos de nossos mestiços são euro-descendentes.

ESTUDOS AVANÇADOS - Em face da concessão de cotas para negros, ou para outros segmentos da população que não tiveram a mesma condição de cursar escolas da classe média ou alta, qual a sua posição?

Kabengele Munanga - Por ocasião dos trezentos anos da morte de Zumbi dos Palmares, em 1995, começamos a discutir essa questão na USP, numa comissão criada pela reitoria. Os movimentos negros, principalmente o Núcleo da Consciência Negra, pleitearam o estabelecimento de cotas em nossa universidade. Contudo, afirmei que não poderíamos discutir o sistema de cotas sem antes fazer uma pesquisa preliminar em países que já têm experiência de cotas, como os EUA, o Canadá, a Austrália ou a Índia. Naquela ocasião, apresentei essa proposta, mas ela não foi levada adiante. No entanto, na base de um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), um órgão do governo federal, conclui-se que realmente há uma grande defasagem na escolaridade dos negros nas universidades brasileiras. Infelizmente, porém, começamos a enfrentar a questão pelas cotas, a partir da decisão do governador Anthony Garotinho, do Rio de Janeiro, que provocou uma confusão muito grande, quando estabeleceu cotas nas universidades estaduais. No entanto, mesmo num país com tantas desigualdades, as políticas universalistas não resolvem o problema do negro. Para isso precisamos formular políticas específicas contra as desigualdades, mas o caminho não deve ser necessariamente por meio de cotas. Essa discussão, todavia, é importante, porque antes nem se tocava no assunto. Escutei outro dia algo muito positivo quando alguém dizia que deveria haver cotas para pobres. Ora, antes ninguém apresentou esse ponto de vista. O que mais me surpreende é que jamais o movimento negro se disse contrário a cotas para brancos pobres. A questão ainda está mal discutida, sendo formulada num tom passional, tanto pelos negros como pelos intelectuais. A questão não é a existência ou não das cotas. O fundamental é aumentar o contingente negro no ensino superior deboa qualidade, descobrindo os caminhos para que isso aconteça. Para mim, as cotas são uma medida transitória, para acelerar o processo. No entanto, julgo que não somente os negros, mas também os brancos pobres têm o direito às cotas. Se as cotas forem adotadas, devem ser cruzados critérios econômicos com critérios étnicos. Porque meus filhos não precisam de cotas, assim como outros negros da classe média.

ESTUDOS AVANÇADOS - O sr. iniciou suas declarações dando uma opinião contra as cotas, mas agora aponta para o problema da urgência. As cotas aparecem como uma medida de urgência?

Kabengele Munanga - Sim. Ao menos que o país diga que tem hoje uma outra proposta emergencial melhor, que não abra mão de uma política universalista com vistas ao aperfeiçoamento do nível do ensino básico. É bom lembrar que a escola pública já apresentou melhor qualidade, mas o negro e o pobre não entravam nela.Melhorar a escola pública

ESTUDOS AVANÇADOS - O sr. acha que a médio prazo a alternativa seria uma transformação mais profunda do ensino básico e secundário? Um número considerável de alunos negros faz o segundo grau em escolas públicas. Não falo deles como negros, mas sim como pobres. Será que as cotas não resolvem o problema porque o enfrentam no fim da linha, em vez de atacá-lo no começo?

Kabengele Munanga - Sim. Porém, vivo aqui há 28 anos e desde que cheguei escuto esse discurso. Mas nunca vi luta política e social alguma para a melhoria da escola pública. Só há o discurso. Mas o que fazer com a vítima? Esperar que isso aconteça por milagre, ou pressionar a sociedade através de uma proposta: como pelo menos cuidar da escola pública? A dúvida que tenho é a seguinte: num país onde a privatização do ensino é cada vez maior e no qual o lobby das escolas particulares é tão forte, só posso antever uma melhoria a longo prazo. Lembro-me de que o primeiro processo contra as propostas de cotas no Rio de Janeiro veio do sindicato das escolas privadas. Devido a essa tendência para a privatização das escolas públicas, não acredito numa rápida melhoria delas. A desigualdade social que existe há quatrocentos anos não pode ser resolvida por meio de políticas universalistas. É preciso, portanto, traçar políticas específicas para se encontrar uma solução. A discriminação racial A palavra "social" incomoda-me muito. Quando dizem que a questão do negro é uma questão social, o que quer dizer "social"? As relações de gênero são uma questão social; a discriminação contra o portador de deficiência é uma questão social; a discriminação contra o negro é uma questão social. Ora, o social tem nome e endereço. Não podemos diluir, retirar o nome, a religião e o sexo e aplicar uma solução química. O problema social tem de ser atacado especificamente. A discriminação racial precisa ser urgentemente enfrentada. Nós, negros, também temos problemas de alienação de nossa personalidade. Muitas vezes trabalhamos o problema na ponta do iceberg que é visível. Mas a base desse iceberg deixa de ser trabalhada. Estou aqui, como disse, há 28 anos. Vou a restaurantes utilizados pela classe média e a centros de alimentação nos shoppings. Encontro famílias brancas comendo (homem, mulher e filhos), mas dificilmente estão ali famílias negras. Há uma classe média negra, mas que se autodiscrimina e que é também discriminada. Desafio vocês a me dizerem que encontraram quatro famílias negras em cinco restaurantes de classe média em São Paulo. Vejamos o meu caso: em meu segundo casamento (que é interracial) percebia aquelas "olhadas" - mulher branca, filhos negros do primeiro casamento e filhos mestiços do segundo. Ninguém me expulsava desses lugares, mas eu via as "olhadas"...

ESTUDOS AVANÇADOS - A USP está completando setenta anos e gostaria que o sr. falasse sobre as principais linhas de pesquisa sobre gênero e raça na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Kabengele Munanga - Até onde eu saiba não há uma linha de pesquisa sobre gênero e raça. Há um núcleo de estudo da mulher, dirigido pela professora Eva Blay. De vez em quando ela convida alguma jovem pesquisadora negra. Talvez exista uma explicação histórica para isso, porque normalmente quem estuda esse tema são as mulheres. Mas, não temos professoras negras de sociologia ou de antropologia na Universidade de São Paulo. Entrei nela em 1980, como professor, e nunca mais houve um outro professor negro no Departamento. Lembro-me do dia em que Florestan Fernandes recebeu o título de professor emérito e eu estava na fila para cumprimentá-lo. Eu não sabia que ele me conhecia. Por isso assustei-me quando ele me disse que estava muito contente com a minha presença naquela solenidade. Pois fora informado de que ali estava um negro que nem era brasileiro. Um antropólogo em dois mundos.

ESTUDOS AVANÇADOS - O sr. poderia descrever um pouco sua trajetória até chegar no Brasil?

Kabengele Munanga - Nasci no antigo Zaire, que hoje se chama República Democrática do Congo, numa aldeia no centro do país. Estudei num colégio interno de jesuítas e fiz graduação em Antropologia. Aliás, fui o primeiro antropólogo formado naquela universidade e o único aluno que teve aulas com professores franceses, belgas e americanos convidados, pois não havia ainda professores africanos na Universidade quando eu entrei Lá, nós acabávamos a graduação com um tipo de dissertação que se chamava Mémoire. O sistema belga dava o direito de se entrar diretamente no doutorado. Em razão disso, comecei o doutorado em Louvain, na Bélgica, em 1969. Dois anos depois, voltei para pesquisas de campo. Mas houve complicações políticas. Cortaram a bolsa e não pude fazer mais nada. Por coincidência, encontrei no Congo, em 1973, o professor Fernando Mourão, que ali estava realizando palestras sobre as contribuições africanas para a cultura brasileira. Conversamos e ele me disse que a USP possuía um projeto de cooperação com as universidades africanas e que nela eu poderia completar o doutorado. Cheguei aqui em 1975 e me inscrevi no doutorado, sob a orientação do professor João Batista Borges Pereira. Como eu estava bastante adiantado, em dois anos defendi minha tese. Trabalhei sobre o processo de mudanças socioeconômicas numa comunidade no sul do Congo. Voltei correndo à militância para colocar meus conhecimentos à disposição de meu país. Mas quando cheguei lá, tive de fugir para o Brasil. Quando houve a independência do meu país, o antigo Zaire (em 30 de junho de 1960), eu estava com dezoito anos. A Faculdade foi criada pela Bélgica, seis anos antes da independência, em conseqüência de pressões internacionais. Fui alfabetizado na minha língua materna, mas no fim do primeiro grau começou o ensino em francês. O resto do curso foi em francês. Isso porque, com mais de duzentas línguas, não era possível escolher uma para ser a língua nacional. Todos os alfabetizados falam francês.

ESTUDOS AVANÇADOS - Alguma dessas línguas africanas é hegemônica?

Kabengele Munanga - O suahili que é uma língua falada em muitos países africanos, em parte do Zaire, Tanzânia, Burundi, Quênia e Uganda.

ESTUDOS AVANÇADOS - Suahili tem alguma coisa a ver com o árabe?

Kabengele Munanga - Cerca de vinte por cento do vocabulário, porque desde a Antigüidade os árabes tiveram muita influência no continente, a partir do oceano Índico, além de terem sido responsáveis pelo tráfico oriental e transaariano (entre os anos de 600-1600). Mas a estrutura da língua é totalmente bantu (africana).


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A música afro-brasileira como representação da cultura escravocrata no período colonial (século xvi – xix)

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Resumo: Este artigo busca desenvolver uma reflexão sobre a realidade social dos escravos e sua participação no processo que desencadeou a música afro-brasileira no contexto social do séc. XVI – XIX, a fim de que estes conhecimentos sejam incorporados no Ensino de História. Através de sua contribuição para o conjunto historiográfico, a pesquisa histórica e cultural, pretende intervir no processo de ensino e aprendizagem, refletindo sobre os sistemas de repressão construídos pela política colonial dominante. Mediante a análise proposta, poderemos comprovar a diversidade dos conflitos na sociedade escravista, a partir de uma realidade multifacetada expressa nesse gênero musical originada no Brasil, no período aqui mencionado. Defende-se aqui que os estudos sobre a alteridade cultural da matriz africana no ensino de história tornam-se elementos marcantes de representação do imaginário dos escravos no desejo de evocar seus costumes e tradições, além de expor a diversidade cultural afro-brasileira.

Palavras-Chave: Cultura Escravocrata – Ensino – História da música.


Abstract:This article seeks to develop a reflection on the social reality of the slaves and their participation in the process launched the African-Brazilian music in the social context of the century. XVI - XIX, so that this knowledge is incorporated into the Teaching of History. Through its contribution to the whole historiography, historical research and cultural attempt to intervene in the process of teaching and learning, reflecting on the prosecution systems built by the dominant colonial policy. Through this analysis, we demonstrate the diversity of conflicts in the slave society, from a multifaceted reality expressed in that music genre that originated in Brazilduring the period mentioned. It is argued that studies of the cultural otherness of African origin in the teaching of history become the most salient elements of the imaginary representation of slaves in the need to raise their customs and traditions, and exposed to cultural diversity African-Brazilian.

