sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Edital de Convocação para a Assembleia Geral de Fundação da Associação Religiosa Centro Espírita de Umbanda Omolokô Mentora Espiritual Cabocla Brava

Edital de Convocação para a Assembleia Geral de Fundação da Associação Religiosa Centro Espírita de Umbanda Omolokô Mentora Espiritual Cabocla Brava 

Convido a todos os interessados a participar da Assembleia Geral de Fundação da Associação Religiosa Centro Espírita de Umbanda Omolokô Mentora Espiritual Cabocla Brava – CEU OMEC BRAVA – na qualidade de sócio fundador, a ser realizada no dia, 22 de dezembro de 2012, às 14h, tendo por local a rua Rio Branco nº 60, bairro Tancredo Neves, Rio Branco, Acre. A Assembleia terá como ponto de pauta: 1) Aprovação do Estatuto e Ata de Fundação; 2) Eleição e Posse da Diretoria e do Conselho Fiscal. Rio 

Branco-AC, 14 de dezembro de 2012. 

Maria Francisca Alexandre dos Santos 
Maria de Cabocla Brava

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mérito da hipocrisia: debate sobre cotas raciais no Brasil

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1 Saulo Rodrigues de Carvalho* As cotas raciais têm sido alvo de inúmeras críticas. A maioria delas inconsistentes. Fundamentadas numa visão meritocrática do sistema de ensino superior, propagam o preconceito rasteiro e petrificado das classes dominantes do Brasil. Comentários como o do sr. Jéthero Cardoso (Opinião, 24/11/12), que se diz jornalista, expressam esse tipo grosseiro de argumento. O problema da cota não é quem entra ou quem deixa de entrar na universidade. O vestibular não forma pessoas. Entrar com média oito ou cinco não determina o desempenho dos estudos de alguém. O problema das cotas são as próprias cotas. A criação de um sistema como esse demonstra que há um sério problema no âmago da sociedade. As cotas desnudam a hipocrisia da nossa elite no trato da educação do país. No Brasil se criou um sistema escolar de baixos investimentos na educação básica para os mais pobres, com poucas expectativas de mobilidade social, e um Ensino Superior restrito aos mais ricos, com melhores oportunidades e salários. Para barrar o acesso das classes trabalhadoras à Universidade a elite criou um sistema muito eficiente baseado no mérito, que aparentemente coloca todos os indivíduos em situação de igualdade. Aparentemente, porque na realidade as condições sociais de trabalho e estudo são vertiginosamente desiguais. O vestibular é assim mais um mecanismo de manutenção de privilégios de uma classe. Desse modo o problema da cota é o problema de uma educação dual com uma política educacional de pífios investimentos em Educação Básica e restrito acesso ao Ensino Superior. E a cota racial? Nem será preciso argumentar os horrores da escravidão no Brasil, para comprovar a situação de exclusão da pessoa negra que aqui se originou. Mas, concordo plenamente que a cota não irá “reparar a dívida histórica” do Brasil com o povo negro. O fato é que como “a carne mais barata no mercado é a carne negra” (Marcelo Yuca) o trabalhador negro é quem enfrenta as condições mais desiguais de disputa por uma vaga na Universidade. Por isso as cotas como política afirmativa. Como jornalista que nunca precisou de cotas o Sr. Jéthero deveria saber que o sistema de cotas raciais foi criado nos E.U.A na década de 1960 (o que nunca existiu lá foi o vestibular). Depois de muitas lutas travadas pelo Movimento Negro, Malcom X, Marthim Luther King, os Panteras Negras, o governo de J.F. Kennedy institui no Código Civil de 1964 a cota para negros não só na universidade, mas em outros setores da sociedade, como forma de atenuar as tensões sociais. A sociedade branca norte-americana, nunca escondeu seu ódio racial. Tanto que os primeiros cotistas negros tinham de ser escoltado por policiais até a universidade, para não serem linchados pelos alunos brancos. Hoje a situação lá mudou pouca coisa, as cotas beneficiaram, maiormente, a consolidação de uma classe média negra nos EUA. Os negros mais pobres da classe trabalhadora continuam sofrendo o racismo e a falta de direitos em muitos estados. Contudo, os Norte-Americanos elegeram duas vezes um presidente negro que foi cotista. Sim, mr. Barak Obama frequentou a universidade pelo sistema de cotas raciais. Um jornalista deve checar suas fontes e também saber que o Ministro Joaquim Barbosa citado em seu artigo como exemplo de superação a ser seguido é defensor e votou favoravelmente à implantação do Sistema de Cotas Raciais no Brasil. Na verdade observo que há muito barulho por pouco. As cotas raciais ou sociais, não bastam, elas pouco contribuem para desfazer a situação de desigualdade gritante colocada na sociedade brasileira. Fazem parte de uma política paliativa. Os mais ricos ainda vão continuar com seus privilégios. Os mais pobres terão agora um veio de esperança, no qual não podem se agarrar. Mesmo assim, é parte de uma política que parece mais incomodar os privilegiados do que animar os excluídos. O mérito da hipocrisia de nossa elite está em fazer a população pensar que toda política social voltada para as minorias irá prejudicar a sociedade de alguma forma. Mero ranço. Para não discordar de tudo, Jéthero, nos faz pensar em um ponto. A urgente necessidade de aumento dos investimentos do poder público na educação básica. Da valorização do professor e melhoria da sua remuneração. Da aprovação do Plano Nacional de Educação e destinação dos 10% do PIB e não 4,5% (com tem sido há pelo menos 20 anos) para a educação. Só assim teremos uma política de educação séria e comprometida com o desenvolvimento de todos. *Pedagogo, mestre em Educação pela Unesp fonte: http://religioesafroentrevistas.wordpress.com/ - http://cenpah.wordpress.com/2012/12/10/merito-da-hipocrisia-debate-sobre-cotas-raciais-no-brasil/

domingo, 18 de novembro de 2012

ORIKI ÒGÚN

ORIKI ÒGÚN Ògún laka aye (Ogun poderoso do mundo) Osinmole (O próximo a Deus) Olomi nile fi eje we (Aquele que tem água em casa, mas prefere banho com sangue) Olaso ni le (Aquele que tem roupa em casa) Fi imo bora (Mas prefere se cobrir de mariô) La ka aye (Poderoso do mundo) Moju re (Eu o saúdo) Ma je ki nri ija re (Que eu não depare com sua ira) Iba Ògún (Eu saúdo Ogun) Iba re Olomi ni le fi eje we (Eu o saúdo, aquele que tem água em casa, mas prefere banho de sangue) Feje we. Eje ta sile. Ki ilero (Que o sangue caia no chão para que haja paz e tranquilidade) Ase Axé ORIKI ÒGÚN 2 Ògún pèlé o ! Ogum, eu te saúdo ! Ògún alákáyé, Ogum, senhor do universo, Osìn ímolè. loder dos orixás. Ògún alada méjì. Ogum, dono de dois facões, O fi òkan sán oko. Usou um deles para preparar a horta O fi òkan ye ona. e o outro para abrir caminho. Ojó Ògún ntòkè bò. No dia em que Ogum vinha da montanha Aso iná ló mu bora, ao invés de roupa usou fogo para se cobrir. Ewu ejè lówò. E vestiu roupa de sangue. Ògún edun olú irin. Ogum, a divindade do ferro Awònye òrìsà tií bura re sán wònyìnwònyìn. Orixá poderoso, que se morde inúmeras vezes. Ògún onire alagbara. Ògún Onire, o poderoso. A mu wodò, O levamos para dentro do rio Ògún si la omi Logboogba. e ele, com seu facão, partiu as águas em duas partes iguais. Ògún lo ni aja oun ni a pa aja fun. Ogum é o dono dos cães e para ele sacrificamos. Onílí ikú, Ogum, senhor da morada da morte. Olódèdè màríwò. o interior de sua casa é enfeitado com màríwò. Ògún olónà ola. Ogum, senhor do caminho da prosperidade. Ògún a gbeni ju oko riro lo, Ogum, é mais proveitoso ao homem cultuá-lo do que sair para plantar Ògún gbemi o. Ogum, apoie-me Bi o se gbe Akinoro. do mesmo modo que apoiou Akinoro. Ògùn - Com Tradução a Cada Linha Osinmoleba O próximo a Deus Olomi Nile Fi Eje We Aquele que tem água em casa, mas prefere banho com sangue Olaso Ni Le Aquele que tem roupa em casa Fi Imo Bora Mas prefere se cobrir de mariwô La Ka Ayê Poderoso do mundo Moju Re Eu o saúdo Ma Je Ki Nri Ija Re Que eu não depare com sua ira Iba Ògún Eu saúdo Ogun Iba Re Olomi Ni Le Fi Eje We Eu o saúdo, aquele que tem água em casa,mas prefere banho de sangue Feje We. Eje Ta Sile. Ki Ilero Que o sangue caia no chão para que haja paz e tranqüilidade Ase Osinmoleba O próximo a Deus Olomi Nile Fi Eje We Aquele que tem água em casa, mas prefere banho com sangue Olaso Ni Le Aquele que tem roupa em casa Fi Imo Bora Mas prefere se cobrir de mariwô La Ka Ayê Poderoso do mundo Moju Re Eu o saúdo Ma Je Ki Nri Ija Re Que eu não depare com sua ira Iba Ògún Eu saúdo Ogun Iba Re Olomi Ni Le Fi Eje We Eu o saúdo, aquele que tem água em casa,mas prefere banho de sangue Ki Ilero Que o sangue caia no chão para que haja paz e tranqüilidade Ase Osinmoleba O próximo a Deus Olomi Nile Fi Eje We Aquele que tem água em casa, mas prefere banho com sangue Olaso Ni Le Aquele que tem roupa em casa Fi Imo Bora Mas prefere se cobrir de mariwô La Ka Ayê Poderoso do mundo Moju Re Eu o saúdo Ma Je Ki Nri Ija Re Que eu não depare com sua ira Iba Ògún Eu saúdo Ogun Iba Re Olomi Ni Le Fi Eje We Eu o saúdo, aquele que tem água em casa,mas prefere banho de sangue Ki Ilero Que o sangue caia no chão para que haja paz e tranqüilidade Ase

ORIKI DE OSUN

Òsun Òpàrà - Com Tradução a Cada Linha Òsun Òpàrà Yèyé Òpàrà ! Obìnrin Bí Okùnrin Ní Òsun Oxum é uma mulher com força masculina. A Jí Sèrí Bí Ègà. Sua voz é afinada como o canto do ega. Yèyé Olomi Tútú. Graciosa mãe, senhora das águas frescas. Opàrà Òjò Bíri Kalee. Opàrà, que ao dançar rodopia como o vento, sem que possamos vê-la. Agbà Obìnrin Tí Gbogbo Ayé N'pe Sìn. Senhora plena de sabedoria, que todos veneramos juntos. Ó Bá Sònpònná Jé Pétékí. Que como pétékí com Xapanã. O Bá Alágbára Ranyanga Dìde. Que enfrenta pessoas poderosas e com sabedoria as acalma. Òsun Iponda Oliri Pa Koko Eni Pon Poderosa, não empurre o povo de Iponda. O Ri Onise Oba Ayi Kase Ela recebe o mensageiro do rei sem respeitá-lo O Je Dandan Oloran Ela aceita as palavras do queixoso O Fi Aja Wà Inu Eke Wò Com sua sineta ela fura o ventre mentiroso. Omo Olu Igbo Soki Redà Omo Ni Não se pode carregar debaixo do braço o filho da mata de Iponda

Algumas considerações sobre as Folhas Sagradas(Ewé)

