quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

RACISMO, AS DIFERENÇAS CONTINUAM

RACISMO, AS DIFERENÇAS CONTINUAM


Zumbi dos Palmares
Em maio de 2005

"Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!"

Essa é uma das frases do célebre discurso de Martin Luther King, "Eu tenho um sonho". Luther King era um pastor negro e um dos principais líderes do movimento norte-americano contra o racismo.Ele lutou até morrer por um tratamento igual e por uma melhoria da situação da comunidade negra do seu país e do mundo, liderando protestos (manifestações) pacíficas e fazendo discursos emocionantes sobre a necessidade do fim da desigualdade racial. 

A Turma do Plenarinho, fã de carteirinha de Luther King, torce para que o sonho do líder negro se realize porque, apesar do fim da escravidão há 118 anos, o racismo continuam existindo no Brasil. 

Certamente, o mundo será muito melhor quando acabar a discriminação entre as pessoas por causa da cor, religião ou qualquer outra diferença. E não há data melhor para refletirmos sobre o assunto do que o dia 13 de maio. Afinal de contas, no dia 13 de maio de 1888 - há exatos 118 anos - , a princesa Isabel decretava o fim da escravidão . Esta data deve servir para pensarmos, compreendermos e valorizarmos a riqueza cultural dos negros no Brasil. 

Escravidão no Brasil

Por mais de 300 anos, a escravidão foi a forma de trabalho mais comum no Brasil. E olha só, a escravidão é uma coisa muito ruim, viu? Você sabe direitinho como ela funciona? A gente explica: a escravidão acontece contra a vontade do trabalhador. Ele trabalha à força e não recebe salário nenhum. A pessoa escravizada não tem direitos pois é propriedade do seu dono, como se fosse um carro, por exemplo. Os negros eram capturados de suas tribos na África - nagôs da Nigéria, geges do Naomé, bantos da Angola, benguelas... Trazidos à força para o Brasil, vinham nos porões dos navios negreiros, em péssimas condições, sem espaço, água e alimentos suficientes para a viagem de barco, que naquela época durava entre 30 e 40 dias.

Aqueles que morriam por causa das condições da viagem eram simplesmente jogados no mar. O ponto de chegada dos navios era geralmente Salvador e Recife, um tempo depois o Rio de Janeiro passou a fazer parte da rota. 

Durante muito tempo, o tráfico de escravos foi um bom negócio. Tanto para os homens que vendiam quanto para os que compravam. E quem comprava? Eram os senhores de engenho do Nordeste, os plantadores de café e mineradores da região Sudeste. 

A escravidão não acabou simplesmente por decreto. A princesa Isabel (você sabe qual era o nome completo dela? Olha só que enorme: Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon Bragança e Orléans foi uma personagem importante nessa história, mas rolaram mais coisas para que essa forma de exploração tivesse fim.

Campanha contra a escravatura
Alguns professores de História, sabidos que só eles, têm uma explicação muito interessante para essa mudança. Com o surgimento das indústrias no século XVIII (o século XVIII vai de 1701 a 1800), as mercadorias começaram a ser fabricadas aos montes. Um montão de produtos precisa de um montão de compradores, não é? 

Aí que o Brasil entra na história. Países como Portugal, Espanha e Inglaterra eram os chamados colonizadores, e nós, da América do Sul, éramos colônias, dependentes deles. Eles mandavam produtos como tecidos para os ricos daqui. Em troca, as colônias forneciam ouro, açúcar, prata e café. Essa relação funcionou bem até que a Inglaterra virou a rainha da indústria. 

Como os escravos não recebiam salários (e eles eram muitos!), eles não podiam comprar. Aí que a Inglaterra começou a achar a escravidão um mau negócio. Começou, então, uma campanha para acabar com a escravidão. 

Com a industrialização, a Inglaterra vendeu cada coisa para o Brasil! O negócio era tão maluco que teve brasileiro no Nordeste comprando esqui de neve. Dá para acreditar? 

Líderes Negros

Zumbi dos Palmares - A princesa Isabel assinou a Lei Áurea decretando a abolição da escravatura no dia 13 de abril de 1888. Isso foi uma coisa muito legal, mas essa conquista não é só dela. Antes disso, muitos negros já arriscavam suas vidas na luta pela liberdade. Zumbi dos Palmares foi um desses guerreiros. O Zé Plenarinho está doido para conhecer a história de Zumbi, e você? A gente conta!

No comecinho do século XVII (o século XVII vai de 1601 a 1700), uns 40 escravos fugiram dos engenhos de cana-de-açúcar de Pernambuco, até que chegaram à Serra da Barriga, atual Alagoas. Essa região tinha o solo fértil e um monte de palmeiras. Por causa disso, os escravos fugidos, novos habitantes da região, deram o nome ao lugar de Palmares. 

Palmares cresceu e se transformou no quilombo (lugar de resistência dos negros) mais importante da história da escravidão no País. O maior líder desse pessoal todo foi um negro guerreiro chamado Zumbi. Os homens brancos e livres tentaram invadir e acabar com Palmares várias vezes. Esse lugar se transformou no centro de resistência contra a escravidão. Lá os negros eram considerados livres. 