Keywords: Culture slavery - Education - History of music.


INTRODUÇÃO


Este estudo aborda a modalidade da música Afro-Brasileira, que surgiu dos movimentos herdados da sociedade escravista, decorrente da imposição criada pelo sistema colonial escravocrata. Esta música foi marcada pelo preconceito e violência da elite dominante, que se valeu de umasuposta superioridade étnica e religiosa direcionada à população indígena e aos milhares de negros que foram trazidos para o Brasil como cativos.
Os índios, que a princípio tinham uma relação amistosa, foram eliminados quando não seguiam os interesses desta elite e quando podiam trabalhar eram escravizados. Os escravos, por sua vez, foram comercializados, tratados como instrumentos de trabalho e reprodutores de outros no processo da cultura popular afro-brasileira, a partir do século XV.
Diante deste cenário, podemos relatar que as canções musicais eram expressões contidas no sentimento, sofrimento e revolta contra a sociedade dominante, que reprimia os valores e tradições de origem africana. Os africanos teriam de se adaptar às novas regras de convivência e compor os movimentos ficcionistas, tomando, por exemplo, a questão de uma raça e uma etnia formando uma marginalização de sua adversidade cultural.
Outro ponto importante que devemos mencionar é a questão das canções, melodias e letras da música afro-brasileira, que engloba os ritmos musicais, danças, religiões e outros componentes da cultura européia, representados pela comunidade colonial portuguesa, e outra música nativa, que era incorporada aos grupos de negros e mestiços que constitui hoje a cultura afro-brasileira. É dessa forma que as músicas simbolizam as histórias sócias político econômico e cultural das práticas representativas da comunidade afro-brasileira.
Neste contexto, demonstra as condições existentes nas relações sociais durante o período colonial, para disfarçar as violências sofridas pelos escravos. Estes expressavam a opressão, através das práticas representativas expressas nas atividades folclóricas e no controle da igreja que permeavam a sua vivência cotidiana.
Convém ressaltar que a igreja tentava combater os rituais musicais da cultura Afro-Brasileira, uma vez que seus atos de controle afetavam a consciência e a conduta social dos movimentos festivos. No entanto, essa hegemonia religiosa não conseguiu destruir os perfis de outras culturas tradicionais, como no caso da criação das irmandades religiosas que buscam separar a igreja da elite branca e a dos escravos. Criou-se assim o sincretismo, difundindo-se a fusão da igreja católica cristã com a religião pagã dos escravos. Emergiu, dessa forma, o candomblé e outras expressões próprias dos negros.
A partir do século XVII surgem as expressões, mas vivas da tradição musica negra, a exemplo do lundu, que se desdobrará em outros ritmos, tais como o samba, maxixe, a polca, e assim sucessivamente. Nesse processo, a música Afro-Brasileira chega na segunda metade do século XIX, com as inovações decorrentes do desenvolvimento econômico, social, político e cultural. A música é percebida através de outras visões, especialmente quando as tendências desse processo de ruptura criam uma nova roupagem das expressões culturais que vai se fixar no século XX.
Decorrentes dessa importância social podem inserir a música afro-brasileira nos parâmetros dos currículos escolares do ensino de história, propondo a divulgação da diversidade das tradições culturais Afro-Brasileiras. Analisando-se a música no contexto da sociedade escravista colonial, buscamos refletir sobre a situação que originou os conflitos existentes, que incidem nos movimentos reacionários de dominação imposta pela sociedade.
Esta música de raiz negra retrata um momento em que a cultura de um povo foi submetida a inúmeras formas de violência, mas que na expressão de sua identidade deu forma e voz aos escravos como mecanismos de resistência social.

1. ADMINISTRAÇÃO E ESTRUTURA DA SOCIEDADE ESCRAVOCRATA NO PERÍODO DE DOMINAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL


A expedição comandada por Martin Afonso de Sousa, em 1531, tornou um marco à administração colonial portuguesa no Brasil, com a instalação do primeiro engenho da capitania de São Vicente. Com essa medida, efetuou-se a implementação do sistema colonial de orientação mercantilista. Através dessa intervenção, produziu-se no Brasil a organização administrativa, com demandas de investimentos capazes de fomentar a base de uma empresa essencialmente agrícola, voltada para atender às necessidades desse tipo de exploração com vistas à acumulação de riquezas e do lucro rápido.
O funcionamento dessa política de conotação absolutista presente na Europa foi caracterizada pela total concentração de poderes na mão do rei. Na colônia, o rei era representado por funcionários metropolitanos que recebiam plenos poderes para agir segundo os interesses da metrópole portuguesa.
Essa transferência de poderes resultou na concentração de riquezas nas mãos dos proprietários de terra, que desenvolviam também a exploração do trabalho (principalmente, o da forma compulsória de escravidão). Por essas medidas, foi permitida a existência do latifúndio improdutivo neste contexto histórico e de outras riquezas naturais na produção agrícola em larga escala destinada ao mercado externo. A montagem dessa estrutura fez surgir uma classe dominante aristocrática que dominava a administração brasileira.
A sociedade formada nessa constituição apresentava alguns aspectos específicos em algumas regiões. Entretanto, o fator predominante era o patriarcalismo, onde a família e as pessoas que viviam nas terras de um proprietário eram posses dos senhores do engenho. Como salienta Freire (2004):

... A influência africana fervendo sob a européia e dando um acre à vida, sexual, à alimentação, a religião; o sangue do negro correndo por uma população brancarana, quando não predominando em regiões; Ainda hoje de gente escura; o ar da áfrica, um ar quente, oleoso, amolecendo nas instituições e nas formas de cultura. (FREIRE, 2004, p. 66).


Criada pelas relações de convivências simples, típicas do espaço rural, combinado com a agricultura, a miscigenação, a regularidade por meio da escravidão, foi incorporada ao sistema político dominante. Esse autoritarismo foi acentuado na produção canavieira, onde o latifúndio destinado à produção se sobressaia ao poder da autoridade local, que tinha nas vilas os seus representantes. Além da autoridade aristocrática existia também o poder da Igreja católica, que exercia seu autoritarismo sobre as pessoas. A conjuntura econômica da exploração colonial era vivenciada numa sociedade onde a elite era amparada pelas concepções científicas que difundiam uma ideologia preconceituosa para justificar a exploração dos negros, que eram, na verdade, considerados seres “incapazes” e “dependentes”.
Reforçando essa minha inferição, reportume-me a Flávio de Campos; Lídia Aguilar; Regina Claro e Renan Garcia Miranda, no livro didático apresentado em “O Jogo da História: de corpo na América e de alma na África”, no qual chama-nos atenção para o fato de indica que:

[...] Na base, a imensa maioria era composta por escravos. Logo a seguir vinha um pequeno grupo formado por artesãos, pequenos proprietários de terras, homens livres pobres e escravos. No topo figuravam os grandes senhores de engenho e as autoridades coloniais e eclesiásticas. A sociedade mineradora também tinha uma grande massa de escravos em sua base. No entanto, os grupos intermediários eram mais complexos e numerosos. Logo acima dos escravos estavam os homens livres pobres, em geral mulatos ou libertos, que se dedicavam a serviços ocasionais ou participavam das milícias organizadas pelas autoridades metropolitanas. Na camada seguinte encontravam-se os artesãos, os comerciantes, os profissionais liberais, os representantes do clero e os funcionários da administração colonial. No topo estavam os grandes mineradores e as autoridades coloniais. (CAMPOS, 2002, p. 112 – 113)

É neste contexto que a Igreja católica deu sua contribuição, afirmando a conversão da população africana escrita pela exploração escrava perante o cristianismo. Junto das idéias cristãs e da autoridade administrativa representada pela elite agrária, desenvolveu-se o domínio dos escravos como produto da economia colonial mercantilista, ou seja, foi enfatizada pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850 do século XIX com o fim do tráfico dos escravos; a Lei do Ventre Livre em 1871 do século XIX e a Lei dos Sexagenários de 1886 do século XIX, que foram aprovadas pelo fim da escravidão no Brasil.
Cabe destacar ainda, que a assinatura da Lei Áurea, em 1888, foi mencionada como um sistema de mecanismos para a utilização pela cultura superior [“elite”], isto é com a meta de desfazer a mobilização das revoltas escravas e as próprias organizações que os apoiavam nesta última década da escravidão, mas haviam atingido pelo nível de mobilização que a introdução dos imigrantes, principalmente na lavoura cafeeira, que foi a base fundamental para desfazer esse movimento abolicionista. Na mesma linha de raciocínio, esses acontecimentos procuram apresentar que após os imigrantes, que conseguiram se organizar, estruturar essas sociedades clássicas, a partir deste rompimento com o processo historiográfico da república velha, da espada e o início da política social, cultura do governo Vargas em 1930 para o Brasil. Arantes (1992) explica:

A diferenciação das condições materiais de existência no interior de uma sociedade, entretanto, própria a formação de subgrupos especializados e acarreta a produção de conteúdos culturais constituído das especificidade de cada um deles frente aos demais(...), faz compreender o movimento ritimística dos cânticos, numa mistura da religião católica com rituais africana, a origem de várias expressões presente nos presentes nos diferentes cultos afro-brasileiros (ARANTES, 1992, p. 42).


2. AS IMPLEMENTAÇÕES DAS TRADIÇÕES DE MATRRIZ AFRICANAS AGREGADAS A NOVOS VALORES SÓCIOS CULTURAIS NO BRASIL

O fato de conviver num ambiente hostil e de complexas relações sociais, os negros foram sufocados pelas condições que os negros tinham em seus países de origem. Aqui, tiveram de se adaptar e aceitar e exigências e imposições determinadas pelo sistema político dominante. Em razão disso, foi criada a concepção escravista que irá influenciar os grupos humanos numa confluência étnica e racial típica da sociedade colonial da época. Dessa mistura de culturas brancas e negras, surgiram hábitos e costumes agregados à identidade étnica. Sejam na forma de culinária, danças, linguagem, música, religião, entre outras expressões.
È nas festas que as adversidades culturais dos escravos, suas representações, seus gestos são associados aos já existentes, originando costumes e músicas típicas dos movimentos, numa forma de resistência e afirmação de suas identidades. Desses movimentos sobressaiu o que comumente conhecemos como cultura popular. Com características próprias de cada região do Brasil, estas expressões foram se desenvolvendo de acordo com as realidades econômicas de cada uma. Os principais núcleos rurais que se destacaram como difusores dessa dinâmica foram regiões que englobam o Rio de Janeiro, Pernambuco e Salvador, consideradas centros irradiadores de produção sócio-cultural.
A possibilidade de poder agregar elementos novos, tais como os costumes e crenças que carregavam de seus antepassados, tornou viável para o cativo uma readaptação às exigências impostas pelo repressivo sistema escravista vigente. Essa tomada de decisão é reflexo da própria imagem que os negros passaram a ter a partir do momento em que foram inseridos num mundo completamente diferente do seu. A música passa a ser fundamental nesse processo, como explica Ferreira (2009):

Na cultura africana, a música está vinculada ao cotidiano do trabalho, da religião e do entretenimento. Para o africano a música não é um luxo, mas um modo de vida, presente do nascimento à morte, do plantio à colheita. Atividade rotineira como caça, pesca, preparação de alimento são invariavelmente realizadas ao som de músicas. (FERREIRA, 2009, p. 5).