Algumas considerações sobre as Folhas Sagradas(Ewé) Ko si ewé kosi Orisa "Sem folhas não há Orisa" Desde os tempos remotos ouvimos dizeres, sortilégios, bem feitos com nossas Ervas Sagradas, temos referências de muitas em nossas vidas atribuídas em tudo que passamos a Ingerir, digerir, sentir, tais sensações despertam diversas sensações, como Bem-estar, vibrações que passam por nossos músculos a cada sentido que se choca com nosso corpo físico, sim a Energia da Natureza, a Energia do Orisa, a energia do Mundo. Existem diversas folhas com diversas finalidades e combinações, nomes e considerações dos nomes, fato que muito impressiona a quem as manipulam dentro de Asé. Temos que ter muitas consciência de como usá-las para que não sejamos pegos de surpresa por energias que são invocadas quando a maceramos, quando colocamos o sumo da Erva em contato com nosso corpo, quando a colhemos. Ewé, assunto este muito diversificado, muito delicado porque cada nação traz seu ritual porém folha é para mesma finalidade, trazer energias boas e positivadas, tirar energias ruins e maléficas em muitos casos, trazer resposta de algo se é necessário para o individuo que a usa. Abaixo aqui deixo alguns de meus conhecimentos em Ewé e que Ossanyin ouça sempre nossas Aduras (Rezas): Nome Yorubá- Àbámodá Nome científico - Bryophillum calcinum/ Kalanchoe pinnata Nome popular- Folha da Fortuna, folha grossa, Milagre de São Joaquim Considerações: Usadas em Cerimônias em Ilè Ifé, Terra de Ifá, para Obatalá e Yemowo conhecidas nas terras de Orisas como Erun odundun, Kantí-Kantí, Kóropòn segundo Pierre Verger. Alguns de seus nomes tem significado importante, Àbámodá significa "o que vc deseja vc faz",mas caso necessária para outras atribuições como substituta do Odundun (Folha-da-Costa), deve ser chamada erú odundun cujo nome significa "Escravo de Odundun", é uma folha muito positiva e considerada de muito prestígios pelos adeptos, em suas folhas nascem brotos nas bordas cujas este representam sinal de prosperidade, fato esse de ser importante na composição do Àgbo. No Brasil considerada do Orisa Sango por muitos Zeladores porém muitos a usam para os Orisas Funfun Como Osala e Ifá. Uso medicinal- Diurético e sedativa, combate nevralgias, encefalias, dores de dente afecções das vias respiratórias, externamente contra doenças de pele, feridas. furúnculos, dermatoses em geral . Nome Yorubá-Ajobi,Ajobi Pupá, Ajobi oilé Nome científico- Schinus therebenthifolius Nome popular- Aroeira-comum, aroeira vermelha, pimenta do Peru Considerações: Encontradas em regiões nordeste sudeste e Sul, nos candomblés jeje-nagôs são usadas nos sacrifícios de animais quadrúpedes forrando-se o chão com ela, agrada muito o Orisa para o sacrifício. As Crenças enraizadas dizem que pela manha esta Ewé pertença a Ogun a tarde pertença a Esu e ainda sirva para vestir Ossanyin. Seus galhos são utilizados para ebós e sacudimentos. uso na medicina: Anti-Reumático,sua resina serve para combater bronquites crônicas casca quando cozida, indicada contra feridas, tumores , inflamações em geral, corrimentos e diarréias. Nome Yorubá-Ajobi Funfun, Ajobi jinjin Nome Científico- Lithaea molleoides Nome Popular-Aroeira branca, aroeira de fruto do mangue, aroeirinha. Considerações: Encontradas nos estados do nordeste ao sul principalmente, usada em sacudimentos, sendo considerada uma folha gún( quente), utilizadas em banho de descarrego porém seu uso é muito restrito pois não se deve levar esta folha a cabeça para banho. Em algumas casas é proibido seu uso pois dizem as crenças, que está folha desprende emanações perigosas a quem dela se aproxima necessitando uma cautela significativa para colhê-la, reações, como perturbações na pele e nos olhos, Uso na medicina: Excitante e diurética , o cozimento da casca serve para combater diarréias infecções das vias urinarias..... Algumas informações tiradas do livro de Estudo Ewé Orisa de José Flávio Pessoa de Barros, conhecedor nato das folhas. Nome Yorubá- Akòko Nome científico- Newboldia laevis Seem Nome popular-Acoco Considerações: Origem África, considerada arvore abundante, provedora de Propriedade, assim diz as explicações no livro Ewé Orisa de José Flavio Pessoa de Barros, Atribuída ao Orisa Ossanyin e Ogun, esta Arvore na África acomoda em suas sombras assentamentos do Orisa Ogun onde seu culto é Extenso ,na cidade de Iré . Também usada no culto aos Ancestrais goza de muito prestigio em nossa Religião. Nome Yorubá- Amúnimúyè Nome científico- Centratherum punctatum Nome popular- Balainho de velho, perpétua Considerações: “Planta considerada misteriosa devida atribuição de seu nome cujo “significa “ apossa-de de uma pessoa e de sua Inteligência”, por isso usada na iniciação e no agbò de Orisa seu objetivo facilitar o transe do Iyawo que está pra nascer, porém esta folha detém este nome pela relação que tem com uma Lenda e que Ossanyin da um preparo para Ossossi beber, no qual depois caiu em um esquecimento profundo passando acima morar nas matas com Ossanyin. Ressalto que este preparo vai muitos outros ingredientes no entanto está Ewé seria considerada indispensável junto a outras. Nome Yorubá- Apáòká Nome científico- Artocarpus integrifolia Nome popular- Jaqueira Considerações: No livro Ewé Orisa esta arvore de Origem Indiana medra em diversas regiões inclusive África e Brasil. Apáòká significa Opa= cajado, cetro+ Oká= serpente africana, nome de uma entidade fito mórfica considerada a mãe de Osossi, cultuada em uma Jaqueira.É uma arvore Sagrada, suas folhas são usadas para assentar Esú e em banhos para os filhos de Sango, porém seus frutos não devem ser consumidos por esses iniciados Seu nome na África Tapónurin cita Verger. uso medicinal: Os caroços da Jaca assados ou cozidos são afrodisíacos, a folha é usada como estimulante, antidiarréico, antiasmático e expectorante. Citação de Joje Flávio Pessoa de Barros. Nome Yorubá- Étipónlá Nome cientifica- Boerhaavia difussa L. Nome popular- Erva Tostão, bredo de porco, pega pinto, tangaraca Considerações: Encontrada em todo território nacional atribuída a Sango e Oya goza de grande prestígio nos terreiros como planta "contrafeitiços", ao atribuí-la ao banho deve se ter cautela pois em demasia pode provocar reações alérgicas no corpo.reverenciada nos rituais de folha com korin (Ifá owó ifá omo, Ewé Étipónlá 'Bà Ifá orò' cujo significado diz:" Ifá é dinheiro, Ifá são filhos, a folha de Étipónlá é abençoada por Ifá " uso medicinal: combate afecções renais e das raízes desta Planta se faz um vinho que é diurético e regularizador das funções hepáticas. Nome Yorubá- Ewé Ogbó Nome cientifica- Periploca nigrescens Nome popular- Cipó-de-leite, orelha de macaco, folha de leite, Rama de leite. Considerações: Planta trazida do continente africano pelo povo Nagôpara o Brasil, encontra-se em florestas sombreadas ou nos próprios terreiros de Candomblé. Todos os iniciados podem usá-la sem restrição porém seu dever que é tirar a consciência do filho de santo só é ativado quando combinados com outras folhas. Dizem os mais velhos que a estória dos Orisas narra esta folha como a primeira a se liberada por Ossanyin quando se fez o Vento de Oya, passando a ser folha de Ossossi porém em algumas outra nações ela é quista com folha principal de Osala, citação de minha pessoa. Uso Medicinal: Tratar Epilepsia. Outros nomes que são atribuídos a ela são, Ogbó funun, Ogbó pupa, Asogbókan, Asóbomo e gbólogbòlo, cita Verger. Nome Yorubá: Ewé Ojúùsajú Nome cientifico: Petiveri Alliacea L. Nome Popular: Guiné, guiné pipiu, erva-guiné, erva de alho. Considerações: Folha encontrada em todo território nacional, porém Verger diz que está Ewé foi levada do Brasil para Nigéria. Usada para defumações e sacudimentos de pessoas e de casas cujo ação é contra Eguns e "Esus" negativos e em banhos para lavar fios de conta e até cabeça de filhos de santo, atribuída a Ossossi e a caboclos. Na África usada por Babalawos para combater feitiços e obter respeito de "Yami" cita Verger. Os filhos de Osala e Yemonja em cuba são proibidos de usar esta folha, pois é considerada Ewó em suas origens. Uso medicinal: Contra dores de cabeças, enxaquecas, nervosismo e falta de memória, porém em muita quantidade pode atingir as vistas chegando provocar até perda da visão pois é uma Ewé tóxica principalmente a Raiz. A Tintura que se obtém desta Ewé tem uso externo em fricções no combate a paralisia em geral e reumatismo e a raiz usada contra dor de dente. Salvo Professor José Flavio Pessoa de Barros Nome Yorubá- Ewé Lárà Funfun Nome cientifico- Ricinus communis L. Nome popular- Mamona, Mamona Branca, mamoneira, Palma de Cristo. Considerações: De origem Africana que era encontrada no Antigo Egito. Ocorre com muita fartura em todo território nacional. Folha com diversas finalidades nas festividades como Olubajé ritual de Obalwuayie, Sassanhe, Ebós etc... Atribuída a Osala é uma folha muito usada pelos adeptos, sendo indispensável em alguns rituais. Uso medicinal: As folhas cozidas com sal podem aliviar o inchaço dos pés, e contra prisão de ventre uma vez que esta Ewé possui uma semente que paralelamente é absorvido dele o óleo de Rícino, é purgativo. Texto e Adaptação de Amaro Santana Silva Netto(Babalossanyi)