No dia 6 de fevereiro de 1694, ajudados pelos canhões, soldados abriram caminho, encurralando os negros contra um precipício. Era o fim de Palmares. Mesmo ferido, Zumbi conseguiu fugir e só foi preso quase dois anos depois, quando um negro, em troca da vida, disse onde o líder Zumbi estava escondido. No dia 20 de novembro de 1695, Zumbi foi morto. A data ficou guardada na história: 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. 

Martin Luther King - Martin Luther King nasceu no dia 15 de janeiro de 1929, na Georgia, cidade dos Estados Unidos. Primeiro filho de uma família de negros norte-americanos de classe média, seu pai era pastor de uma Igreja Batista e sua mãe era professora. Com 19 anos de idade, Luther King seguiu os passos do pai e se tornou pastor da igreja.

Ele começou sua luta pelos direitos dos negros em 1955, quando organizou um protesto contra um ato de discriminação de uma passageira negra em um ônibus (nessa época, os negros que estavam sentados no ônibus tinham que dar seus lugares para os brancos). 

Por causa desse protesto, que durou um ano, Martin Luther King teve sua casa bombardeada. Se você acha que isso o fez parar, está enganado. Em 1960, ele liderou um montão de protestos em várias cidades norte-americanas contra a separação das raças em hotéis, restaurantes e outros lugares públicos. E foi durante uma dessas manifestações que ele foi preso, acusado de causar desordem pública. 

Em 1963, ele entrou para a história com um discurso que fez em Washington. Esse discurso ficou conhecido como "Eu tenho um sonho" (I have a dream, em inglês). Mesmo tendo agido sempre contra a violência, King foi baleado e morto por um branco em 4 de abril de 1968.

Racismo - Tô fora!

Se existe algo que não está com nada, nadica de nada, essa coisa é o racismo. Você com certeza já ouviu falar, mas sabe o que é o racismo direitinho? A Légis, uma menina muito esperta da Turma do Plenarinho, é negra e está sempre superligada nesse tema. Ela pesquisou o que é o racismo e explica agora para você! A Turma agradece, Légis.

O racismo é uma forma de pensamento que acredita que existem raças humanas diferentes e superiores umas às outras. Mas se engana quem acha que o racismo é uma teoria científica. Na verdade ele é um conjunto de opiniões sem fundamento. A crença de que existem raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão. Nos Estados Unidos, existe até hoje uma organização racista totalmente fora de moda chamada Ku Klux Klan. Com um nome esquisito, essa organização surgiu em 1865. 

Seis jovens da cidadezinha americana de Pulaski, no Tennessee, sem muito o que fazer, resolveram espantar o tédio de um jeito diferente: fundar uma microssociedade secreta. A curtição deles era andar a cavalo à noite, disfarçados com lençóis e capuzes em forma de cones brancos, para pregar peça nos vizinhos. Nada demais até então. Só que aí a sociedade de brincadeira foi juntando cada vez mais membros. E a coisa desandou. O movimento racista estava no auge, já que os escravos tinham sido libertados pelos vencedores da Guerra Civil Americana, os estados do Norte. E as cavalgadas noturnas viraram perseguições a negros. 

Em um ano a Ku Klux Klan (KKK) já tinha virado uma organização assassina. Depois de inúmeros linchamentos, espancamentos, incêndios e enforcamentos, a Klan finalmente foi reconhecida como uma entidade terrorista e acabou banida pelo governo americano em 1872. 

Voltou em 1915 e hoje, ela tem uns 3 mil membros que se dedicam a distribuir panfletos racistas. A Ku Klux Klan é só um exemplo de como o racismo não está com nada. 

Quer saber de outra história dessas? Quando Hitler governou a Alemanha, entre 1933 e 1945, ele implantou uma política chamada nazismo. Os nazistas acreditavam que os judeus eram uma raça inferior e deveriam ser mortos. Cerca de seis milhões de judeus foram assassinados no chamado Holocausto (a palavra holocausto era usada para falar de grandes desastres e massacres, até que depois da Segunda Guerra Mundial ela passou a ser utilizada para falar da morte de milhões de judeus pelo regime nazista de Adolf Hitler). O nazismo foi proibido na Alemanha, mas pequenos grupos de simpatizantes dessa idéia, chamados neonazistas, continuam a existir por lá e em outros países. 

O Brasil dos nossos dias é conhecido como um país tolerante, quer dizer, que não discrimina as pessoas. Mas será que é assim mesmo? 

A palavra é dos negros

Em outubro do ano passado, adultos e jovens que fazem parte de organizações a favor dos direitos dos negros participaram do I Encontro de Universitários Negros do Entorno e do DF, na Universidade de Brasília (UnB). Lá eles trocaram idéias sobre o negro no mercado de trabalho e sobre a violência racial. Você por acaso já viu algum programa infantil de televisão que tenha um apresentador negro? O professor de História do Centro de Ensino Médio 3 do Gama, uma cidade que fica coladinha em Brasília, estava na platéia do Encontro com um grupo de 20 de seus alunos e lembrou disso: "A violência na mídia é muito clara. Não existe apresentador infantil negro. O racismo é óbvio (claro), mas não parece óbvio", comentou. 