Dessa forma, a música e outros gêneros de movimentos da cultura africana vieram acalentar o impacto causado pela nova realidade. Subjugados, os escravos lutaram para manter vivos seus ritos e tradições, transmitidos através dos conhecimentos das expressões culturais trazidas dos diferentes grupos e de regiões em que viviam no continente africano. Como essa música afro pode ser instrumento cultural, auxiliando no ensino de História?
Assim, o movimento cultural desenvolvido pelos escravos em meados do século XVI ao início do século XIX, foi marcado pela música, que representou a produção coletiva dos grupos presentes na sociedade colonial brasileira. Os escravos, ao perceber em suas condições, se envolveram nestes movimentos na esperança de criar um ambiente agradável, contrapondo-se as sujeições impostas pela elite dominante, a fim de manter viva as tradições da matriz africana no Brasil de seus países de origens.
Em concordância com Antônio Augusto: “aquilo que se considerar como vigência do plena do passado, só pode ser interpretado, no presente como curiosidade”(PINSKY, 1998, p.18). O processo histórico em que se desenvolveu a música Afro-Brasileira, revelaria para os escravos uma maneira de preservar suas tradições e um símbolo de libertação que pode ser percebido nas letras desse gênero musical, o que nos levou a problematizar essa questão.
Os conflitos existentes no interior da sociedade colonial brasileira, envolvendo principalmente os escravos, decorriam das repressões impostas pela elite dominante aos movimentos culturais da música Afro-Brasileira, que era proibida, segundo o discurso da época, que aceitavam tais manifestações porque contradiziam o código de postura vigente. Isso constituía o discurso ideológico da época, que orientava os interesses dominantes, representados pela administração política e religiosa de valorização dos costumes e controle social.
Os negros, ainda que sujeitos a um tratamento desumano herdado da antiguidade, e enfrentando em seu cotidiano formas de violência tais como: pena de morte, longas jornadas de trabalho, estupros, alimentação deficiente, entre outras, práticas desumanas comuns às condições impostas, estas, de alguma forma, despertaram conscientemente a concepção de raça e identidade de um grupo étnico inserido num ambiente hostil aos seus costumes e valores, conforme Arantes (1990). Salienta:

Essa diversidade, que se desenvolve em processos histórico múltiplos e o lugar da “cultura”, uma vez que, sendo em grande medida autoritária é convencional, ela constitui os diversos núcleos e identidade e de vários agrupamento humanos, ao mesmo tempo que os diferencia um dos outros...(ARANTES, 1990, p. 26).


Neste sentido, entende-se a produção histórica e social de grupos descendentes de escravos, como de povos que antes de serem introduzidos como mercadoria especifica do sistema político colonial, viviam num continente diferente, sendo que cada um, com suas organizações culturais e particularidades lingüísticas, conferem as distinções desses grupos, através dos movimentos africanos de outros povos.
No complexo processo no qual foi desenvolvida a música de origem africana, na sociedade colonial brasileira, caracterizava-se como hegemônica a estrutura étnica e religiosa, uma vez que os costumes da população branca de tradução européia misturavam-se às das classes populares negras e mestiças porém com interesses comuns.
É, em meio a essas divergências, que a música despontará, mesmo que de forma tímida, pois era proibida e tida como sedução aos movimentos populares. O lundu surge assim como gênero de dança e música rítmica que servirá como viés às vertentes da música popular brasileira. Conforme Montari (2001):

origem nos batuques dos negros que aqui chegaram como escravo. Da mesma forma que aconteceu com o blues e o ragtime, na música norte americana, o lundu e a modinha vão se associar as outras influências, advinda da musica européia, para dar origem a música brasileira que atravessou o século XX. (MONTARI, 2001, P.77).



No início do século XIX, a música passa a ganhar novas conotações, decorrentes das transformações advindas da transferência da corte portuguesas para o Brasil. Cria-se um ambiente com novas paisagens e costumes decorrentes das migrações, como explica Davis (2001): “... amplas mudanças nos valores culturais enfraqueceram as justificativas religiosas e filosóficas da escravidão. Todavia, as próprias tendências do pensamento que enfraqueceram as sanções bíblicas e históricas também ampliaram a importância das características mentais e físicas do homem”.(DAVIS, 2001, p. 493).
Diante do exposto, observamos que a prática educativa no ensino de história enfatiza a necessidade de uma reflexão sobre os pressupostos metodológicos para uns ensinos curiosos, atraentes, eficazes e que seja capaz de instruir o aluno para que desenvolva um entendimento eficaz à compreensão do mundo, atentando-se para as suas decorrentes transformações. Como reforça Cabrini (2000): “A tônica marcante é investigar na perspectiva de uma mudança de mentalidade quanto ao ensino-aprendizagem”.(CABRINI, 2000, p.14).
Essas mudanças acontecem principalmente no ambiente escolar que não se restringe a um espaço de aprendizagem, mas de integração de diferentes atores que interagem para a produção de conhecimentos, sem esquecer de que sua realidade social é resultado de um longo e contraditório processo histórico. A temática da escravidão negra apresenta diversos subsídios para uma reflexão.
Entre eles, a música Afro-Brasileira é colocada como sendo capaz de desenvolver nos alunos a sistematização do conhecimento e por seu intermédio podem ser desempenhadas diferentes diretrizes para os fatos decorrentes de um mesmo processo histórico, tornando-se viável a articulação com o conhecimento produzido. A música de origem africana, inserida no contexto histórico da sociedade brasileira durante o período colonial, possibilita a compreensão dos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais desse momento histórico.
Para o ensino de História, o uso da música Afro-Brasileira se insere como proposta metodológica para a prática docente, condizente com o objetivo maior do reconhecimento da cultura afro-brasileira, uma exigência da Lei n° 10.639/2003. Esta Lei dispõe que sejam incluídos nos currículos do ensino básico e superior, conteúdos que contemplem a história da África e dos africanos, bem como suas lutas e sua contribuição para o Brasil.
Em conseqüência disto, fica evidente a relevância histórica que envolve os povos africanos, em amplas situações de ensino, que pode ser colocada no ambiente educativo como troca de experiência e reforço da aprendizagem. Assim, prática educativa precisa criar novas situações que visem à pesquisa nessa direção, de forma que sejam orientadas por valores, visões de mundo e experiências sem qualquer tipo de preconceito étnico racial.
O ensino de história propicia fontes e recursos metodológicos que geram alavancas para caminhos a serem trilhados no processo de conhecimento, fator fundamental para a prática docente. CABRINI (2000) sugere: tratar um conteúdo vinculado à realidade do aluno permitirá mais facilmente se chegar com ele ao conhecimento concreto do objeto, à sua descoberta, ou seja, aprendê-lo seu movimento, em suas contradições.”(CABRINI, 2000, p. 54).
Conforme o exposto, a prática educativa no ensino de história assegura diversas concepções sobre o conhecimento humano e seu espaço é uma construção intelectual, onde professores e alunos fazem parte desse processo dinâmico. Por essa perspectiva, abre-se a possibilidade de se poder interferir nas relações sociais futuras ou posteriores, tornando possível atribuir conceitos teórico-metodológicos em que são dados os conflitos étnicos, políticos, econômicos e religiosos existentes na sociedade a partir de sua reflexão no ambiente educativo.
Isso significa contribuir para o ensino, de forma a permitir o desenvolvimento de trabalhos que facilitem a constituição de conhecimentos mais consistentes, profundos, articulados com as experiências humanas e que visem um diálogo reflexivo com as diversidades inerentes ao contexto social. Conceitos relacionados ao tema cultura, como o que está proposto aqui, reflete o contexto histórico da cultura popular brasileira.
Possibilitaremos, assim, novas acepções e a criação de novas abordagens que envolvam a temática, seguindo os pressupostos dos parâmetros curriculares, que: “podem ser usados para aprofundar questões históricas, instigar debates, analisar representações artísticas de época, confrontar, pontos de vistas, diferenciar abordagens históricas, resumir temas, estudo, explicar definições históricas para conceitos etc.”(BRASIL, 2001, p. 81).
Nesse sentido, estudar a música afro-brasileira é justificável para, sobretudo, difundir sua importância na sociedade e resgatar os processos que a geraram, ajudando a construir a identidade negra e cultural do país.

3. ALGUNS PRESSUPOSTOS BÁSICOS QUE PERMEIAM A PRÁTICA EDUCATIVA NO ENSINO DE HISTÓRIA

Por se constituir num documento histórico, onde são encontrados registros que nos levam a apreender uma viagem sobre o passado e a interagir com áreas afins do conhecimento humano, poderemos inserir a pesquisa em novos contextos, atribuindo-lhe novas abordagens sobre o conhecimento humano. Concernente ao exposto, torna-se evidente a pesquisa com fontes bibliográficas como recurso histórico metodológico.
Conforme sugere o texto oficial: “o documento histórico adquire outra amplitude no trabalho do historiador. São utilizadas outras fontes de pesquisa históricas relacionadas à preocupação de se estudar outras dimensões da vida social”. (BRASIL, 2001, p. 84). De acordo com os parâmetros curriculares nacionais, os registros de fontes escritas podem ser considerados um documento e um achado arqueológico que podem tomar outros rumos no desenvolvimento da pesquisa.
Os estudos científicos requerem o cuidado para não incorrer sobre a “veracidade” dos fatos registrados nos documentos e estes eram tidos como verdades absolutas, onde os conhecimentos eram consolidados sem interferência exterior, ou seja, não eram questionados. Sobre os parâmetros curriculares, “Durante algum tempo, principalmente para os historiadores de inspiração positivista do século XIX e início do XX, o documento significara a idéia de testemunho escrito, comprovação, de provas sobre os acontecimentos do passado...”. (BRASIL, 2001, p. 84).
Conforme o exposto, os estudos historiográficos passaram por um longo processo de reavaliação na pesquisa histórica, permitindo o diálogo com outras ciências sociais. Por essas perspectivas, é destacado aqui o auxílio oferecido pelas fontes bibliográficas, principalmente as que abordam os conceitos pertinentes ao imenso campo de investigação da pesquisa da história cultural, que, por sua vez, está voltada para a dimensão da cultura popular.