REFLEXÕES DA RELIGIÃO AFRO BRASILEIRA

REFLEXÕES DA RELIGIÃO AFRO BRASILEIRA Nota-se no Brasil um maior interesse público pela religião, por parte da classe média. Há um aumento de oferta de “bens religiosos” (Berger) advindos do aumento do neopentecostalíssimo, da Nova Era; e, de interesse pelas religiões afro-brasileiras, Candomblé e Umbanda. Estas são “consumidas” como produtos mágico-terapêuticos. Diferente da relação estabelecida com as classes baixas, médias-baixas e média-alta, onde o interesse religioso sempre foi presente. Existe, nesse caso, uma “comunidade religiosa” em torno do Terreiro. Este é uma comunidade de tipo “família alargada”, em que a “iyá” ou o “baba”, mantém vínculos não sanguíneos com seus “filhos” e agregados. Pode-se afirmar que na produção dos estudos das religiões afro-brasileiras, poucos autores incorporam discussões de multiculturalidade e pluralismo religioso, percebendo no “sincretismo” aspectos não só positivos, mas também os negativos de assimilação. Se, como em Jensen da Dinamarca, há um interesse político nos estudos da religião, cabe perguntar: qual seria o interesse político que domina os estudiosos brasileiros? A resposta é óbvia, visto que o cosmopolitismo imposto no Brasil desde a época colonial é um colonialismo cultural que elimina as condições de vida do “Outro” (negro/indígena); sua cultura e identidade, assimilando-o em uma “máscara” branca européia. Com essa máscara, as religiões africanas e indígenas (ou afro-indígenas) são cristianizadas. Apontam como positivo no modo brasileiro tradicional de estudo das religiões, o esforço para “desteologizar” esses estudos e baseá-los em uma teoria antropológica. Passando do “estudo das coisas divinas para o estudo das coisas humanas e sociais”. No Brasil, o esforço parra se pensar uma teoria e metodologia não têm sido feito de uma boa forma. Há um considerável atraso em torno das questões dos estudos “interculturais comparativos”. Estes são vistos na Dinamarca como um “sine qua non” para que os estudos da religião tenham um caráter científico. Em vez disso no Brasil, mesmo tendo estudos “desteologizados”, ainda há diferenciações étnicas de valor em relação às diferentes religiões. Ou seja, há uma “cristianização” de termos, conceitos e pontos-de-vista, e as análises de outras tradições religiosas são feitas desde a perspectiva branco-europeia de alguma forma com aspecto negativo quanto sua prospecção dentro dos conceitos religiosos africanos. Não há políticas ou organismos públicos que tratem das questões das diferentes religiões, como “iguais” em valor social e político. Assim, o catolicismo romano mantém historicamente com o Estado uma relação de vantagens mútuas e de legitimidade. Exemplo: nenhuma capela ou igreja católica precisa de autorização em cartório para abrir e funcionar, o que não acontece com outras denominações cristãs e muito menos com os terreiros-de-santo. Ainda no que se refere à politização da religião, não se percebe no Brasil um interesse por parte dos estudiosos em responder às demandas públicas em torno da religião. Mesmo porque, no Brasil, as demandas políticas em torno da religião, como em outros aspectos, são claramente demandas de classes sociais muito diferentes. Questiona-se a participação dos estudiosos na “batalha do campo cultural e político” na Dinamarca; pois percebe que o interesse público pela religião é a-crítico. Da mesma forma, não se percebe no Brasil, tão pouco, uma participação política da maioria dos estudiosos. Talvez, essa atitude já reflita posições políticas conservadoras ou ideologias condizentes com o status quo. Há, no entanto, entre a “intelectualidade social” (W. N. Barbosa), em muitos terreiros, pais e mães-de-santo que trabalham pela mobilização, conscientização e valorização do negro brasileiro, do “mestiço” e também do branco pobre. Esse aspecto político-social das religiões afro-brasileiras, quando percebida pelos estudiosos, é fator de mudanças. Cito o professor Wilson do N. Barbosa: “Despertar o interesse, para aumentar o número de pesquisadores destes temas. Tudo isso leva a uma compreensão maior da nossa cultura, pois quanto mais entendermos de todas as culturas, maiores se tornam as oportunidades de um desenvolvimento multilateral da humanidade”. A maioria de estudiosos aponta a cultura negra não como uma cultura e sim como “mito”, pois, por mais que ocupe os espaços, estes não são apropriados juridicamente. Assim, ao longo da história do Brasil, foi negado à população negra acesso à propriedade, impedindo-a de dar materialidade a sua cultura. Pode-se discutir esse fato tendo em vista a discussão de Jensen sobre o ensino religioso nas escolas públicas. Qual o espaço (físico e simbólico) da cultura (religião) negra nas escolas públicas, ou na sociedade brasileira em geral? No Brasil passa-se longe de um debate em uma sala de aula sobre essa questão. Por muito tempo o ensino religioso foi ministrado por padres, freiras e leigos católicos professores da escola pública. As crianças de outras denominações cristãs passavam por constrangimentos em sala de aula. Crianças de outras religiões, provavelmente não eram diferentes se chegassem a serem identificadas. Poucas discussões na década de 90 tentaram alterar essa situação; mas, não houve mudanças significativas. As aulas continuam sendo ministradas por professores que trabalham tão somente com o cristianismo. Pode-se incluir, ao caso brasileiro, o problema da criação dos valores culturais étnicos. A importância de discussões multiculturalistas nas escolas permanece um desafio. Também para os estudiosos da religião, permanece o desafio de desenvolver trabalhos que englobem política, religião e identidade, para a defesa de um “estudo não-teológico secular das religiões, como também uma sociedade pluralista secular”. Haveria, assim, espaço para a “comunidade dos despossuídos” (W. N. Barbosa) e para uma “descristianização” dos estudos da religião no Brasil. Fonte - As reflexões partem do texto de Tim Jensen – O estudo das religiões na Dinamarca. Revista Imaginário do Instituto de Psicologia da USP Adaptado por Ifatola

ORIXAS FORÇAS DA NATUREZA

Escrito por Obanise Xandi.'.. Orixás são elementos da natureza, cada orixá representa uma força da natureza. Quando cultuamos nossos orixás, cultuamos também as forças elementares oriundas da água, da terra, do ar, do fogo, etc. Essas forças em equilíbrio, produzem uma enorme energia (asé), que nos auxilia em nosso dia a dia, ajudando para que nosso destino se torne cada vez mais favorável. Sendo assim, quando dizemos que adoramos deuses, nós nos referimos a estarmos adorando as forças da natureza, forças essas pertencentes a criação do grande pai. Pai esse conhecido por nós como "Ólorun"ou Olodumaré (Deus supremo). No Brasil, erroneamente, diz-se que Oxalá é o pai maior. Na verdade, Oxalá é um dos mais velhos, Orixá Fun Fun* (Nota: quando nos referirmos a Ifá/Iyami, a fim de não criar confusões, pedimos que visitem o nosso portal Matriz Afro para ter esclarecimentos mais abrangente e técnicos sobre a senhoridade e Cronologia) Orisála por ser sincretizado no Brasil com Jesus Cristo, é cultuado como "Orisá maior", no Brasil o mais respeitado e o mais velho entre os Orixás. A grande maioria das nações africanas anterior a era cristã, conheciam a existência de Ólorun como grande criador, ser fundamental. Acreditamos que nosso Deus "é o todo". E o todo é a natureza e seus integrantes (animais, vegetais, homens, planetas, etc.); Nota: Olorun está acima da vaidade pessoal e de religiões que buscam sempre monopolizar o seu poder. Nosso Deus jamais pune seus filhos tão pouco os condena a fogueira eterna, também, nunca os entregou ao seu maior inimigo (Satanás) após cometer erros divinos chamado de pecados eternos, nosso Deus não destrói países e não aniquila civilizações de filhos amados por ciúmes quando não adorado, amado ou seguido... Como pai, jamais deixaria de perdoar meus filhos, tão pouco, condenaria-os ao extermínio por erros que cometem ou possam cometer. O verdadeiro pai perdoa, ensina, ama e protege seus filhos. Portanto, nosso Deus é um pai mais perfeito que qualquer outro pai... Tão perfeito e superior que que não conseguimos associar-lo a imagens, planetas, Orixás, pessoas, etc. Nosso Deus é Universal, é um "todo" inimaginável em forma,sexo, mas, sentido em energia e fé. Pois tudo a ele pertence e tudo dele nasce. Como já havíamos comentado, nosso panteão nada mais é que a junção das energias de todo os elementos da natureza, cada elemento e força da natureza é por nós representado por um "Orixá", um antepassado divinizado, e cada energia se revela em caminhos através de "Odús", estes interpretados por nossos sacerdotes que são iniciados em IFÄ e por anosm preparados para a intepretação, com fundamentos filosóficos e espirituais. Orisá não se limita ao Africano porém, por ser a África o berço da civilização humana, de lá nasceram as mais antigas energias, por muitas ramificações e associações como ZEUS(Grécia) a XANGÔ(Sango): Áres Deus da Guerra (Ogun); etc... A perpetuação do culto aos nossos Orixás se fazem presentes Hoje. Pois é a mais antiga e única religião ancestral que ainda se permanece viva e fiel a origem em filosofia e culto com muita aproximação ao seu berço cultural na Äfrica; que possui a mais variada seguimentação de cultos associados e adaptados a culturas regionais de diversos países, como no Brasil onde possúi na maioria de seus cultos a Orixá, mesclagem com espiritismo, catolicismo, pajelança, catimbó etc. Ex: a Umbanda. Outras, mantendo-se fiel às origens, porém, buscando cada vez mais o resgate de conceitos e, "ingredientes filosóficos e espirituais" junto a Babalaôs e Oluwos africanos que vem ao Brasil e contribuem com a nossa cultura com ensinamentos que pelos séculos, aqui foram mesclados ou naturalmente distorcidos. Não podemos deixar de mencionar que muitos Babalaôs ficam espantados ao ver que ainda se mantém viva, nestes países, nomes, rezas, Orisás que a muito na Äfrica foram esquecidos e, mesmo com a modificação natural de cultuação pelas adaptações regionais/culturais em relação ao seu culto original, a lembrança e a perpetuação do nome e origem, ainda podem ser encontrados nestes cultos descendentes. É comum no Brasil associarmos pessoas a influências de um ou dois Orixás específicos, dizendo-se que a mesma rececebe esta energia e que isso justifica a maioria de sua conduta e atos. De certa forma, não é inverdade esta associação, pois realmente Orisá exerce influência a quem está sobre o designio da sua energia em seu caminho. Porém, não podemos dizer que a pessoa que está sendo regida por determinado Orixá, que este mesmo seja FILHO exclusivo, pertencente ao mesmo e, que por sua vez, seu destino esteja ligado as vontades do Orisá. Nossas vontades são regidas por nossa consiência, e nossa consciência alimentada por nosso ORI (Nosso Deus/Nosso EU) cujo as nossas escolhas e atos estão intrisecamente ligados a nossa personalidade e caráter, tais qualidades que Orisá algum têm o poder de modificar sem que nosso Ori esteja em harmonia com o universo. Exemplo: Os filhos de Ossain possuem mais energia voltada para as curas e plantas do que os filhos de Ogun que possuem por sua vez, detém mais energia voltado à armas,guerras, metais, ferramentas, etc. "Em relação ao caráter e a harmonia de nossa consciência (Ori) com o universo e com os nossos semelhantes, gosto de usar uma frase/exemplo que vem a exemplificar bem esta correlação entre Ori e Orisá. - Uma pessoa filha de Ogun, pode ter a influência do Deus da Guerra em energia, portanto, são pessoas "inclinadas" a terem caráter explosivo, serem desapegados e gostarem de lidar com armas e ferro (metais); Nos aprofundando mais nesta analogia, por conseguinte, muitos policiais, bandidos, lutadores, são pessoas que sofrem mais influência desta energia. Eis a grande pergunta: - O que diferencia a pessoa ser Policial ou Bandido, já que são influenciados pelo mesmo Orixá e podem até terem o mesmo poder "em mãos de uma ARMA/METAL"? Resposta: O Carárer, a harmonia com o semelhante, consigo, e com o Universo... Enfim, "SEU ORI", seu "Deus pessoal" que lhe dará a consciência e discernimento para fazer o certo e seguir o caminho do bem... Mesmo que este venha a usar as mesmas armas dos que seguem o caminho da desarmonia..." Obanisé Em resumo, quase todos os Orixás tiveram uma curta passagem pelo nosso mundo, sendo muitos ancestrais divinizados que após fatos heróicos ou divinos, e por possuerem energia extrema, maior que a capacidade humana poderia suportar, encantaram-se e/ou retornaram ao Orun (céu), deixando para nós segredos e ensinamentos, encurtando a ligação do material ao espiritual. Ligação essa que nós preservamos e usamos não só para nós, mas também para as pessoas que nos procuram, mesmo sem ter ligações diretas com a religião. Essas ligações são em sua grande maioria revelados por IFÁ, cujo veremos na parte relacionado a Odús. Em nossa religião, é fundamental a integração com a natureza, pois quanto maior o contato com a natureza, maior será seu desenvolvimento, sua energia, seu asé e portanto, maior será o cordão (elo) de ligação com seu Orixá aproximando mais de Olorum (Deus criador/construtor de todo o universo). Orixá significa também o caminho que nos guia em determinados pontos de nossas vidas, caminhos revelados por Ifá onde se faz necessário o devido culto para que os que dele necessitam, seguir e equilibrar sua energia durante o tempo que permanecerá no aiye (terra). Entre todos Orixás, salientamos o de maior e incontestável importância que é ORI, seu Deus pessoal, sua identidade, sua consciência viva e presente, que antes de tudo deve ser muito bem cuidada, alimentada e equilibrada para que se possa ter a consciência e o o equilíbrio mental para possuir ou ser conduzido na Energia pura de Orixá (Orisá). Finalizando: energia = natureza; natureza = Orixá; Orixá = caminho. Texto Obanise

A RELIGIÃO DO ORIXÁ

http://www.orixas.com.br/index.php/artigos/5-o-candomble-e-orixa-yoruba Escrito por Obanise Xandi.'.. A RELIGIÃO DO ORIXÁ Muito são as publicações referente a verdadeira origem da religião dos orixás na África. Alguns historiadores, associam Odudwua o "conquistador", com Nimrod; também citam a semelhança do método de consulta a Ifá (oráculo), com a kaballah judaica; dan a serpente telúrica representando a eternidade, com a dan serpente referente a umas das doze tribos de Israel e outras. Ou seja, muitos historiadores afirmam que os yorubás possuem descendência judaica. Outros defendem somente a tese que: os Orixás são antepassados divinizados de antigos reis africanos, assim como generais e sacerdotes; que tiveram suas façanhas eternizadas nas histórias dos antigos. Lendas repassadas de geração em geração aos descendentes dos reinos e tribos africanas e posteriormente difundida em novas culturas readaptadas como as Egipcias, Gregas, Celtas, etc... Em suas pesquisas, constataram a presença de influencias egípcias e fenícias na cultura yorubana e, vice-verso. Verger mostrou em suas obras, que nossa origem é remota a muitas outras conhecidas, como gregas e romanas. Pois temos orixás em nosso culto que são anteriores a conquista e conhecimento do metal. Verger também tratou de mostrar a semelhança existente entre nossos deuses e deuses gregos, como por exemplo: Zeus: deus grego do trovão e dos raios, tem como símbolo um machado duplo. Xangô: deus yorubá dos raios e trovões, tem como símbolo um oxé (machado de duas lâminas). Certamente em meio a tantos estudos, podemos afirmar que em um vasto continente como o africano, é certo que todas as teses são corretas. Aos poucos, todas estas origens regionais, fundiram-se formando uma cultura sólida e única, que conhecemos hoje como a cultura dos orixás; verificadas em todos os povos yorubanos e africanos, com seu Sango, Oduduá, Obatalá e demais reis, guerreiros e sacerdotes, eternizados e associados com as energias da natureza (florestas, animais, rios, oceanos, etc.) Onde em diversos países descendentes, são louvados e suas histórias narradas aos iniciados, afim de servir de exemplo de conduta e fé, associada a natureza e bem estar da sociedade. Tal como em livros seculares, editados como por exemplo: a arte da guerra do general chinês "sun tzu" vendido no mundo todo, narrando suas condutas e táticas de batalhas, transformadas em auto-ajuda, associada a negócios e condutas para os dias atuais. Nós também ensinamos a nossos seguidores, as histórias de nossos reis (Sango) de nossos generais milenares (Ogun) etc. Com suas táticas, seus erros, suas virtudes e glórias; afim que possam ter como princípio de vida, o equilíbrio associado a normas e condutas culturais de nossos antepassados. E com simbologias e danças em louvor a nossos antigos mestres saudamos nossos Orixás e antepassados, que em energia nos lega seu axé. Sincretismo Nos referimos a sincretismo, quando são associadas duas religiões em um único culto, com suas simbologias e doutrinas mescladas. No caso do candomblé, foram associados imagens de santos católicos a nossos orixás. O que existe uma explicação inconteste e única para tal associação. O sincretismo religioso, nasceu também nas senzalas. Hoje há uma grande diferença de sincretismo de orixás nas nações de candomblé. Na Bahia, Ogun é sincretizado por São Sebastião, no Rio Grande do Sul por São Jjorge, e assim por diante. Na época quando ouve a troca de informações culturais entre os habitantes das senzalas, os negros continuaram a cultuar seus orixás, mesmo após os brancos com sua santa inquisição católica, obrigarem os negros a converterem-se ao cristianismo e trocarem seus nomes originais por nomes portugueses. Quando os negros dançavam para seus orixás, eles colocavam sobre o "assentamento", estátuas de santos católicos para enganar os inquisidores. Como eles cantavam aos seus orixás em seu dialeto primitivo, os padres e fazendeiros, tinham a ilusão que os escravos louvavam os santos católicos na linguagem yorubá. Mas na verdade, estavam usando as imagens destes santos para esconder em seu interior, suas obrigações e verdadeiras simbologias dos orixás. Certamente, os negros assimilaram muito bem os ensinamentos dos senhores brancos, utilizavam as imagens católicas comparando-as aos orixás por aparência ou feitos. Como exemplo: Oxalá com Jesus, oxum e yemanjá com as aparições da virgem maria, oyá/yansan com santa bárbara e assim por diante. Mas cabe lembrar: os negros só usavam as imagens católicas no propósito de esconder suas obrigações, em hipótese alguma, os negros cultuavam os santos católicos como orixás. Mais tarde, algumas casas começaram a surgir, são os primeiros terreiros de candomblé, cujo muitos, dirigidos por mulheres que independente de todo preconceito e perseguição sofridos, conseguiram solidificar no Brasil as primeiras comunidades organizadas, com culto e liturgia próprios aos seus Orixás mantendo muito a semelhança com a matriz africana. Texto Obanise

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

http://religioesafroentrevistas.wordpress.com/2012/02/03/edir-macedo-explica-como-tirar-satanas-dos-terreiros-e-homossexuais/

CADEIA PARA O BISPO EDIR MACEDO POR DESRESPEITAR OS DIREITOS HUMANOS E COMETER INTOLERÂNCIA RELIGIOSA. http://religioesafroentrevistas.wordpress.com/2012/02/03/edir-macedo-explica-como-tirar-satanas-dos-terreiros-e-homossexuais/

CRESCENDO ENTRE ORIXÁS


CRESCENDO ENTRE ORIXÁS
Crianças que praticam candomblé sentem orgulho de sua religião, mas na escola sofrem preconceito, envergonham-se e dizem que são católicas
Por Stela Guedes Caputo* - redacao@fazendomedia.com
Aos 4 anos ele precisava de uma almofada para poder alcançar o atabaque. Escondia a chupeta atrás das costas, vestia uma camisa branca e colocava o colar de Xangô, orixá do fogo, da justiça e de quem é filho. Ricardo Nery atualmente tem 18 anos, mas aos dois anos foi "suspenso", ou seja, apontado ogan por Iansã no terreiro de sua avó, Mãe Palmira de Iansã, o Ile Omo Oya Legi, em Mesquita. Paula Esteves, do mesmo terreiro, tem 20 anos e foi iniciada aos 2 anos de idade, passando a ser conhecida como Paulinha de Xangô. Hoje é iaebé, ou "a mãe que toma conta da casa", importante função no candomblé. Noam Moreira, 14 anos, é filho de Oxalá e ogan do Ile Omiojuaro, em Miguel Couto. Michele, 15 anos e Alessandra dos Santos, 11, anos (os nomes dessas irmãs são fictícios*), são equedes (cuidam dos orixás em terra), no Axé Opó Afonjá, em Coelho da Rocha, todos na Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro. Em toda comunidade-terreiro existem diversas crianças; a maioria é levada pelos pais ou responsável e, assim como os adultos, muitas são iniciadas, desempenham funções importantes, ocupam cargos na hierarquia do culto e manifestam orgulho de sua fé.
O Orixá decide - "Aprendi olhando", dizia Ricardo Nery ainda aos quatro anos, e que sempre bateu com incrível habilidade vários tipos de atabaques. Ricardo também ensina que é o orixá quem determina a função que a pessoa terá na religião. "Ou ele mostra no jogo de búzios ou desce no terreiro, durante uma festa para dizer seu destino no culto. O meu foi ser ogan. Não viro no santo. Tenho de conhecer os toques do candomblé para chamar os orixás. São muitos toques, mas nunca tive dificuldade", revela. E nunca teve mesmo. "Já aos dois anos ele tocava até adormecer e, quando alguém o levava para a cama, despertava e voltava correndo", confirma a orgulhosa avó, Mãe Palmira de Iansã. Amigos desde crianças, Ricardo e Paulinha de Xangô cresceram no mesmo terreiro e contam que a diversão predileta de ambos quando pequenos era "brincar de macumba". Já Paulinha "vira" no santo, desde os 14 anos. "Quando eu era pequena não virava porque tinha medo de morrer se deixasse Xangô entrar em mim. Depois abri espaço para ele e perdi o medo. Hoje, quando incorporo, ando pelo terreiro e Xangô também anda. Danço eu, dança Xangô, mas sei que é Xangô dentro de mim que me movimenta", explica Paulinha.
Filha de Iemanjá, orixá das águas do mar, Joyce dos Santos atualmente tem 21 anos, fez o santo com seis e sete anos e depois realizou sua "confirmação". Passou a ser ebome, o que significa que, se quisesse, desde os 13 anos já podia ser mãe-de-santo e abrir seu próprio terreiro. "Mas não é só fazer a obrigação dos sete anos que importa. O que vale é a vivência, e isso só vem com muito tempo na religião", diz Joyce, que também recebe Oxum, orixá das águas dos rios. "Desde criança era assim. Quando estou com Iemanjá sinto um calor intenso, terrível e parece que o chão vai se abrir. Quando é Oxum eu choro o tempo inteiro. Na hora da incorporação as duas brigam pela minha cabeça, mas quase sempre Iemanjá ganha", afirma.
Quizilas - Adulto ou criança, todo iniciado (feito no santo) convive com as quizilas (èèwó), que são certas proibições determinadas pelo orixá, "dono da cabeça" do filho ou filha-de-santo. Joyce, por exemplo, não pode comer peixe de pele nem lula. "Me empola toda, é quizila de Iemanjá. Se desobedecer minha vida anda para trás", garante. Já Ricardo não pode comer abóbora ou melão porque Iansã não gosta. Mas isso nunca foi complicado para ele. "Eu mesmo não gosto de abóbora ou melão. O problema é que as quizilas também se referem ao que podemos ou não vestir. Adoro rock, mas não posso usar roupa preta, nem camisa com aquelas caveiras porque tem quizila com o santo. Se usar, algo de ruim pode me acontecer", revela o adolescente que traz dois furos em cada orelha. Mas e quanto aos brincos, será que tem quizila com santo? "Com santo não", diz Ricardo. "A quizila dos brincos é com a minha avó. Tatuagem também quero fazer, mas não posso, tem quizila com ela", brinca o ogan.
Preconceitos - Falar com orgulho do candomblé às vezes se limita aos muros do terreiro. A maioria desses adolescentes já foi ou continua sendo vítima de preconceitos. "Quando eu era pequeno uma professora me chamou de filho do Diabo", lamenta Ricardo. O pior, contudo, começou em 1993, quando a Editora Gráfica Universal, do Grupo Universal do Reino de Deus, comprou as fotos de Paulinha, Ricardo, e de uma outra criança de candomblé que foram personagens de matéria publicada em um jornal carioca, em 1992. As fotos, conseguidas eticamente e com o consentimento das famílias das crianças, passaram a ser da agência do jornal carioca e, vendidas, foram usadas de maneira depreciativa no jornal Folha Universal. Não satisfeito, três anos depois, o bispo Edir Macedo publica a 13a edição (1996) do livro "Orixás, Caboclos e Guias - Deuses ou Demônios" (o Ministério Público Federal da Bahia entrou com Ação Civil Pública para pedir a suspensão da venda dessa obra). Na tiragem de 50 mil exemplares, outra vez as fotos de Paula e Ricardo aparecem, agora sob a legenda: "Essas crianças, por terem sido envolvidas com orixás, certamente não terão boas notas na escola e serão filhos-problemas na adolescência".
"Aí foi demais, todos nós sofremos muito", afirma Mãe Palmira, que processou a editora. "As pessoas nos apontavam na rua e nos chamavam de macumbeiro, mas de forma ruim, depreciativa", diz Paulinha de Xangô. "No terreiro em que me iniciei, em Jacarepaguá, fiz as curas, aquelas marquinhas no ombro. Nunca fui com camiseta de manga curta para a escola para não deixar aparecer. Também nunca fui com os colares, tenho vergonha", lamenta Joyce de Iemanjá. As irmãs Michele e Alessandra, do Axé Opó Afonjá, chegaram a freqüentar grupos jovens católicos e até fizeram Primeira Comunhão para se sentirem mais aceitas e escapar do preconceito. "Eu amo os orixás e amo minha religião. O que eu não entendo é que, se podemos respeitar a cultura dos outros, por que não podem respeitar a nossa?", questiona Ricardo Nery.
Lei de ensino religioso pode agravar preconceito
O problema da discriminação sofrida pelas religiões afro-descendentes é antigo e a implantação da Lei 3.459, em setembro de 2000, que estabeleceu o ensino religioso confessional na rede estadual do Rio de Janeiro, não ajuda a diminuí-lo. De acordo com Valéria Gomes, coordenadora de ensino religioso do Rio, dos 500 professores de ensino religioso aprovados no concurso realizado em janeiro de 2004, 68,2% são católicos, seguidos de 26,31% evangélicos (de diversas designações) e 5,26% de "outras religiões". Neste último grupo estão professores de umbanda (com cinco contratações); o espiritismo segundo Alan Kardek (três), a Igreja Messiânica (três) e um professor mórmon. A secretaria informou que nenhum professor de candomblé foi contratado porque não há registro de alunos que praticam candomblé.
Separados por credo - A meta, segundo Valéria, não é discriminar. "Queremos que professores católicos ensinem a alunos católicos e evangélicos a evangélicos, por exemplo. Mas as turmas ainda não estão separadas por credos; enquanto isso, nosso objetivo é passar valores", explica. Contudo, de 12 professores de ensino religioso entrevistados, nove revelam utilizar trechos da bíblia que sejam comuns para católicos e evangélicos no conteúdo pedagógico de sua disciplina. Muitos utilizam textos do padre Marcelo Rossi. Uma educadora entrevistada nega que o objetivo da lei seja converter alunos, mas revela: "No ano passado eu tinha uns oito alunos que eram ogans, mas acabaram entendendo que estavam errados e hoje não são mais", comemora. Os professores entrevistados também afirmam que, apesar da matrícula nesta disciplina ser facultativa, como as escolas não conseguem elaborar outras atividades para os alunos que não queiram cursá-la, a freqüência é quase total.
Críticas - Para o deputado estadual Carlos Minc (PV-RJ), a Lei do Ensino Religioso no Rio é espantosa e só existe de maneira confessional neste estado. O parlamentar afirma que já imaginava que crianças e adolescentes de outras religiões, inclusive as de candomblé, seriam ainda mais discriminadas. "Entramos com ação no Supremo Tribunal Federal. O próximo governo pode aprovar outra lei anulando a atual. Todos estes professores são licenciados para ensinarem outras disciplinas do currículo e não serão prejudicados". Para Minc, o Sindicato Estadual de Profissionais da Educação (SEPE) e todas as faculdades de educação deveriam "comprar essa briga" e trabalhar para que os professores sejam mais pluralistas.
A lei também não agradou a Palmira de Iansã e Beata de Yemanjá, conhecidas e respeitadas Mães-de-santo da Baixada Fluminense. "Se a escola quer se meter com religião, ela deve ensinar a história de todas as religiões e não discriminar ninguém", afirma Mãe Palmira. "Se a escola discrimina os alunos de candomblé, a escola não merece nenhum respeito", sentencia Beata de Yemanjá.
* Stela Guedes Caputo é jornalista e Doutora em Educação pela PUC-Rio. Defendeu tese com o tema "Educação nos terreiros e como a escola se relaciona com crianças que praticam candomblé", em julho de 2005. Os nomes dos professores de ensino religioso foram preservados. Os nomes das irmãs Michele e Alessandra são fictícios porque elas ocultam sua religião na escola para não serem discriminadas.