3.1. CONSIDERAÇÕES REFLEXISIVAS TEÓRICO METODOLÓGICO SOBRE AS DISCUSSÕES INTERPRETATIVAS DA MÚSICA AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO DE HISTÓRIA

No que se refere às diretrizes para o levantamento da pesquisa, pretende-se seguir os fundamentos teóricos das representações das atividades culturais dos grupos étnicos que geraram a temática da música afro-brasileira, a partir de análises da produção do conhecimento histórico, inseridas na produção da música de origem escrava e os processos a que foi submetida num eixo que se coloca:

[...] Para além dos sujeitos e agências que produzem a cultura, estuda-se os meios através dos quais esta se produz e se transmite: as práticas e os processos. Por fim, a matéria-prima’ cultural propriamente dita (os padrões que estão por trás dos objetos culturais produzidos): os sistema de valores, os sistemas normativos que constrangem os indivíduos, os ‘modos de vida’ relacionados aos vários sociais, relacionados as concepções relativa a esses vários grupos sociais [...]. (BARROS, 2004, P. 61).

O desencadeamento da música Afro-Brasileira como sua produção cultural herdada das tradições étnicas do continente africano e situá-las como fonte metodológica para o Ensino de História, uma vez que estudar o uso dos costumes representa também conhecer as principais características de uma sociedade.
Seguindo a mesma linha do autor supracitado, Barros (2004), que faz uma explanação do conhecimento nos vários eixos da história que, segundo ele, estão situadas várias áreas de interesses e abordagens que compõem o campo de pesquisa das ciências sociais da historiografia, que concernem aos estudos culturais sobre as questões que permeiam os diferentes interesses que envolvem a música afro-brasileira e ao seu reflexo no Ensino de História.
Assimilando algumas propostas presentes nos relatos de Conceição Cabrini e nos Parâmetros Curriculares Nacionais podemos destacar as possibilidades que os textos oficiais apresentam sobre diferentes idéias curriculares para o ensino de história. A prática docente surge para propor novas abordagens interdisciplinares para o currículo escolar de história, dinamizando o processo de ensino e da aprendizagem.
Escolhemos referências direcionadas à pesquisa sobre história do Brasil nos séculos XVI-XIX, serviram como apoio ao trabalho de Jaime Pinsky e Davis Brion, que fazem uma crítica das condições vivenciadas pelos escravos mesmo antes de sua introdução no início da colonização brasileira. Na mesma proporção, foi citado Gilberto Freire em sua obra intitulada em “Casa Grande & Senzala”, mostrando algumas implicações sobre as relações de convivência social e as idéias de dominação, tratando da situação dos escravos num contexto de interação étnico e racial.
Dando continuidade às questões que envolvem a escravidão, as convivências e os conflitos inseridos neste processo, Valdir Montinari, na bibliografia “O que é Cultura Popular”, aborda as relações de domínio sobre os bens culturais, referenciadas como prática representativa de um determinado grupo social, manifestações culturais, tais como as práticas de um povo representando domínio, sua identidade, o espaço identificando as origens. A obra reflete bem sobre alguns pontos levantados sobre a influência africana, a exemplo da música afro-brasileira como sendo conhecimento de um povo.
No que se referem à música, os relatos desses autores que fazendo em um apanhado histórico sobre o processo gerador dos movimentos, que recai sobre os diferentes estilos da música popular brasileira, assim, Joana D’Arc e José Roberto enfocam o histórico da música de origem africana. Nesse artigo, ambos trabalham os principais fatores determinantes que envolveram a produção da música.
Para isso, destacam as tradições, costumes, crenças, entre outros movimentos que representam as manifestações da cultura popular nas organizações dos grupos étnicos do continente africano, até serem introduzidos no início da colonização no Brasil. Dos movimentos surgidos nesse contexto histórico, ambos os autores destacam o samba como identidade nacional, representação da cultura popular brasileira.
Nesse sentido, com o apoio dessas referências teóricas, pretendemos estudar a música afro-brasileira e mostrar sua importância para contexto do ensino de História, dinamizando suas formas de apreensão e compreensão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo da cultura afro-brasileira e africana revela os direitos legais de valorização da identidade, cultura, história que privilegia educação das relações étnico-raciais. Por essas medidas, foi permitida a realização da pesquisa que se deu através de uma análise reflexiva sobre a música afro-brasileira, percebendo como seus reflexos incidem no Ensino de História, em consonância com a concepção que perpassa o processo metodológico de ensino e aprendizagem.
Portanto, foi necessária uma abordagem acerca dos acontecimentos históricos, da origem africana que se desenvolveu no contexto da escravidão no Brasil, bem como das questões que desencadearam esta trama da história que mesmo tendo acontecido há quase cinco séculos, continua presente na identidade da cultura popular brasileira.
Para viabilizar a pesquisa que versa sobre o conhecimento “historiográfico” sobre a história cultural foi empreendida uma investigação histórica no sentido de conhecer a produção do conhecimento existente sobre o tema abordado.
A idéia que procurei defender nesse estudo dar ênfase à música Afro-Brasileira no Ensino de História percebeu-se sua importância bem como seus reflexos incidem métodos educativos, em consonância com a concepção que perpassa o processo metodológico de ensino e aprendizagem na disciplina de História.
Portanto, desenvolveu-se uma abordagem acerca dos acontecimentos históricos, da origem africana que se desenvolveu no contexto da escravidão no Brasil, bem como das questões que desencadearam esta trama da história que mesmo tendo acontecido há quase cinco séculos, continua presente na identidade da cultura popular brasileira.
Para viabilizar a pesquisa que versa sobre o conhecimento “historiográfico” sobre a história cultural foi empreendida uma investigação histórica no sentido de conhecer a produção do conhecimento existente sobre o tema aqui abordado.
Contudo, é preciso elucidar que a importância da temática música afro-brasileiro no meio acadêmico e nos processos didáticos que visem novos métodos educativos no ensino e aprendizagem fará com que esta problemática seja mais do que um desdobramento de categorias acima referidas e se consubstancie em um outro movimento de suma importância nos debates educacionais.
Esse movimento esta relacionada com uma dinâmica de focalização dos valores históricos e culturais dos grupos étnicos de afros-descendentes, que se apresenta nitidamente no Brasil, a partir da introdução da escravidão colonial. A valorização das idéias contidas na modalidade da música afro implica o reconhecimento dessa categoria capaz de detectar e reprimir preconceitos étnicos raciais.
Sob a orientação dessa valorização no Ensino de História, a composição dos grupos afros-descendentes passará a ser objeto de atenção dos sujeitos envolvidos, direta ou indiretamente com o compromisso sócio educacional.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICA


• ARANTES. Antônio Augusto. O que é cultura popular.3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.

• BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. 3 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

• BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história. Brasília: MEC, 2001.

• CABRINI, Conceição et al. Ensino de história: revisão urgente. São Paulo: EDUC, 2000.

• DAVIS, David Brion de. O problema a escravidão na cultura ocidental. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
• FERREIRA, Joana D’Arc A. GALDÊNIO, José Roberto de Vasconcelos. UMA MÚSICA Afro-Brasileira: a samba da representação a símbolo da identidade nacional. Disponível em: http:/ www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/. Acesso em 14/ 06/ 2009.

• Flávio de Campos; Lídia Aguilar; Regina Claro e Renan Garcia Miranda. O Jogo da História: de corpo na América e de alma na África, São Paulo, Moderna, 2002, p. 112-3 (volume para 6ª série).

• FREIRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 94 ed. São Paulo: Global, 2004.

• MONTINARI, Valdir. História da Música: da idade da pedra a idade do Rock. São Paulo: Ática, 2001.

• PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. 16 ed. São Paulo: Contexto, 1998.
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[1]Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e Graduando em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.

Perfil e Links: Luciano Bezerra Agra Filho, filho de pais paraibanos, nasceu no dia 02 de Agosto de 1976 em Campina Grande/PB. Iniciou-se o curso de Licenciatura Plena em História em 1999/2 e terminou em 2003/2. Tenho uma publicação na Revista virtual de História - Ano VI - Edição 27 - Janeiro - Março de 2006.[http://www.klepsidra.net/novaklepsidra.html], cujo o título do artigo: A política historiográfica paraibana - 1930/1945: seqüência ou rompimento? Ultimamente estou lecionando na área educacional e tenho artigos em http://lucianoagra.blogspot.com/



Leia materia completa: A música afro-brasileira como representação da cultura escravocrata no período colonial (século xvi – xix): Uma abordagem viável no ensino de história - Portal Geledés

A música afro-brasileira como representação da cultura escravocrata no período colonial (século xvi – xix)

Leia materia completa: A música afro-brasileira como representação da cultura escravocrata no período colonial (século xvi – xix): Uma abordagem viável no ensino de história - Portal Geledés

Resumo: Este artigo busca desenvolver uma reflexão sobre a realidade social dos escravos e sua participação no processo que desencadeou a música afro-brasileira no contexto social do séc. XVI – XIX, a fim de que estes conhecimentos sejam incorporados no Ensino de História. Através de sua contribuição para o conjunto historiográfico, a pesquisa histórica e cultural, pretende intervir no processo de ensino e aprendizagem, refletindo sobre os sistemas de repressão construídos pela política colonial dominante. Mediante a análise proposta, poderemos comprovar a diversidade dos conflitos na sociedade escravista, a partir de uma realidade multifacetada expressa nesse gênero musical originada no Brasil, no período aqui mencionado. Defende-se aqui que os estudos sobre a alteridade cultural da matriz africana no ensino de história tornam-se elementos marcantes de representação do imaginário dos escravos no desejo de evocar seus costumes e tradições, além de expor a diversidade cultural afro-brasileira.

Palavras-Chave: Cultura Escravocrata – Ensino – História da música.


Abstract:This article seeks to develop a reflection on the social reality of the slaves and their participation in the process launched the African-Brazilian music in the social context of the century. XVI - XIX, so that this knowledge is incorporated into the Teaching of History. Through its contribution to the whole historiography, historical research and cultural attempt to intervene in the process of teaching and learning, reflecting on the prosecution systems built by the dominant colonial policy. Through this analysis, we demonstrate the diversity of conflicts in the slave society, from a multifaceted reality expressed in that music genre that originated in Brazilduring the period mentioned. It is argued that studies of the cultural otherness of African origin in the teaching of history become the most salient elements of the imaginary representation of slaves in the need to raise their customs and traditions, and exposed to cultural diversity African-Brazilian.

Keywords: Culture slavery - Education - History of music.