http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0114346_05_cap_01.pdf


Educação nos terreiros
E como a escola se relaciona com crianças que praticam o candomblé.

http://redeafrobrasileira.com.br/forum/topics/plano-de-poder-de-edir-macedo-entra-em-sua-segunda-fase


Plano de Poder - próxima etapa Presidência da República - você dúvida?

http://odemutaloia.blogspot.com.br/



DENÚNCIA ESCANDALOSA ENVOLVENDO A IGREJA UNIVERSAL E EDIR MACEDO


CANDOMBLÉ E UMBANDA - ABASSÁ LAMBANRANGUANGE - SERRA, ESP. SANTO


Educação nos terreiros 
E como a escola se relaciona com crianças que praticam o candomblé 



Àgbà-Ìjénà/Àpá k’ómo re i wá1

(Senhor, guardião do caminho, prodigalidade traz para seus filhos). 


1 – Introdução 

  

Noite de terça-feira, 13 de outubro de 1992. Chego com a equipe de 
reportagem do jornal O DIA, onde trabalhava como repórter, ao Centro Espírita Ilê 
Omo Oya Leji, em Mesquita, na Baixada Fluminense. A pauta da reportagem era 
mapear os terreiros de candomblé da região. Cruzei o quintal do terreiro, e 
cheguei ao barracão onde acontecia uma festa. Os filhos e filhas-de-santo 
cantavam e dançavam, as saias rodadas  coloriam o ambiente, os colares de 
lindas contas logo me chamaram a atenção, o som dos atabaques quase me fazia 
dançar e uma cantiga que marcava o início de uma festa de candomblé enchia o 
ambiente: 

Ògún wá jó (Ògún vem dançar) 
E màrìwò (Com o màrìwò) 
Àkòró wá jó (título de Ògún) 
E màrìwó (Com o màrìwó) 
Ògún pa lépa’ na(n) (Ògún limpa os caminhos) 
Ògún wá jó (Ele vem dançar) 
E màrìwó (Com o màrìwò) 
E máa tu eiye (Fazendo o sacrifício com o pássaro!) 
A wá siré Ògun o (Vamos à festa de Ògún) 
E rù jòjò (Levando nossas roupas finas).
2


                                                 
1
 Escolhi algumas frases em Yorubá (Santos, 1993) para abertura de alguns temas. 
2
 Tradução de um dos cânticos do terreiro. In: Beniste, José, 2002, p. 129.   23
Comecei a anotar, conversei com algumas pessoas até que meu olhar 
chegou ao fundo do barracão. Sentado em uma almofada, com a chupeta 
escondida atrás das costas, de camiseta branca, um colar de Xangô3
 no pescoço 
e batendo um atabaque estava o menino Ricardo Nery, então com quatro anos, 
ogan4
 do terreiro de Mãe Palmira, sua avó. E foi o próprio Ricardo, tímido, mas 
muito sério quem começou a me  explicar o que era um ogan. “Eu toco para o 
orixá”.  Perguntei como tinha aprendido. “Aprendi olhando”, disse-me ele. A 
surpresa foi grande, afinal, não passava pela minha cabeça que crianças 
pudessem desempenhar funções consideradas de adultos em terreiros. 
Obviamente, a pauta de minha reportagem mudou. Alguns dias depois, o jornal 
publicou página inteira com o seguinte título: “Os netos de santo”.  
Digo isso nessa apresentação porque quero partilhar o primeiro momento 
em que olhei o que ainda não era, mas que ao longo de 13 anos foi se tornando o 
objeto de minha pesquisa. Em geral,  quando lemos uma tese de doutorado ou 
dissertação de mestrado, temos a impressão que seu autor ou autora tinha, desde 
o início, o objeto pronto, a metodologia definida, a bibliografia arrumada. Sabemos 
que não é assim e do quanto custa chegar a  sistematizações como essa que 
apresento agora.  

1.2 - Para não mutilar a pesquisa 

Apesar de saber, continuamos mutilando nossas pesquisas pelo menos de 
duas formas. A primeira mutilação que fazemos é quando nos livramos do 
processo e apresentamos apenas o  resultado. E mais, apresentamos esse 
resultado como se ele sempre fizesse parte de uma questão teórica pronta, 
arrumada e amalgamada em nossas cabeças. Cometemos essa primeira 
mutilação talvez porque,  do ponto de vista acadêmico, pareça mais positivo 
apresentar o percurso trilhado sem os tropeções, as confusões, sem a hipótese 
                                                 
3
 Orixá do trovão e da justiça. [Sàngó – em iorubá].  ( Prandi, 2003, p.570). 
4
 Também grafado como Ogã. Na África, alguém  que ocupa cargo superior, mestre; no Brasil, cargo 
sacerdotal masculino do candomblé,  incluindo o tocador, o sacrificador e homens de prestígio ligados 
afetivamente aos grupos de culto. (Prandi,2003, p. 568).   24
relativizada, abandonada e outra ‘hipótese quem sabe reconstruída, sem os 
atalhos equivocados pelos quais enveredamos, sem os momentos em que nos 
perdemos e não sabemos por onde ir, sem as boas ou más surpresas vindas do 
campo pesquisado, sem a nossa vida cotidiana interferindo na pesquisa e sendo 
modificada por ela. 
Em “Introdução a uma sociologia reflexiva” (1974), Bordieu nos adverte 
dizendo que o  homo academicus gosta do acabado e, a exemplo dos pintores 
acadêmicos, faz desaparecer dos seus trabalhos qualquer vestígio da pincelada, 
os toques e retoques. No mesmo texto  se revela chocado ao descobrir que 
pintores como Couture (mestre de Manet) tinham estragado obras julgando dar-
lhes os últimos retoques, exigidos pela moral do trabalho bem feito, bem acabado, 
de que a estética acadêmica era a expressão. 
Cometemos a segunda mutilação porque continuamos lendo Bourdieu, mas 
ignorando suas orientações. No mesmo texto anteriormente citado, nosso autor 
assinala:  “Com efeito, as opções técnicas mais “empíricas” são inseparáveis das 
opções mais “teóricas” de construção do objeto.” (Bourdieu, 2000, p.24). 
Na maioria de nossos textos, nos dizemos conscientes do equívoco dessa 
distinção, mas apresentamos uma parte teórica esquartejada da parte empírica de 
nossa pesquisa. Assim, procurei construir este trabalho sem mutilar teoria e 
metodologia por concordar  absolutamente com Bourdieu. Da mesma maneira, 
tento não separar resultado de processo para não dar conta apenas de um porquê 
iniciei a pesquisa e de um o quê encontrei sem apresentar ao longo desse texto, 
um como ele vem sendo construído e, da mesma forma, de como, ao construí-lo, 
venho me transformando junto com ele. Nunca me fez tanto sentido a frase de 
Guimarães Rosa: “O real não se dispõe no começo ou no final, mas no meio da 
travessia”.  
   25



Reprodução da matéria que publiquei em “O DIA”, no dia 25/10/1992   26

1.3 - Construindo a questão 
Da reportagem ao problema 


Não pratico nenhuma religião, ou melhor, não acredito em Deus. Aliás, 
preciso dizer que sou marxista e foi como atéia e marxista que, ao chegar ao 
terreiro pela primeira vez, em 1992, senti que não nutria grandes simpatias para 
com o candomblé.  E mais: para falar a verdade, no fundo rejeitava a idéia de que 
crianças devessem ser iniciadas. Falo isso de mim para que se saiba que aqui vai 
inventariado o que levantei no campo pesquisado, mas que também eu faço parte 
desse inventário.  
Apesar de minha opinião, na época, busquei fazer um texto (se é que se de 
pode dizer) “isento”, ouvindo crianças, pais e mães, ouvindo também posições 
favoráveis e contrárias à iniciação infantil. Consultei ainda um especialista e estive 
na escola de Ricardo para falar com sua professora e saber se o fato dele ser 
ogan prejudicava seus estudos. “Não atrapalha não, pelo contrário, ele é meu 
aluno mais esperto e está sempre atento para novos ensinamentos”, disse-me 
Patrícia Sobral, professora da Escola Cantinho Feliz, em Mesquita, onde Ricardo 
fazia o maternal.  
A matéria teve excelente repercussão junto aos terreiros da região e dei por 
encerrado o assunto. O fato, porém é que  volta e meia eu olhava as fotos de 
Ricardo e via suas mãos pequenas e gorduchas batendo com uma incrível energia 
o hun (o maior atabaque do terreiro feito de madeira e couro de cabrito e um dos 
mais difíceis de ser tocado). Olhava também as fotos de Michele dos Santos5
entregue por sua mãe a Oxum6
 ainda no ventre e Paula dos Santos, iniciada aos 
dois anos e, desde então, Paulinha de Xangô.  
                                                 
5
 Michele tinha 2 anos na época da matéria publicada. Este nome é fictício porque Michele hoje tem 15 anos, 
e, na escola, não assume que é do candomblé. Ela e a irmã escolheram os próprios nomes com os quais 
gostariam de ser identificadas nesta pesquisa. 
6
 Orixá do rio, deusa das águas doces, do ouro, da beleza e da vaidade; uma das esposas de Xangô (PRANDI, 
2003, p.570).   27
Tuahir, personagem do livro “Terra Sonâmbula”, ensinou: “O que já está 
queimado não volta a arder”
7
. Disse que dera por encerrado o assunto, mas o 
candomblé ainda não queimara de todo em mim e me deitava suas vivas brasas. 
Por isso, as crianças, as canções, a  dança, os cheiros, o batuque do terreiro 
voltavam sempre a arder e continuavam em minha cabeça assim como ainda me 
ardia Bourdieu:  
                
 Os jornalistas, submetidos às exigências que as pressões ou as censuras de poderes 
internos e externos fazem pesar sobre eles, e, sobretudo a concorrência, portanto a 
urgência, que jamais favoreceu a reflexão, propõem muitas vezes, sobre os problemas 
mais candentes, descrições e análises apressadas, e amiúde imprudentes. (Bourdieu, 
1977, p. 733). 


Não queria nem a urgência muito menos a imprudência. Queria voltar ao 
terreiro, mas não sabia bem o que buscar. Lembro que já na época da matéria, 
notando meu total desconhecimento sobre a religião, Mãe Palmira, a Yalorixá8
 do 
terreiro em questão me disse: “Minha filha, vai ler Os Nagôs e a Morte, de Juana 
Elbein dos Santos e aí  a gente volta a conversar”. Quatro anos e alguns livros 
sobre candomblé depois, em 1996, já no  mestrado em educação na PUC-RJ, 
cursei a disciplina “Cotidiano Escolar: questões de raça, gênero e violência”.  
Em contato com autores como Hall, Canen, Candau, McLaren e outros, 
discutíamos a proposta multicultural em educação como perspectiva de 
incorporação da diversidade cultural no ambiente pedagógico. Senti-me 
estimulada então, a voltar ao Ilê Omo Oyá Leji e tentar estabelecer uma ponte de 
estudos entre as crianças que lá conheci e a escola. Voltei ao terreiro e 
reencontrei Ricardo (então com 8 anos), Paula Esteves Chagas (com 9 anos) e 
conheci os irmãos Jailson dos Santos (com 12 anos) e Joyce Eloi dos Santos 
(com 13 anos).  Tentava não levar comigo a urgência nem a imprudência, mas 
levava muita ignorância que essa, sabemos, não desprega facilmente do espírito. 
                                                 
7
 COUTO, Mia, Terra Sonâmbula, Companhia das Letras, 1993, p.10 
8
 Autoridade máxima de um terreiro (quando se trata de uma mulher) e dirigente do culto no candomblé.  
Também chamada Mãe de Santo. (Berkenbrock,1998, p. 442).   28




Ricardo Nery, em 1992, na escola “Cantinho Feliz”, onde estudava.  Ali  não  houve 
problemas, mas pouco tempo depois, uma explicadora particular o chamaria de  filho do 
Diabo. 











   29




1.4 – Primeiras notícias do preconceito 

Mais uma vez fotografei e entrevistei as crianças, bem como pais e 
professores de alguns deles. As crianças que encontrei estavam menos tímidas do 
que em nossas primeiras conversas para a reportagem. As entrevistas com 
Ricardo e Paula revelaram muito mais de suas funções no terreiro. O contato com 
Jailson me mostrou outra função muito importante no candomblé: ele é omoisan. 
Foi o próprio Jailson  quem me explicou: “Eu cuido dos espíritos dos mortos 
quando eles estão nas festas dos vivos”.  Mais maduras e ainda sob o impacto de 
um lamentável episódio, as crianças também puderam falar do que já 
identificavam: o preconceito que sofriam. E que episódio foi esse? 
Poucos sabem, mas, jornalistas e fotógrafos são uns despertencidos.  Texto 
e fotos pertencem ao jornal. No caso do  jornal “O Dia”, pertencem à “Agência O 
Dia”. Não importa ao dono do jornal que o jornalista e o fotógrafo tenham sido 
extremamente éticos para conseguir a confiança de suas fontes. Qualquer pessoa 
pode comprar essas fotos e usá-las para qualquer fim. Foi o que aconteceu em 
1993, quando a Editora Gráfica Universal, do Grupo Universal do Reino de Deus, 
comprou as fotos da matéria que fiz para “O Dia” e publicou no Jornal Folha 
Universal matéria com o título “Filhos do Demônio”. 
9
 Milhares de jornais com as 
fotos de Ricardo, Paula e Tauana foram espalhados pela  Baixada Fluminense e 
outras regiões do estado do Rio. Três anos depois, a mesma editora lança a 13ª 
edição (1996) do livro “Orixás, Caboclos e Guias – Deuses ou Demônios?”, escrito 
pelo bispo Edir Macedo. Na tiragem de 50 mil exemplares, outra vez a reprodução 
                                                 
9
 Esse episódio levanta uma questão ética que deveria ser enfrentada seriamente pela comunidade jornalística. 
As fotos e entrevistas em uma reportagem fazem parte de toda uma relação de confiança conquistada e 
estabelecida pelo jornalista e pelo fotógrafo.  Nesse caso especificamente, tanto a Mãe de Santo, Palmira 
Ferreira Navarro, avó de Ricardo, como as outras mães de meninos e meninas que entrevistei confiaram em 
mim porque expliquei exatamente as intenções de meu trabalho e cumpri absolutamente todos os acordos 
firmados. Para mim, deveria se configurar como crime o fato de uma agência de notícias vender as fotos 
conseguidas eticamente para fins tão diferentes das circunstâncias em que as fotos foram geradas. Não houve, 
em função desse lamentável ocorrido, nenhum  constrangimento à minha presença no campo devido, 
justamente, à relação de confiança e transparência estabelecida durante todo esse tempo.   30
das fotos da reportagem que fiz: Paula e Ricardo aparecem agora sob a seguinte 
legenda: “Essas crianças, por terem sido envolvidas com os orixás, certamente 
não terão boas notas na escola e serão filhos problemas na adolescência”. 
Durante as entrevistas realizadas em 96, Paula afirmou que se sentiu bastante 
discriminada com a publicação tanto do jornal como do livro. “Me chamaram de 
macumbeira e diziam que eu vivia em religião do demônio”, disse. Ricardo 
também contou que se sentiu discriminado, principalmente depois da publicação 
do livro. “Depois do livro parece que todo mundo que me via sentia raiva por causa 
da minha religião. Ricardo disse ainda que não sua professora da escola formal, 
mas uma explicadora de quem tinha aulas de reforço o chamou de “filho do 
Diabo”. “Ela disse que minha religião é coisa do Diabo e, por isso, eu era filho do 
demônio”, lamentou-se. 
A primeira entrevista com Joyce dos Santos encerrou estes que foram os 
primeiros depoimentos que apontavam o preconceito. “Quando vou para a escola 
sempre uso camisas de mangas para que cubram as curas10
. Muitos professores 
e colegas me chamam de macumbeira e eu não gosto”, revelou. Conclui a 
disciplina apresentando um trabalho sobre essa minha segunda observação. Foi 
nessa época, auxiliada pelas conversas com Mãe Palmira e com as crianças que 
comecei a construir a primeira  questão de minha tese: O que se aprende no 
terreiro? Como as crianças vivenciam esse espaço? Como são socializadas nele? 
Que funções desempenham? Nascia assim a principal questão desse trabalho de 
doutorado:  A educação nos terreiros.  Por outro lado, motivada pela discussão 
sobre multiculturalismo e educação realizada no mestrado, me interessava 
também saber se na escola, existe espaço para que essas crianças partilhem a 
cultura experenciada nos terreiros. Assim, como segunda questão, a tese que 
apresento se propõe verificar  como a escola se relaciona com crianças e 
adolescentes que freqüentam o candomblé.  
                                                 
10
 CURA: cada um dos pequenos cortes rituais feitos na cabeça e em outras partes do iniciado nos 
candomblés.  Provavelmente de  nkula, entre os  Ndembu  de Luanda, culto de fecundidade associado ao 
sangue. (Verbete em: Lopes, Nei, “Novo Dicionário Banto do Brasil”, 2003, p. 87. É preciso ressaltar que 
nem todas as casas de santo fazem esses cortes em seus iniciados. No terreiro de Mãe Palmira, por exemplo, 
esse tipo de ritual não é praticado.  Joyce foi iniciada em outra casa de santo. Hoje em dia, quase nenhum 
terreiro faz as curas para evitar o uso coletivo da navalha e a transmissão de eventuais doenças.    31


      Capa do livro “Orixás, Caboclos e Guias – Deuses ou Demônios”, escrito pelo 
Bispo Macedo e publicado pela Editora Gráfica Universal. A 13a edição  saiu 
em 1996 com 50 mil exemplares. Ao todo (e a capa comemora isso), foram 2 
milhões de exemplares vendidos.   32

         
Na página 50 do livro “Orixás Caboclos e Guias – Deuses  ou Demônios”, 
escrito  pelo  Bispo  Macedo, aparecem Paula Esteves e Ricardo Nery de 
forma depreciativa: “Essas crianças, por terem se envolvido com os orixás, 
certamente  não  terão  boas  notas na escola e serão filhos “problemas” na 
adolescência”. 
   33