INTRODUÇÃO


Este estudo aborda a modalidade da música Afro-Brasileira, que surgiu dos movimentos herdados da sociedade escravista, decorrente da imposição criada pelo sistema colonial escravocrata. Esta música foi marcada pelo preconceito e violência da elite dominante, que se valeu de umasuposta superioridade étnica e religiosa direcionada à população indígena e aos milhares de negros que foram trazidos para o Brasil como cativos.
Os índios, que a princípio tinham uma relação amistosa, foram eliminados quando não seguiam os interesses desta elite e quando podiam trabalhar eram escravizados. Os escravos, por sua vez, foram comercializados, tratados como instrumentos de trabalho e reprodutores de outros no processo da cultura popular afro-brasileira, a partir do século XV.
Diante deste cenário, podemos relatar que as canções musicais eram expressões contidas no sentimento, sofrimento e revolta contra a sociedade dominante, que reprimia os valores e tradições de origem africana. Os africanos teriam de se adaptar às novas regras de convivência e compor os movimentos ficcionistas, tomando, por exemplo, a questão de uma raça e uma etnia formando uma marginalização de sua adversidade cultural.
Outro ponto importante que devemos mencionar é a questão das canções, melodias e letras da música afro-brasileira, que engloba os ritmos musicais, danças, religiões e outros componentes da cultura européia, representados pela comunidade colonial portuguesa, e outra música nativa, que era incorporada aos grupos de negros e mestiços que constitui hoje a cultura afro-brasileira. É dessa forma que as músicas simbolizam as histórias sócias político econômico e cultural das práticas representativas da comunidade afro-brasileira.
Neste contexto, demonstra as condições existentes nas relações sociais durante o período colonial, para disfarçar as violências sofridas pelos escravos. Estes expressavam a opressão, através das práticas representativas expressas nas atividades folclóricas e no controle da igreja que permeavam a sua vivência cotidiana.
Convém ressaltar que a igreja tentava combater os rituais musicais da cultura Afro-Brasileira, uma vez que seus atos de controle afetavam a consciência e a conduta social dos movimentos festivos. No entanto, essa hegemonia religiosa não conseguiu destruir os perfis de outras culturas tradicionais, como no caso da criação das irmandades religiosas que buscam separar a igreja da elite branca e a dos escravos. Criou-se assim o sincretismo, difundindo-se a fusão da igreja católica cristã com a religião pagã dos escravos. Emergiu, dessa forma, o candomblé e outras expressões próprias dos negros.
A partir do século XVII surgem as expressões, mas vivas da tradição musica negra, a exemplo do lundu, que se desdobrará em outros ritmos, tais como o samba, maxixe, a polca, e assim sucessivamente. Nesse processo, a música Afro-Brasileira chega na segunda metade do século XIX, com as inovações decorrentes do desenvolvimento econômico, social, político e cultural. A música é percebida através de outras visões, especialmente quando as tendências desse processo de ruptura criam uma nova roupagem das expressões culturais que vai se fixar no século XX.
Decorrentes dessa importância social podem inserir a música afro-brasileira nos parâmetros dos currículos escolares do ensino de história, propondo a divulgação da diversidade das tradições culturais Afro-Brasileiras. Analisando-se a música no contexto da sociedade escravista colonial, buscamos refletir sobre a situação que originou os conflitos existentes, que incidem nos movimentos reacionários de dominação imposta pela sociedade.
Esta música de raiz negra retrata um momento em que a cultura de um povo foi submetida a inúmeras formas de violência, mas que na expressão de sua identidade deu forma e voz aos escravos como mecanismos de resistência social.

1. ADMINISTRAÇÃO E ESTRUTURA DA SOCIEDADE ESCRAVOCRATA NO PERÍODO DE DOMINAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL


A expedição comandada por Martin Afonso de Sousa, em 1531, tornou um marco à administração colonial portuguesa no Brasil, com a instalação do primeiro engenho da capitania de São Vicente. Com essa medida, efetuou-se a implementação do sistema colonial de orientação mercantilista. Através dessa intervenção, produziu-se no Brasil a organização administrativa, com demandas de investimentos capazes de fomentar a base de uma empresa essencialmente agrícola, voltada para atender às necessidades desse tipo de exploração com vistas à acumulação de riquezas e do lucro rápido.
O funcionamento dessa política de conotação absolutista presente na Europa foi caracterizada pela total concentração de poderes na mão do rei. Na colônia, o rei era representado por funcionários metropolitanos que recebiam plenos poderes para agir segundo os interesses da metrópole portuguesa.
Essa transferência de poderes resultou na concentração de riquezas nas mãos dos proprietários de terra, que desenvolviam também a exploração do trabalho (principalmente, o da forma compulsória de escravidão). Por essas medidas, foi permitida a existência do latifúndio improdutivo neste contexto histórico e de outras riquezas naturais na produção agrícola em larga escala destinada ao mercado externo. A montagem dessa estrutura fez surgir uma classe dominante aristocrática que dominava a administração brasileira.
A sociedade formada nessa constituição apresentava alguns aspectos específicos em algumas regiões. Entretanto, o fator predominante era o patriarcalismo, onde a família e as pessoas que viviam nas terras de um proprietário eram posses dos senhores do engenho. Como salienta Freire (2004):

... A influência africana fervendo sob a européia e dando um acre à vida, sexual, à alimentação, a religião; o sangue do negro correndo por uma população brancarana, quando não predominando em regiões; Ainda hoje de gente escura; o ar da áfrica, um ar quente, oleoso, amolecendo nas instituições e nas formas de cultura. (FREIRE, 2004, p. 66).


Criada pelas relações de convivências simples, típicas do espaço rural, combinado com a agricultura, a miscigenação, a regularidade por meio da escravidão, foi incorporada ao sistema político dominante. Esse autoritarismo foi acentuado na produção canavieira, onde o latifúndio destinado à produção se sobressaia ao poder da autoridade local, que tinha nas vilas os seus representantes. Além da autoridade aristocrática existia também o poder da Igreja católica, que exercia seu autoritarismo sobre as pessoas. A conjuntura econômica da exploração colonial era vivenciada numa sociedade onde a elite era amparada pelas concepções científicas que difundiam uma ideologia preconceituosa para justificar a exploração dos negros, que eram, na verdade, considerados seres “incapazes” e “dependentes”.
Reforçando essa minha inferição, reportume-me a Flávio de Campos; Lídia Aguilar; Regina Claro e Renan Garcia Miranda, no livro didático apresentado em “O Jogo da História: de corpo na América e de alma na África”, no qual chama-nos atenção para o fato de indica que:

[...] Na base, a imensa maioria era composta por escravos. Logo a seguir vinha um pequeno grupo formado por artesãos, pequenos proprietários de terras, homens livres pobres e escravos. No topo figuravam os grandes senhores de engenho e as autoridades coloniais e eclesiásticas. A sociedade mineradora também tinha uma grande massa de escravos em sua base. No entanto, os grupos intermediários eram mais complexos e numerosos. Logo acima dos escravos estavam os homens livres pobres, em geral mulatos ou libertos, que se dedicavam a serviços ocasionais ou participavam das milícias organizadas pelas autoridades metropolitanas. Na camada seguinte encontravam-se os artesãos, os comerciantes, os profissionais liberais, os representantes do clero e os funcionários da administração colonial. No topo estavam os grandes mineradores e as autoridades coloniais. (CAMPOS, 2002, p. 112 – 113)

É neste contexto que a Igreja católica deu sua contribuição, afirmando a conversão da população africana escrita pela exploração escrava perante o cristianismo. Junto das idéias cristãs e da autoridade administrativa representada pela elite agrária, desenvolveu-se o domínio dos escravos como produto da economia colonial mercantilista, ou seja, foi enfatizada pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850 do século XIX com o fim do tráfico dos escravos; a Lei do Ventre Livre em 1871 do século XIX e a Lei dos Sexagenários de 1886 do século XIX, que foram aprovadas pelo fim da escravidão no Brasil.
Cabe destacar ainda, que a assinatura da Lei Áurea, em 1888, foi mencionada como um sistema de mecanismos para a utilização pela cultura superior [“elite”], isto é com a meta de desfazer a mobilização das revoltas escravas e as próprias organizações que os apoiavam nesta última década da escravidão, mas haviam atingido pelo nível de mobilização que a introdução dos imigrantes, principalmente na lavoura cafeeira, que foi a base fundamental para desfazer esse movimento abolicionista. Na mesma linha de raciocínio, esses acontecimentos procuram apresentar que após os imigrantes, que conseguiram se organizar, estruturar essas sociedades clássicas, a partir deste rompimento com o processo historiográfico da república velha, da espada e o início da política social, cultura do governo Vargas em 1930 para o Brasil. Arantes (1992) explica:

A diferenciação das condições materiais de existência no interior de uma sociedade, entretanto, própria a formação de subgrupos especializados e acarreta a produção de conteúdos culturais constituído das especificidade de cada um deles frente aos demais(...), faz compreender o movimento ritimística dos cânticos, numa mistura da religião católica com rituais africana, a origem de várias expressões presente nos presentes nos diferentes cultos afro-brasileiros (ARANTES, 1992, p. 42).


2. AS IMPLEMENTAÇÕES DAS TRADIÇÕES DE MATRRIZ AFRICANAS AGREGADAS A NOVOS VALORES SÓCIOS CULTURAIS NO BRASIL

O fato de conviver num ambiente hostil e de complexas relações sociais, os negros foram sufocados pelas condições que os negros tinham em seus países de origem. Aqui, tiveram de se adaptar e aceitar e exigências e imposições determinadas pelo sistema político dominante. Em razão disso, foi criada a concepção escravista que irá influenciar os grupos humanos numa confluência étnica e racial típica da sociedade colonial da época. Dessa mistura de culturas brancas e negras, surgiram hábitos e costumes agregados à identidade étnica. Sejam na forma de culinária, danças, linguagem, música, religião, entre outras expressões.
È nas festas que as adversidades culturais dos escravos, suas representações, seus gestos são associados aos já existentes, originando costumes e músicas típicas dos movimentos, numa forma de resistência e afirmação de suas identidades. Desses movimentos sobressaiu o que comumente conhecemos como cultura popular. Com características próprias de cada região do Brasil, estas expressões foram se desenvolvendo de acordo com as realidades econômicas de cada uma. Os principais núcleos rurais que se destacaram como difusores dessa dinâmica foram regiões que englobam o Rio de Janeiro, Pernambuco e Salvador, consideradas centros irradiadores de produção sócio-cultural.
A possibilidade de poder agregar elementos novos, tais como os costumes e crenças que carregavam de seus antepassados, tornou viável para o cativo uma readaptação às exigências impostas pelo repressivo sistema escravista vigente. Essa tomada de decisão é reflexo da própria imagem que os negros passaram a ter a partir do momento em que foram inseridos num mundo completamente diferente do seu. A música passa a ser fundamental nesse processo, como explica Ferreira (2009):

Na cultura africana, a música está vinculada ao cotidiano do trabalho, da religião e do entretenimento. Para o africano a música não é um luxo, mas um modo de vida, presente do nascimento à morte, do plantio à colheita. Atividade rotineira como caça, pesca, preparação de alimento são invariavelmente realizadas ao som de músicas. (FERREIRA, 2009, p. 5).


Dessa forma, a música e outros gêneros de movimentos da cultura africana vieram acalentar o impacto causado pela nova realidade. Subjugados, os escravos lutaram para manter vivos seus ritos e tradições, transmitidos através dos conhecimentos das expressões culturais trazidas dos diferentes grupos e de regiões em que viviam no continente africano. Como essa música afro pode ser instrumento cultural, auxiliando no ensino de História?
Assim, o movimento cultural desenvolvido pelos escravos em meados do século XVI ao início do século XIX, foi marcado pela música, que representou a produção coletiva dos grupos presentes na sociedade colonial brasileira. Os escravos, ao perceber em suas condições, se envolveram nestes movimentos na esperança de criar um ambiente agradável, contrapondo-se as sujeições impostas pela elite dominante, a fim de manter viva as tradições da matriz africana no Brasil de seus países de origens.
Em concordância com Antônio Augusto: “aquilo que se considerar como vigência do plena do passado, só pode ser interpretado, no presente como curiosidade”(PINSKY, 1998, p.18). O processo histórico em que se desenvolveu a música Afro-Brasileira, revelaria para os escravos uma maneira de preservar suas tradições e um símbolo de libertação que pode ser percebido nas letras desse gênero musical, o que nos levou a problematizar essa questão.
Os conflitos existentes no interior da sociedade colonial brasileira, envolvendo principalmente os escravos, decorriam das repressões impostas pela elite dominante aos movimentos culturais da música Afro-Brasileira, que era proibida, segundo o discurso da época, que aceitavam tais manifestações porque contradiziam o código de postura vigente. Isso constituía o discurso ideológico da época, que orientava os interesses dominantes, representados pela administração política e religiosa de valorização dos costumes e controle social.
Os negros, ainda que sujeitos a um tratamento desumano herdado da antiguidade, e enfrentando em seu cotidiano formas de violência tais como: pena de morte, longas jornadas de trabalho, estupros, alimentação deficiente, entre outras, práticas desumanas comuns às condições impostas, estas, de alguma forma, despertaram conscientemente a concepção de raça e identidade de um grupo étnico inserido num ambiente hostil aos seus costumes e valores, conforme Arantes (1990). Salienta:

Essa diversidade, que se desenvolve em processos histórico múltiplos e o lugar da “cultura”, uma vez que, sendo em grande medida autoritária é convencional, ela constitui os diversos núcleos e identidade e de vários agrupamento humanos, ao mesmo tempo que os diferencia um dos outros...(ARANTES, 1990, p. 26).


Neste sentido, entende-se a produção histórica e social de grupos descendentes de escravos, como de povos que antes de serem introduzidos como mercadoria especifica do sistema político colonial, viviam num continente diferente, sendo que cada um, com suas organizações culturais e particularidades lingüísticas, conferem as distinções desses grupos, através dos movimentos africanos de outros povos.
No complexo processo no qual foi desenvolvida a música de origem africana, na sociedade colonial brasileira, caracterizava-se como hegemônica a estrutura étnica e religiosa, uma vez que os costumes da população branca de tradução européia misturavam-se às das classes populares negras e mestiças porém com interesses comuns.
É, em meio a essas divergências, que a música despontará, mesmo que de forma tímida, pois era proibida e tida como sedução aos movimentos populares. O lundu surge assim como gênero de dança e música rítmica que servirá como viés às vertentes da música popular brasileira. Conforme Montari (2001):

origem nos batuques dos negros que aqui chegaram como escravo. Da mesma forma que aconteceu com o blues e o ragtime, na música norte americana, o lundu e a modinha vão se associar as outras influências, advinda da musica européia, para dar origem a música brasileira que atravessou o século XX. (MONTARI, 2001, P.77).



No início do século XIX, a música passa a ganhar novas conotações, decorrentes das transformações advindas da transferência da corte portuguesas para o Brasil. Cria-se um ambiente com novas paisagens e costumes decorrentes das migrações, como explica Davis (2001): “... amplas mudanças nos valores culturais enfraqueceram as justificativas religiosas e filosóficas da escravidão. Todavia, as próprias tendências do pensamento que enfraqueceram as sanções bíblicas e históricas também ampliaram a importância das características mentais e físicas do homem”.(DAVIS, 2001, p. 493).
Diante do exposto, observamos que a prática educativa no ensino de história enfatiza a necessidade de uma reflexão sobre os pressupostos metodológicos para uns ensinos curiosos, atraentes, eficazes e que seja capaz de instruir o aluno para que desenvolva um entendimento eficaz à compreensão do mundo, atentando-se para as suas decorrentes transformações. Como reforça Cabrini (2000): “A tônica marcante é investigar na perspectiva de uma mudança de mentalidade quanto ao ensino-aprendizagem”.(CABRINI, 2000, p.14).
Essas mudanças acontecem principalmente no ambiente escolar que não se restringe a um espaço de aprendizagem, mas de integração de diferentes atores que interagem para a produção de conhecimentos, sem esquecer de que sua realidade social é resultado de um longo e contraditório processo histórico. A temática da escravidão negra apresenta diversos subsídios para uma reflexão.
Entre eles, a música Afro-Brasileira é colocada como sendo capaz de desenvolver nos alunos a sistematização do conhecimento e por seu intermédio podem ser desempenhadas diferentes diretrizes para os fatos decorrentes de um mesmo processo histórico, tornando-se viável a articulação com o conhecimento produzido. A música de origem africana, inserida no contexto histórico da sociedade brasileira durante o período colonial, possibilita a compreensão dos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais desse momento histórico.
Para o ensino de História, o uso da música Afro-Brasileira se insere como proposta metodológica para a prática docente, condizente com o objetivo maior do reconhecimento da cultura afro-brasileira, uma exigência da Lei n° 10.639/2003. Esta Lei dispõe que sejam incluídos nos currículos do ensino básico e superior, conteúdos que contemplem a história da África e dos africanos, bem como suas lutas e sua contribuição para o Brasil.
Em conseqüência disto, fica evidente a relevância histórica que envolve os povos africanos, em amplas situações de ensino, que pode ser colocada no ambiente educativo como troca de experiência e reforço da aprendizagem. Assim, prática educativa precisa criar novas situações que visem à pesquisa nessa direção, de forma que sejam orientadas por valores, visões de mundo e experiências sem qualquer tipo de preconceito étnico racial.
O ensino de história propicia fontes e recursos metodológicos que geram alavancas para caminhos a serem trilhados no processo de conhecimento, fator fundamental para a prática docente. CABRINI (2000) sugere: tratar um conteúdo vinculado à realidade do aluno permitirá mais facilmente se chegar com ele ao conhecimento concreto do objeto, à sua descoberta, ou seja, aprendê-lo seu movimento, em suas contradições.”(CABRINI, 2000, p. 54).
Conforme o exposto, a prática educativa no ensino de história assegura diversas concepções sobre o conhecimento humano e seu espaço é uma construção intelectual, onde professores e alunos fazem parte desse processo dinâmico. Por essa perspectiva, abre-se a possibilidade de se poder interferir nas relações sociais futuras ou posteriores, tornando possível atribuir conceitos teórico-metodológicos em que são dados os conflitos étnicos, políticos, econômicos e religiosos existentes na sociedade a partir de sua reflexão no ambiente educativo.
Isso significa contribuir para o ensino, de forma a permitir o desenvolvimento de trabalhos que facilitem a constituição de conhecimentos mais consistentes, profundos, articulados com as experiências humanas e que visem um diálogo reflexivo com as diversidades inerentes ao contexto social. Conceitos relacionados ao tema cultura, como o que está proposto aqui, reflete o contexto histórico da cultura popular brasileira.
Possibilitaremos, assim, novas acepções e a criação de novas abordagens que envolvam a temática, seguindo os pressupostos dos parâmetros curriculares, que: “podem ser usados para aprofundar questões históricas, instigar debates, analisar representações artísticas de época, confrontar, pontos de vistas, diferenciar abordagens históricas, resumir temas, estudo, explicar definições históricas para conceitos etc.”(BRASIL, 2001, p. 81).
Nesse sentido, estudar a música afro-brasileira é justificável para, sobretudo, difundir sua importância na sociedade e resgatar os processos que a geraram, ajudando a construir a identidade negra e cultural do país.

3. ALGUNS PRESSUPOSTOS BÁSICOS QUE PERMEIAM A PRÁTICA EDUCATIVA NO ENSINO DE HISTÓRIA

Por se constituir num documento histórico, onde são encontrados registros que nos levam a apreender uma viagem sobre o passado e a interagir com áreas afins do conhecimento humano, poderemos inserir a pesquisa em novos contextos, atribuindo-lhe novas abordagens sobre o conhecimento humano. Concernente ao exposto, torna-se evidente a pesquisa com fontes bibliográficas como recurso histórico metodológico.
Conforme sugere o texto oficial: “o documento histórico adquire outra amplitude no trabalho do historiador. São utilizadas outras fontes de pesquisa históricas relacionadas à preocupação de se estudar outras dimensões da vida social”. (BRASIL, 2001, p. 84). De acordo com os parâmetros curriculares nacionais, os registros de fontes escritas podem ser considerados um documento e um achado arqueológico que podem tomar outros rumos no desenvolvimento da pesquisa.
Os estudos científicos requerem o cuidado para não incorrer sobre a “veracidade” dos fatos registrados nos documentos e estes eram tidos como verdades absolutas, onde os conhecimentos eram consolidados sem interferência exterior, ou seja, não eram questionados. Sobre os parâmetros curriculares, “Durante algum tempo, principalmente para os historiadores de inspiração positivista do século XIX e início do XX, o documento significara a idéia de testemunho escrito, comprovação, de provas sobre os acontecimentos do passado...”. (BRASIL, 2001, p. 84).
Conforme o exposto, os estudos historiográficos passaram por um longo processo de reavaliação na pesquisa histórica, permitindo o diálogo com outras ciências sociais. Por essas perspectivas, é destacado aqui o auxílio oferecido pelas fontes bibliográficas, principalmente as que abordam os conceitos pertinentes ao imenso campo de investigação da pesquisa da história cultural, que, por sua vez, está voltada para a dimensão da cultura popular.

3.1. CONSIDERAÇÕES REFLEXISIVAS TEÓRICO METODOLÓGICO SOBRE AS DISCUSSÕES INTERPRETATIVAS DA MÚSICA AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO DE HISTÓRIA

No que se refere às diretrizes para o levantamento da pesquisa, pretende-se seguir os fundamentos teóricos das representações das atividades culturais dos grupos étnicos que geraram a temática da música afro-brasileira, a partir de análises da produção do conhecimento histórico, inseridas na produção da música de origem escrava e os processos a que foi submetida num eixo que se coloca:

[...] Para além dos sujeitos e agências que produzem a cultura, estuda-se os meios através dos quais esta se produz e se transmite: as práticas e os processos. Por fim, a matéria-prima’ cultural propriamente dita (os padrões que estão por trás dos objetos culturais produzidos): os sistema de valores, os sistemas normativos que constrangem os indivíduos, os ‘modos de vida’ relacionados aos vários sociais, relacionados as concepções relativa a esses vários grupos sociais [...]. (BARROS, 2004, P. 61).