1.5 – Falando da travessia 
no terreiro e na escola 


Desde o retorno ao terreiro em 1996,  ainda no mestrado, freqüentei o Ilê 
Omo Oya Leji, um imenso real a ser investigado que passou a ser meu principal 
campo de pesquisa. As visitas, antes  esporádicas, se tornaram bem mais 
constantes ao longo dos anos do doutorado. Consulto meu caderno de campo e 
verifico: “5 de abril de 1999 – Como olhar tudo isso? O que e como procurar?” 
Eram meus primeiros questionamentos a respeito de como construir meu objeto 
que sabia, não estava pronto. 
Pensei inicialmente que, para Bourdieu, (1997, p.34), construir um objeto 
científico é, antes de mais e, sobretudo, romper com o senso comum, mas 
sabemos que isso não é fácil. Bourdieu, contudo, nos dá algumas pistas. Uma 
delas encontramos em  “O espaço dos pontos de vista”, texto de abertura de seu 
“A miséria do mundo”, onde este autor afirma que para compreender o que 
acontece em lugares como conjuntos  habitacionais, por exemplo, e com as 
diferentes pessoas que ali habitam, “não basta dar razão de cada um dos pontos 
de vista tomados separadamente. É necessário também confrontá-los”, (Bourdieu, 
1997, p.11). Já em  “Compreender”, texto final do mesmo livro, Bourdieu fala em 
“olhar distraído e banalizante” e opõe a este, um “olho sociológico", necessário, de 
acordo com ele, para superação do lugar-comum em pesquisa. 
Apesar de todas essas orientações, no começo da pesquisa eu ainda não 
sabia como ver. Quem escreve uma tese, no entanto, sabe que nosso orientador 
ou orientadora não nos deixa esquecer a importância e necessidade do  recorte, 
conceito que pode bem ser ilustrado com o depoimento do cineasta alemão Wim 
Wenders no documentário brasileiro de João Jardim “Janela da Alma” (2001).  




Com os óculos acho que você fica mais consciente do enquadramento. Quando tinha 30 
anos, tentei usar lentes de contato, mas mesmo quando as usava procurava meus óculos, 
porque apesar de enxergar bem sem os óculos, sentia falta do enquadramento.  Acho que 
a visão é mais seletiva, temos mais consciência do que vemos de fato.  Sem os óculos   34
tenho a impressão de ver demais. E não quero ver tanto, quero ver de forma mais contida. 
(Wenders, 2001). 

Pude assim pensar com Wenders que o olhar do pesquisador “enquadra” a 
realidade, ou seja, recorta do imenso real disponível um real menor sobre o qual 
se pode  olhar mais detidamente. O terreiro me oferecia um imenso e rico real, 
mas, recortei e detive minhas observações conversando, entrevistando e 
fotografando especialmente as crianças. Mais especificamente ainda, Ricardo 
Nery e Paula Esteves, obviamente  relacionando-os à realidade maior da 
comunidade terreiro. Concentro o foco de minha pesquisa um pouco mais nessas 
duas crianças (hoje adolescentes) porque foi com elas que mais conversei, já em 
1992, na época da pesquisa. Para mim, importou verificar a trajetória religiosa de 
ambos ao longo desses anos. Michele dos Santos também foi destacada naquela 
reportagem, mas perdi o contato com ela e só a reencontrei em 2004, 
reincorporando-a a este trabalho. Entrevistei ainda os responsáveis por essas e 
outras crianças que fazem parte da pesquisa.  

1.6 - Mudando a estratégia para a escola 

Construído o recorte para a pesquisa realizada no terreiro, me voltei para a 
escola. O que recortar e como recortar desse outro imenso real? Inicialmente, a 
estratégia imaginada baseava-se em observar a escola de Ricardo Nery e Paula 
Esteves. Contudo, a repercussão das publicações da Igreja Universal já havia 
prejudicado bastante as crianças. Discutindo com Mãe Palmira sobre sua opinião 
a respeito da realização de observação direta na escola tanto de Paula como 
Ricardo, ela me disse que achava melhor não fazer para que as crianças não 
fossem expostas ainda mais. 
A dúvida agora era: de que outra forma poderia abordar a escola e 
preservar as crianças observadas? A  opção foi construída em função da Lei 
3459/00, do ex-deputado Carlos Dias (PP-RJ), a polêmica lei que instituiu o ensino 
religioso confessional nas escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro. Pela lei, 
sancionada em 14 de setembro de  2000 pelo então governador Anthony 
Garotinho, as aulas de religião ficam divididas por credo, são facultativas e   35
incorporam o currículo normal das escolas públicas, desde a educação infantil até 
o ensino médio.  Em janeiro de 2004,  foi realizado concurso público para 
contratação de 500 professores de religião confessional que se somarão aos 364 
professores que já davam aulas de religião na rede pública, desviados de outras 
disciplinas. 
Optei então por realizar 12 entrevistas  (entre novos e antigos professores 
de religião) para saber como estes organizam suas aulas, que conteúdos abordam 
e como se relacionam com alunos de candomblé. Neste grupo de 12 professores 
também está a Coordenadora de Ensino Religioso do Estado. Adotei ainda uma 
segunda estratégia. Como disse anteriormente, havia perdido o contato com 
Michele dos Santos, uma das meninas que entrevistei na época da reportagem.  
Ela havia mudado com sua família da Baixada Fluminense e, com ajuda de Mãe 
Palmira, consegui localizá-la em sua nova moradia.  
Com essa mudança de endereço, Michele ficou afastada da região em que 
a repercussão negativa das publicações da Igreja Universal era maior. Julguei não 
haver então, problemas em  realizar uma observação mais próxima da escola em 
que ela estudava. Dona Conceição dos Santos, mãe de Michele, também não viu 
problema algum e, de agosto de 2004 a abril de 2005, freqüentei a escola estadual 
onde Michele estuda11
.  Realizei entrevistas com  três das quatro professoras de 
ensino religioso dessa escola12
, bem como com sua diretora e também com a 
diretora adjunta do turno da tarde (todas essas incluídas no grupo de 12 
entrevistas). Durante as entrevistas observei a escola e também participei de 
algumas de suas atividades13
.   







                                                 
11
 No final dessa pesquisa, Michele já não estudava mais nessa escola. 
12
 A maioria dos professores com os quais realizei as entrevistas foi indicada pela Secretaria de Educação do 
Estado.  Por coincidência, uma dessas professoras lecionava na escola de Michele. O nome da escola será 
preservado através de um nome fictício. 
13
 Ver capítulo 5 dessa pesquisa.   36
1.7 – Dos fios-de-contas e das hipóteses 


Redigo: a pesquisa que partilho com vocês teve dois objetivos: O primeiro 
foi observar as práticas culturais  de crianças e adolescentes que freqüentam 
terreiros de candomblé e formas de socialização dessas crianças no terreiro. O 
segundo foi ouvir a escola para saber como a escola se relaciona com essas 
crianças. Diz-se das teses de doutorado que estas precisam ter uma hipótese.  
Do grego hupórthesis, “ação de por embaixo, o que se põe por baixo, base, 
fundamento ou princípio de algo”, hipótese, explica Houaiss, é a suposição, 
conjectura, pela qual a imaginação antecipa o conhecimento, com o fim de 
explicar ou prever a possível realização de um fato e deduzir-lhes as 
conseqüências e ainda, pressuposição ou presunção.
14

Para mim ficou assim: hipótese é uma construção que fazemos através de 
alguns pressupostos inicialmente recolhidos que apresentamos para identificar 
que fio político conduzirá nossos pensamentos. Hipótese é o que nos identifica e 
diz a que lugar pertencemos e por onde seguiremos. Hipótese é um fio-de-contas. 
Conta, segundo Lody, é uma designação geral para tudo que é processado 
por enfiamento com a finalidade de ser um fio-de-contas e fio é a designação geral 
para os colares litúrgicos. (Lody, 2001,  p.63). O fio-de-conta é um sinal, um 
emblema pessoal e particular que identifica aquele que o está usando. Pelo tipo e 
pela cor sabemos para que orixá uma pessoa se vestiu. Pode ser para o orixá de 
sua cabeça ou para outro orixá. De acordo com Lody, os fios-de-conta enquanto 
objetos idealmente concluídos, independentes dos tipos, poderão passar por 
modificações formais, geralmente acréscimos que ocorrem no processo iniciático 
que é, por sua vez, permanente. (ibidem). Um conjunto muito variado de novos 
elementos seja contas específicas, fitas, figas, símbolos dos orixás pode ser 
incorporados ao fio para, diz Lody, a  nova sinalização do indivíduo em suas 
relações sociais e religiosas. Além disso, os fios poderão ser distribuídos para 
indivíduos de um mesmo terreiro ou de uma mesma família-de-santo. 
                                                 
14
 Verbete, dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2004, Objetiva, p. 1540   37


Assim, algumas contas serão reaproveitadas para brincos, pulseiras, ou então serão 
reincluídas em outros fios-de-contas. Há um circuito simbólico do princípio de unidade que 
é mantido com objetos convencionalmente sacralizados e que tenham laços e relações 
intermembros do terreiro. Certamente, nesse caso a conta é uma relíquia de um indivíduo, 
do seu santo, da sua Nação, ou do terreiro –  vínculos estabelecidos pelos materiais e 
principalmente pelo código cromático manifestado intencionalmente nos próprios fios-de-
contas. Além das marcas intencionais e cíclicas que fazem a dinâmica visual e simbólica 
dos fios-de-contas, outras serão efêmeras,  contudo incluídas nos mesmos princípios de 
ampliação do ideal sagrado pelos materiais. (op.cit, p. 64). 

Contas não são enfiadas de qualquer  jeito. Há que se ter cuidados 
especiais para fazê-las seja para uso próprio ou para outro membro do terreiro. De 
acordo com Lody, é fundamental dominar o código cromático e simbólico da 
Nação, dos tipos de fios-de-contas  e funções religiosas e hierárquicas, 
constituindo etapa do aprendizado iniciático que ocorre na reclusão do roncó15
.    
Algumas hipóteses são tão sagradas para o pesquisador que podem 
coagular seu olhar. As contas de candomblé também se tornam sagradas ao 
serem lavadas e preparadas em diferentes tipos de rituais. Mas esse sagrado, diz 
Lody, deve ser freqüentemente renovado tomando-se por referência o sagrado 
original, o sagrado-matriz, relacionado-o  aos fios-de-contas, assentamentos16
ferramentas-de-santo, entre outros símbolos do corpo, do santuário, da natureza, 
espaços no terreiro, todos comuns nos planos dos homens e dos deuses. É isso 
que, segundo Lody, ajuda a despertar o axé individual, a energia, a essência, a 
força do iniciado. 
O fio-de-conta que uso nesse momento diz de mim e do tema que investigo 
o seguinte: nas comunidades de terreiros existem inúmeras crianças e 
adolescentes. Elas ou pertencem à família do pai ou mãe-de-santo ou estão 
ligadas aos filhos e filhas-de-santo dos  terreiros. Assim como os adultos, essas 
crianças são iniciadas no candomblé, desempenham funções específicas, 
recebem cargos na hierarquia dos terreiros e manifestam orgulho de sua religião. 
Na escola, porém, essas crianças e adolescentes são invisibilizadas e silenciadas.  
                                                 
15
Quarto onde o (a) iaô ficará recolhido. 
16
Conjunto de objetos destinado a adoração do orixá.   38
Com a aprovação da lei de ensino religioso a situação se agravou mais 
ainda. A invisibilidade e o silêncio que submetem essas crianças e 
adolescentes aumentaram. 
Essa é minha  hipótese-fio-de-conta. Marca-me e me conduz, mas será 
lavada, renovada, redistribuída com cada elemento novo que for a ela 
acrescentado, subtraído, modificado. Assim renovarei seu sagrado e seu sentido. 
Veremos que fio-de-conta estarei usando ao final.   39





Enfiamento de conta no terreiro de Mãe Beata 










   40
1.8 - E por que o candomblé? 