O desencadeamento da música Afro-Brasileira como sua produção cultural herdada das tradições étnicas do continente africano e situá-las como fonte metodológica para o Ensino de História, uma vez que estudar o uso dos costumes representa também conhecer as principais características de uma sociedade.
Seguindo a mesma linha do autor supracitado, Barros (2004), que faz uma explanação do conhecimento nos vários eixos da história que, segundo ele, estão situadas várias áreas de interesses e abordagens que compõem o campo de pesquisa das ciências sociais da historiografia, que concernem aos estudos culturais sobre as questões que permeiam os diferentes interesses que envolvem a música afro-brasileira e ao seu reflexo no Ensino de História.
Assimilando algumas propostas presentes nos relatos de Conceição Cabrini e nos Parâmetros Curriculares Nacionais podemos destacar as possibilidades que os textos oficiais apresentam sobre diferentes idéias curriculares para o ensino de história. A prática docente surge para propor novas abordagens interdisciplinares para o currículo escolar de história, dinamizando o processo de ensino e da aprendizagem.
Escolhemos referências direcionadas à pesquisa sobre história do Brasil nos séculos XVI-XIX, serviram como apoio ao trabalho de Jaime Pinsky e Davis Brion, que fazem uma crítica das condições vivenciadas pelos escravos mesmo antes de sua introdução no início da colonização brasileira. Na mesma proporção, foi citado Gilberto Freire em sua obra intitulada em “Casa Grande & Senzala”, mostrando algumas implicações sobre as relações de convivência social e as idéias de dominação, tratando da situação dos escravos num contexto de interação étnico e racial.
Dando continuidade às questões que envolvem a escravidão, as convivências e os conflitos inseridos neste processo, Valdir Montinari, na bibliografia “O que é Cultura Popular”, aborda as relações de domínio sobre os bens culturais, referenciadas como prática representativa de um determinado grupo social, manifestações culturais, tais como as práticas de um povo representando domínio, sua identidade, o espaço identificando as origens. A obra reflete bem sobre alguns pontos levantados sobre a influência africana, a exemplo da música afro-brasileira como sendo conhecimento de um povo.
No que se referem à música, os relatos desses autores que fazendo em um apanhado histórico sobre o processo gerador dos movimentos, que recai sobre os diferentes estilos da música popular brasileira, assim, Joana D’Arc e José Roberto enfocam o histórico da música de origem africana. Nesse artigo, ambos trabalham os principais fatores determinantes que envolveram a produção da música.
Para isso, destacam as tradições, costumes, crenças, entre outros movimentos que representam as manifestações da cultura popular nas organizações dos grupos étnicos do continente africano, até serem introduzidos no início da colonização no Brasil. Dos movimentos surgidos nesse contexto histórico, ambos os autores destacam o samba como identidade nacional, representação da cultura popular brasileira.
Nesse sentido, com o apoio dessas referências teóricas, pretendemos estudar a música afro-brasileira e mostrar sua importância para contexto do ensino de História, dinamizando suas formas de apreensão e compreensão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo da cultura afro-brasileira e africana revela os direitos legais de valorização da identidade, cultura, história que privilegia educação das relações étnico-raciais. Por essas medidas, foi permitida a realização da pesquisa que se deu através de uma análise reflexiva sobre a música afro-brasileira, percebendo como seus reflexos incidem no Ensino de História, em consonância com a concepção que perpassa o processo metodológico de ensino e aprendizagem.
Portanto, foi necessária uma abordagem acerca dos acontecimentos históricos, da origem africana que se desenvolveu no contexto da escravidão no Brasil, bem como das questões que desencadearam esta trama da história que mesmo tendo acontecido há quase cinco séculos, continua presente na identidade da cultura popular brasileira.
Para viabilizar a pesquisa que versa sobre o conhecimento “historiográfico” sobre a história cultural foi empreendida uma investigação histórica no sentido de conhecer a produção do conhecimento existente sobre o tema abordado.
A idéia que procurei defender nesse estudo dar ênfase à música Afro-Brasileira no Ensino de História percebeu-se sua importância bem como seus reflexos incidem métodos educativos, em consonância com a concepção que perpassa o processo metodológico de ensino e aprendizagem na disciplina de História.
Portanto, desenvolveu-se uma abordagem acerca dos acontecimentos históricos, da origem africana que se desenvolveu no contexto da escravidão no Brasil, bem como das questões que desencadearam esta trama da história que mesmo tendo acontecido há quase cinco séculos, continua presente na identidade da cultura popular brasileira.
Para viabilizar a pesquisa que versa sobre o conhecimento “historiográfico” sobre a história cultural foi empreendida uma investigação histórica no sentido de conhecer a produção do conhecimento existente sobre o tema aqui abordado.
Contudo, é preciso elucidar que a importância da temática música afro-brasileiro no meio acadêmico e nos processos didáticos que visem novos métodos educativos no ensino e aprendizagem fará com que esta problemática seja mais do que um desdobramento de categorias acima referidas e se consubstancie em um outro movimento de suma importância nos debates educacionais.
Esse movimento esta relacionada com uma dinâmica de focalização dos valores históricos e culturais dos grupos étnicos de afros-descendentes, que se apresenta nitidamente no Brasil, a partir da introdução da escravidão colonial. A valorização das idéias contidas na modalidade da música afro implica o reconhecimento dessa categoria capaz de detectar e reprimir preconceitos étnicos raciais.
Sob a orientação dessa valorização no Ensino de História, a composição dos grupos afros-descendentes passará a ser objeto de atenção dos sujeitos envolvidos, direta ou indiretamente com o compromisso sócio educacional.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICA


• ARANTES. Antônio Augusto. O que é cultura popular.3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.

• BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. 3 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

• BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história. Brasília: MEC, 2001.

• CABRINI, Conceição et al. Ensino de história: revisão urgente. São Paulo: EDUC, 2000.

• DAVIS, David Brion de. O problema a escravidão na cultura ocidental. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
• FERREIRA, Joana D’Arc A. GALDÊNIO, José Roberto de Vasconcelos. UMA MÚSICA Afro-Brasileira: a samba da representação a símbolo da identidade nacional. Disponível em: http:/ www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/. Acesso em 14/ 06/ 2009.

• Flávio de Campos; Lídia Aguilar; Regina Claro e Renan Garcia Miranda. O Jogo da História: de corpo na América e de alma na África, São Paulo, Moderna, 2002, p. 112-3 (volume para 6ª série).

• FREIRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 94 ed. São Paulo: Global, 2004.

• MONTINARI, Valdir. História da Música: da idade da pedra a idade do Rock. São Paulo: Ática, 2001.

• PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. 16 ed. São Paulo: Contexto, 1998.
________________________________________

[1]Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e Graduando em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.

Perfil e Links: Luciano Bezerra Agra Filho, filho de pais paraibanos, nasceu no dia 02 de Agosto de 1976 em Campina Grande/PB. Iniciou-se o curso de Licenciatura Plena em História em 1999/2 e terminou em 2003/2. Tenho uma publicação na Revista virtual de História - Ano VI - Edição 27 - Janeiro - Março de 2006.[http://www.klepsidra.net/novaklepsidra.html], cujo o título do artigo: A política historiográfica paraibana - 1930/1945: seqüência ou rompimento? Ultimamente estou lecionando na área educacional e tenho artigos em http://lucianoagra.blogspot.com/



Leia materia completa: A música afro-brasileira como representação da cultura escravocrata no período colonial (século xvi – xix): Uma abordagem viável no ensino de história - Portal Geledés

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Rede de Blogs do Acre está no ar

Escrito por Samuel Bryan
11-Fev-2011
Nova página do governo pretende reunir todos os blogs do Estado num único lugar

O Sistema Público de Comunicação acaba de inovar e criar uma nova página de inclusão digital. É a Rede de Blogs do Acre, um espaço que pretende reunir todos os blogs do EStado em um só lugar. É uma página para que o blogueiro acreano possa divulgar o seu trabalho, seu universo virtual, e interagir com outros blogueiros e outras redes sociais como Facebook e Twitter, que também estão presentes no Blogs do Acre.

Além da página de destaques, todos os blogs enviados para a Agência de Notícias do Acre durante o período de cadastros foram divididos nas categorias de Cultura, Política, Cotidiano, Meio Ambiente, Grupos e Instituições, Notícias, Esportes, Tecnologia e Saúde. Os leitores também podem deixar comentários na própria página do Blogs do Acre, respeitando os termos “curtir” ou “não curtir” a página e dar estrelas de 1 a 5 como avaliação.

Outro ponto interessante é o destaque da semana, que vai colar um blog na página principal do Blogs do Acre. Se você ainda não se cadastrou, pode fazer isso na própria página. Basta preencher um cadastro nesse endereço http://agencia.ac.gov.br/blogs/index.php/cadastro-de-blog informando o endereço do blog, nome, município, categoria e uma breve descrição. Conheça, participe e divulgue a Rede de Blogs do Acre http://agencia.ac.gov.br/blogs/ .


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Reflexões sobre a Saúde da Mulher Negra e o Movimento Feminista

Reflexões sobre a Saúde da Mulher Negra e o Movimento Feminista

Maria José de Oliveira Araújo *


(Este artigo baseou-se em texto escrito em 1993 e que constituiu uma das primeiras reflexões a chamar a atenção para o desconhecimento da saúde da mulher negra no Brasil. Publicado em Cadernos de Pesquisa 2, de julho de 1994, o texto foi originalmente apresentado no Seminário ?Alcances e Limites da Predisposição Biológica?, realizado pelo Programa Saúde Reprodutiva da Mulher Negra, do Cebrap, em São Paulo, de 6 a 7 de dezembro de 1993.)

O movimento feminista ? até por seu caráter minoritário e radical ? sempre esboçou a preocupação com a problemática do racismo, que, no entanto, passava mais pela questão da democracia do que pela categoria de gênero. Como conseqüência dessa visão, em sua etapa inicial o feminismo privilegiou na sua luta as questões que diziam respeito à condição de opressão e à identidade feminina, sem delimitar muito bem a fronteira entre a identidade das mulheres negras e a das mulheres em geral.

O movimento de mulheres pela saúde no Brasil nasceu no início dos anos 80, no interior de grupos de mulheres que tinham, além da luta pela saúde, outras prioridades, como a luta por creches, trabalho igual, salário igual e combate à violência contra a mulher. Desses grupos participavam, basicamente, mulheres de classe média que, em sua maioria, apresentavam algum vínculo com partidos políticos de esquerda. Já nesse momento constatava-se a presença de mulheres negras, mas a questão racial não era colocada como um ?problema político? ou priorizada enquanto tema de discussão.

O mito e a mística da ?sororidade?

Ao longo de sua trajetória, o feminismo tanto criou novos valores nas relações sociais como também muitos mitos de origem, entre eles o que se traduzia no paradigma de que todas éramos iguais. Esta concepção de ?sororidade? ? aqui eu uso uma palavra que foi introduzida por uma feminista francesa, que vem de ?sóror?, irmã ? realmente reflete o que aconteceu naquela época, que nos impedia de trabalhar as diferenças, marcadamente em relação às lésbicas e às negras.

A primeira etapa do feminismo priorizou o que parecia identificar as mulheres entre si e subestimou o que poderia tê-las diferenciado. Evidentemente, esta foi uma forma encontrada para o fortalecimento do movimento de mulheres, ainda incipiente e sem poder na sociedade brasileira. Como bem revela o depoimento de uma mulher negra, pioneira no trabalho de combate à violência contra a mulher no Brasil: ?Eu nunca me senti negra no movimento de mulheres, porque este movimento não tinha cor?. Isto, naquele momento, era uma realidade.

Reduzimos, daquela forma, qualquer diferença à diferença entre os sexos e nos irmanamos, de certa maneira artificialmente. Esta concepção que inspirou a prática de muitos grupos de mulheres, tanto na Europa como aqui no Brasil, estava calcada na ideologia da revolução de maio de 1968, que aconteceu na França, segundo a qual o coletivo deveria prevalecer sobre o singular, em uma perspectiva formalmente igualitária. As mulheres não tinham outras especificidades a não ser enquanto mulheres.

A ignorância das diferenças e das divergências na sororidade criou períodos de uma sociabilidade muito agradável, mas se revelou também bastante incapaz e impotente para resolver todos os conflitos que surgiam, tanto de ordem pública como individual. Por outro lado, as mulheres negras ou brancas, homossexuais ou heterossexuais, nos primeiros anos da organização do movimento de mulheres, só se organizaram enquanto mulheres e suas especificidades eram assim entendidas.

A saúde da mulher negra

A especificidade da saúde da mulher negra começou a ser discutida a partir de reivindicação das próprias mulheres negras, coincidindo com o surgimento de grupos de mulheres negras organizados nas diferentes regiões do país. A esterilização cirúrgica, tema controvertido e polêmico, foi o eixo que conseguiu unir e desencadear o processo de trabalho conjunto, que atualmente se estende às outras questões dos direitos reprodutivos ? espaço onde o movimento de mulheres tem investido grande parte da sua energia.

O movimento feminista pela saúde e direitos reprodutivos tem contribuído para a reflexão sobre a questão da saúde das mulheres negras e reconhece plenamente as suas especificidades nesta área. No entanto, esta interlocução não tem se dado sem rancores e incompreensões de ambos os lados. Frases como: ?as feministas não incorporam os problemas das mulheres negras? ou ?as mulheres negras nos acusam de discriminação? são freqüentemente ouvidas nos espaços coletivos de reflexão.

As mulheres negras estão presentes no movimento feminista, mas o conhecimento que o movimento feminista como um todo tem dos problemas por elas enfrentados é fragmentado e adquirido em espaços gerais de discussão de outros temas. Falta na bagagem do movimento feminista uma discussão mais profunda sobre o racismo e suas conseqüências perversas sobre a vida e a saúde da mulher negra. Discutir a especificidade da saúde da população negra, e das mulheres negras em particular, pressupõe não apenas uma análise socioeconômica, mas também o repensar a ciência enquanto produtora e detentora do conhecimento.

Indicadores do estado de saúde das mulheres negras

Concordo com a médica Fátima Oliveira, que afirma em seus artigos e reflexões sua crença numa predisposição biológica interagindo com fatores de diversas ordens, que vão desde as reais condições de vida, passando pela opressão de gênero e de raça. Foi sob esta ótica que li e interpretei os dados referentes à saúde da mulher negra que apresentarei a seguir. Antes, porém, gostaria de ressaltar aqui a escassez de dados sobre o estado de saúde da população negra e, sobretudo, das mulheres. Creio que o diagnóstico epidemiológico da situação de saúde da população negra é de fundamental importância para o planejamento da saúde coletiva, o que implica a necessidade urgente de melhorar os dados existentes.

Os dados socioeconômicos referentes à população negra por si só já são indicadores de seu estado de saúde: 85% das mulheres negras encontram-se abaixo da linha de pobreza e sua taxa de analfabetismo é o dobro, se comparada a das mulheres brancas. Somando-se a isso o menor acesso aos serviços de saúde de boa qualidade, as mulheres negras têm maior risco de contrair e morrer de determinadas doenças do que as mulheres brancas.

Os dados nacionais sobre o acesso das mulheres negras ao pré-natal estão diretamente relacionados com as classes sociais às quais pertencem: 50% das mulheres de baixa renda não têm acesso ao pré-natal, com o que podemos deduzir que as mulheres negras devem ser as grandes prejudicadas, já que elas se encontram nas faixas de menor renda da população.

Os dados de morbidade da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de São Paulo, levantados pelo programa que introduziu o ?quesito cor? no sistema de informação, confirmam os dados nacionais. As mulheres negras têm acesso muito menor ao pré-natal, que se inicia mais tardiamente do que o das mulheres brancas.

A situação norte-americana

Encontrei na bibliografia norte-americana alguns dados sobre as diferenças entre a morbidade e a mortalidade das mulheres negras e brancas. Por exemplo:

* com relação à expectativa de vida, as mulheres brancas dos EUA apresentaram uma média de 75,3 anos e as mulheres negras, de 69,4 anos;
* 52% das mulheres com AIDS nos Estados Unidos são negras;
* a taxa de mortalidade infantil entre as crianças negras é quase o triplo daquela constatada em relação às crianças brancas;
* as taxas de mortalidade materna nos Estados Unidos demonstram que as mulheres negras morrem duas vezes mais por causas maternas do que as brancas;
* as pesquisas norte-americanas mostram que as mulheres negras têm três vezes mais possibilidade de desenvolver o lupus, doença auto-imune que está ligada também às condições de vida em geral e cuja possibilidade de ocorrência aumenta se a mulher é jovem e negra. A maioria dos casos de lupus diagnosticados nos Estados Unidos refere-se a mulheres jovens e negras, apesar de esta ser uma doença de diagnóstico às vezes difícil na população como um todo, pela diversidade dos sintomas;
* em relação à hipertensão arterial, os dados dos EUA são mais ou menos os mesmos que os do Brasil. Apesar da importância dessa doença para as mulheres, até agora poucas pesquisas vêm sendo realizadas, e apenas entre homens. No tratamento das mulheres constata-se a discriminação: mesmo quando têm sintomas, ou problemas cardíacos, as mulheres acabam sendo tratadas mais tardiamente. A literatura refere que nas mulheres negras este diagnóstico vem muito mais tarde que para as brancas, sendo que as negras têm uma possibilidade maior de apresentar a doença. (Isto também acontece no Brasil. Os dados da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo ? referentes à demanda do Sistema Único de Saúde e pesquisados através de queixas da população ? revelam que, na parcela da população preta atendida com queixa de doenças cardiovasculares, a hipertensão alcança um índice 9,2% superior aos apresentados pelas pardas e brancas);
* em relação à doença inflamatória pélvica, que constitui uma das causas de esterilidade, os dados mostram que nos Estados Unidos ela é muito mais comum nas mulheres negras que nas brancas. Embora muitas pessoas afirmem ser esta uma doença relacionada à prática da liberdade sexual e até à promiscuidade, ela está intimamente ligada aos níveis de condições de vida das mulheres;
* os dados sobre fibroma ou mioma apresentam números maiores para as mulheres negras. (No Serviço de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Ribeirão Preto, entre 1986 e 1988, foram pesquisadas 432 mulheres portadoras de fibroma, perfazendo 18% dos casos de internação. Neste período, comparativamente, este índice foi 3,2% mais freqüente entre as mulheres negras. Os/as pesquisadores/as declaram que a predisposição biológica parece ser um fator importante no aparecimento e na modulação do crescimento do mioma. Quem trabalha com uma outra visão, que não a da ginecologia tradicional, sabe que o mioma está relacionado com fatores alimentares, estresse e com as condições de vida em geral);
* no câncer de colo de útero, que é um tipo de câncer ligado às condições socioeconômicas das mulheres, a taxa é duas vezes mais alta para as mulheres negras do que para as brancas nos Estados Unidos;
* no caso do câncer de mama, as mulheres negras têm menor predisposição para desenvolvê-los. Há uma série de explicações para isto, entre elas a questão alimentar, relacionada à quantidade de proteína ingerida. Mas o que os dados mostram é que, na última década, de 12% a 15% das mulheres negras com câncer de mama apresentaram uma média de sobrevida cinco vezes menor que as mulheres brancas. Isto quer dizer que, apesar de as mulheres negras terem menos câncer de mama, elas morrem em maior quantidade e mais precocemente por esta ocorrência. É evidente que isto está ligado não só às condições vida, mas, sobretudo, ao acesso dessas mulheres a serviços de saúde de boa qualidade;
* em relação ao diabetes, as mulheres negras apresentam uma particular vulnerabilidade para desenvolver esta doença. Atualmente, enquanto o homem negro tem 9% a mais de probabilidade de desenvolver diabetes do que o homem branco, as mulheres negras têm aproximadamente 50% a mais de chance de se tornarem diabéticas que as mulheres brancas.


* Sozinha, a genética não explica as condições de saúde da população negra. Minha tendência, enquanto leiga em genética, é achar que a maioria das doenças que matam as mulheres negras está diretamente ligada às condições de vida.

Quero ressaltar aqui a importância de que o movimento de mulheres negras e o movimento feminista dêem as mãos, para que possamos realmente ter ? considerando e respeitando as diferenças ? uma identidade maior. São necessários esforços redobrados para pesquisar e documentar a saúde da mulher negra, os riscos reprodutivos e os diferenciais de acesso a informação e serviços de saúde, a fim de possibilitar a sistematização de um conjunto de propostas de políticas públicas a serem trabalhadas com a máxima prioridade.


* Maria José de Oliveira Araújo é médica e fundadora do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, de São Paulo. Foi coordenadora do programa de saúde da mulher do município de São Paulo, entre 1989 e 1992, e Secretária Executiva da Rede Feminista de Saúde, de 1995 a 2000.

Nota: Para maiores informações sobre as referências bibliográficas e dados apresentados neste trabalho, contatar a autora pelo e-mail cfssaude@uol.com.br

Jornal da Rede Feminista de Saúde - nº 23