A escolha do candomblé como enfoque principal deste trabalho não 
significa que este estudo desvalorize as outras religiões afro-brasileiras perante o 
candomblé. O terreiro a que cheguei, em 1992, com o único propósito de realizar 
uma reportagem é um terreiro de candomblé. Desde então, minha afeição por esta 
casa, a amizade com sua mãe-de-santo, com outros filhos e filhas-de-santo deste 
terreiro e a curiosidade sobre esta religião aumentaram. Existe sobre o candomblé 
um maior volume de material escrito  e de estudos do que sobre qualquer outra 
religião afro-brasileira, o que também contribui.  

1.9 - Sobre uma pescadora fotográfica 
E sobre uma questão ética 

Já na capa dessa pesquisa e em algumas das páginas de seu corpo até 
aqui, fica evidente que trabalho com fotografia. Essas e as que virão mostram que, 
através da fotografia, lancei várias  vezes uma espécie de rede luminosa aos 
mares e aos rios. Como pescadora fotográfica trouxe rostos de crianças e 
adolescentes ampliados, com seus gestos, risos, olhares, roupas e paramentos 
religiosos. Lancei minha rede luminosa na  vã esperança de fixar o que tentava 
pescar. Não fixei, não se deixaram fixar. Todos ainda se movimentam no espaço 
fotográfico com sua ilusão estática. 
Contudo, de alguma forma os trago e  os exponho. Deixo suas fotos na 
margem e na margem ficam expostos. Temos na margem  então, uma questão 
ética que me foi apontada por várias pessoas que pela margem passaram e sobre 
as fotos debruçaram olhares. Entre elas e  talvez a primeira, a professora Sônia 
Kramer, do departamento de Educação  da Puc-Rio. Preocupada há muito em 
suas pesquisas, com a exposição tanto de nomes verdadeiros como de imagens 
de crianças, Kramer discute o problema  em “Autoria e Autorização: questões 
éticas na pesquisa com crianças”.
17
 Em seu texto, a autora se pergunta, por 
exemplo, se os nomes verdadeiros das crianças observadas e entrevistadas 
                                                 
17
 Cadernos de Pesquisa, julho, 2002, n.116, p.41-59.   41
devem ou não ser explicitados na apresentação da pesquisa. No caso de 
fotografias e vídeos, Kramer indaga se a autorização dada pelos adultos, em 
geral, seus pais, é suficiente. 


Aparentemente, parecia simples responder  a cada uma das indagações.  No entanto, 
aspectos polêmicos emergem.  Quando trabalhamos com um referencial teórico que 
concebe a infância como categoria social e entende as crianças como cidadãos, sujeitos 
da história, pessoas que produzem cultura, a  idéia central é a de que as crianças são 
autoras, mas sabemos que precisam de cuidado e atenção.  Elas gostam de aparecer, de 
ser reconhecidas, mas é correto expô-las?  Queremos que a pesquisa dê retorno para a 
intervenção, porém isso pode ter conseqüências e colocar as crianças em risco.  Outras 
vezes, elas já estão em risco e não denunciar as instituições ou os profissionais pelo 
sofrimento imposto às crianças nos torna  cúmplices!Nesse sentido, as respostas ou 
decisões do pesquisador podem não ser tão fáceis como pareceria à primeira vista. 
(Kramer, 2002, p.42). 


Mais que discutir a forma como as crianças serão expostas nas pesquisas, 
Kramer discute o modo como o pesquisador lida com a criança observada e 
entrevistada. Para a autora, a pesquisa etnográfica fornece estratégias e 
procedimentos metodológicos, influenciando estudos do cotidiano escolar, da 
prática pedagógica e das interações entre crianças e adultos. De acordo com 
Kramer, a infância é hoje  um campo temático de natureza interdisciplinar 
(sociologia, história, antropologia) e essa visão se difunde cada vez mais entre 
aqueles que pensam a criança, atuam  com ela, desenvolvem pesquisa e 
implementam políticas públicas. 
Além disso, diz a autora, a epistemologia das ciências humanas e sua 
análise crítica das relações entre  saber e poder colocam em destaque a 
centralidade da linguagem para a compreensão da condição e da dimensão 
humanas. Assim é que Kramer tem se referenciado nas teorias de Benjamin, 
Baktin e Vygotsky para estudar a sociedade contemporânea e a infância em seus 
vários aspectos, destacando, porém, o trabalho de Benjamin. 


Desvelando o real, subvertendo a aparente ordem  natural das coisas, as crianças, para 
Benjamin, falam não só do seu mundo e da sua ótica; falam também do mundo adulto, da 
sociedade contemporânea.  Imbuir-se desse olhar infantil crítico é aprender com as 
crianças e não se deixar infantilizar.  Conhecer a infância passa a significar uma das 
possibilidades para que o ser humano continue sendo sujeito crítico da história que o 
produz. (op. cit.,p. 46).   42

Acompanhando várias dissertações de mestrado, teses de doutorado, além 
de monografias que apresentavam pesquisas com crianças numa abordagem 
qualitativa, obviamente na narrativa,  surge a necessidade de que os sujeitos 
aparecessem nomeados. De imediato, diz  Kramer, alternativas como usar 
números, mencionar as crianças pelas iniciais foram rejeitadas, já que essa via 
negava sua condição de sujeitos, desconsiderava sua identidade e simplesmente 
apagava quem eram e as relegava a um anonimato incoerente com o referencial 
teórico que orientava a pesquisa. (id.,p.47). 
Por outro lado, como identificar as crianças que estudavam na única escola 
da região e seus depoimentos traziam muitas críticas à escola, às professoras, às 
famílias?  A avaliação da autora é que nesse caso as crianças passariam a correr 
riscos. Kramer cita a solução encontrada por alguns pesquisadores. Algebaile 
(1995) decidiu omitir o nome  da escola e tratar as crianças pelo primeiro nome 
apenas. Em outros contextos o caminho utilizado foi pedir para que as crianças 
escolhessem nomes com que queriam aparecer na versão oficial do trabalho. No 
trabalho de Leite (1995), as crianças escolhem heróis ou ídolos (Bruce Lee, Van 
Damme, Daniele Mercury). Já na pesquisa de Sá Earp (1996), as crianças 
optaram por nomes de jogadores de futebol famosos na época (Sávio, Romário, 
Túlio, Ronaldinho). No caso das fotografias de crianças, a pesquisadora interroga: 

Quem autoriza a participação, o nome,  a gravação? Quem autoriza a utilização de 
fotografias? Sabemos que é o adulto, e concordamos que é necessário que assim seja, 
mais uma vez para proteger as crianças, para evitar que suas imagens sejam exploradas, 
mal-usadas.  Mas se a autorização quem dá é o adulto, e não a criança, cabe indagar mais 
uma vez: ela é sujeito da pesquisa? Autoria se relaciona à autorização, à autoridade e à 
autonomia.  Pergunto: como proteger e ao  mesmo tempo garantir autorização? Como 
resolver esse impasse?” (op. cit, p. 53). 

Não há uma resposta absoluta no texto de Kramer. Ele mesmo não se 
propõe a isso. Há preocupações muito importantes e fundamentais da autora com 
o uso abusivo, indiscriminado e generalizado de imagens de crianças. Isso diz 
respeito a todos nós que utilizamos fotografia em pesquisa. “Estaremos agindo 
como se a pesquisa tivesse um patamar mais elevado que o cotidiano e não 
devesse haver regulamentação dessa questão?”, pergunta Kramer que também   43
sugere: “Para além da dicotomia entre a dimensão jurídica e a censura às 
imagens contraposta à exposição das crianças e jovens em função da pesquisa, 
talvez seja preciso definir princípios éticos que ajudem a enfrentar o uso indevido 
e leviano da imagem em práticas que por  vezes parecem movidas pela idéia de 
que o show deve continuar”. (op.cit., p.54). 

1.10 – Duas etnografias 

Busquei refletir sobre essa questão com Kramer porque, durante todo esse 
tempo no terreiro, meu olho não buscou ver sozinho. Desde o início olhei com, e 
pela máquina fotográfica. Na verdade, o trabalho que apresento é constituído de 
duas etnografias e para ambas, as reflexões de Kramer, apoiadas em Benjamin, 
estarão comigo. Uma das etnografias fiz escrevendo como se conhece o ato de 
escrever e outra,  escrevi com luz, já que, como explica Barthes, em latim 
“fotografia” se diria:  “imago lucis opera expressa”; ou seja: imagem revelada, 
tirada, espremida por ação da luz. (Barthes, 1984, p.121).  
Nesta pesquisa, há fotos que fiz, outras que outros fotógrafos fizeram e 
algumas que foram cedidas pelas famílias das crianças dos terreiros. Todas 
autorizadas pelos responsáveis e pelas  crianças. Também uso seus nomes 
verdadeiros e seus nomes na religião. Foi assim que convivemos durante muitos 
anos. Quando devolver esse trabalho para  a escola, as fotos de Michele18
 (já 
adolescente) e Alessandra, sua irmã, serão  retiradas e elas já escolheram e já 
estão sendo apresentadas com outros nomes (a exemplo das sugestões 
encontradas do texto de Kramer). Isso porque a escola de Michele foi a única em 
que estive  para observações e entrevistas e ela será facilmente identificada. 
Parece-me que esse seja o procedimento mais correto já que nem ela nem a irmã 
assumem na escola que são do candomblé. As fotos na escola (identificada por 
um nome fictício) foram autorizadas pela  diretora. Também estive na escola de 
Jailson e Joyce, em 1996, eles ainda eram menores e não estudam mais lá. 
Portanto, não há problema mantê-los no trabalho oficial. O acordo que fiz com 
                                                 
18
 Todas essas crianças serão apresentadas detalhadamente mais adiante.   44
todos eles vai até a defesa e exposição da tese. Qualquer movimento a partir daí 
terá de ser rediscutido.  
Digo ainda que as fotos que fiz não funcionam como um anexo ao texto 
principal de minha pesquisa. Justamente  por isso, não estão ao final deste 
trabalho, mas ao longo dele. Também não foram feitas para que tenhamos um 
espetáculo. Na verdade, elas quase chegam a ser o texto principal de minha tese. 
Por mais que eu me esforçasse em escrever, há situações que só a fotografia 
consegue mostrar e fazer ver. Concordo com o fotógrafo Arthur Omar para quem, 
“Há coisas que só podem ser vistas e produzidas em situação de ato fotográfico, 
ou seja, através da existência da câmera”. (Omar, 1997, p.9). Meu olho nu e 
sozinho não daria conta de partilhar o  que vi ao longo desses anos. Foi com a 
máquina e através das fotos que, espero, tenha trazido eticamente, algo do 
processo.  
Também não sei fazer diferente. De tanto escrever fotografando e fotografar 
escrevendo, em mim já não se separam mais o olhar do fotógrafo e do 
pesquisador. Sei que tanto um como outro, ao olharem o real investigado, o fazem 
de algum lugar, definem  um método de intervenção nesse real observado e 
propõem um recorte neste real
19
. Um olhar está impregnado do outro. Um já não 
olha mais sem o outro e vão construindo um texto único, inseparável, misto de 
letras e luz. 

                                                 
19
 A esse respeito publiquei o artigo “Fotografia e pesquisa em diálogo sobre o olhar e a construção do 
objeto”, Revista Teias (Faculdade de Educação da UERJ),  número4/julho/dez. 2001.