A jovem Ana Luiza Pinheiro Flauzina, estudante de mestrado da UnB, também estava lá e mandou bem. Ela faz parte de um grupo de Brasília chamado Enegrecer. Ana Luiza falou sobre as pessoas que são presas no Brasil. 

"Os crimes cometidos pelo pobre, em sua maioria, negros, são altamente punidos, mas crimes de colarinho branco não são (crimes de colarinho branco são aqueles realizados por pessoas poderosas, geralmente sem violência, que envolvem muito dinheiro). O sistema penal brasileiro escolhe quem é preso". 

(Fonte: Assessoria de Comunicação da UnB) 

Política de Cotas

Falando na UnB, ela foi a primeira universidade do Brasil a implantar o sistema de cotas para negros. Lá 20% das vagas são reservadas para eles. É assim que funciona esse sistema: uma parte das vagas é selecionada para a concorrência apenas entre os negros. Isso tudo começou porque professores e pesquisadores perceberam que as universidades públicas do Brasil eram ocupadas em sua maioria por brancos. E você sabe, né? Ter um curso superior e um diploma é importante para conseguir um bom emprego. 

A política de cotas foi pensada para tentar melhorar a vida dos negros brasileiros, que desde a abolição são livres, mas continuam à margem da sociedade. 

Mesmo com boa intenção, a política de cotas é um assunto polêmico. Você sabe por quê? Tem gente que acha que seria melhor pensar um jeito de consertar os problemas do ensino médio de todo o Brasil, e principalmente o da rede pública. Daí todos teriam as mesmas condições no vestibular. 

Outras pessoas argumentam que os negros que entrassem na universidade pelo sistema de cotas teriam dificuldade de acompanhar o restante da turma que passou no vestibular tradicional, e a qualidade do ensino cairia. 

Até agora, no entanto, nenhum desses problemas virou notícia, sinal de que eles não estão existindo. Em 14 instituições de ensino superior, a política de cotas já é uma realidade. 

Na Câmara

A Câmara dos Deputados não podia ficar fora do debate sobre o negro e sua inclusão na sociedade. A começar pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), que tem participado da discussão sobre as cotas para negros nas universidades. Em abril passado, rolou um seminário na Câmara para debater o Projeto de Lei 73/99, da deputada Nice Lobão, do PFL do Maranhão, que cria cotas em todas as universidades públicas . Esse projeto já foi aprovado pelas comissões de Constituição, Justiça e Cidadania; Direitos Humanos e Minorias e Educação da Câmara. Mas um terço dos deputados pediu que a proposta fosse votada por todos, em Plenário. Agora, a Mesa Diretora vai agendar um dia para a votação. 

Além da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, existe na Câmara uma Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial. O deputado Luiz Alberto, do PT da Bahia, é presidente dessa Frente e contou para a Turma do Plenarinho a opinião dele sobre o racismo e o negro no Brasil: "Tem gente que pergunta se existe racismo no Brasil. 

Você já percebeu que a maioria das pessoas que têm carros e casas bonitas são brancas? Isso é um traço da desigualdade, pois a maioria dos negros eram escravos e não ganhavam dinheiro pelo trabalho, então ficavam pobres, e ainda hoje, muitos negros são pobres". Ficou curioso para saber mais da opinião do deputado, que trata o 13 de maio como Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo? Então, não perca tempo! Leia o artigo que ele escreveu especialmente para o Plenarinho. 

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13 de maio: dia de denúncia - Dep. Luiz Alberto

Maio de 2006

Pelo dep. Luiz Alberto

Qual a participação dos africanos escravizados na Abolição da Escravatura? Você sabia que a Lei Áurea só foi assinada no dia 13 de maio de 1888, pela Princesa Isabel, por que os escravizados, negros e negras, já estavam lutando pela liberdade em todo o Brasil? 

Os livros de História nem sempre contam essa parte do passado. Nem sempre os livros falam que as revoltas e manifestações contra a escravidão aconteceram no País inteiro, e que essa mobilização influenciou muito a decisão de fazer a Abolição da Escravatura no Brasil. 

Para muitos de nós, descendentes de escravos, esse não é um dia de comemoração. Para nós, o 13 de maio é o Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo. O que significa isso? Esse é um dia que marca a luta dos negros e negras do Brasil contra a desigualdade e a discriminação racial. 

Tem gente que pergunta se existe racismo no Brasil. Você já percebeu que a maioria das pessoas que têm carros e casas bonitas são brancas? Isso é um traço da desigualdade, pois a maioria dos negros eram escravos e não ganhavam dinheiro pelo trabalho; então ficavam pobres, e ainda hoje, muitos negros são pobres. 

Você já prestou atenção que na TV, em programas para crianças, praticamente não existem apresentadoras negras? Já viu que a maioria das apresentadoras é loura? Mas, pense bem, a maioria das pessoas que você conhece é loura? Isso é um traço do racismo, mostra que há discriminação (diferenciação) pela cor na hora de escolher quem vai aparecer na TV. 

É por isso que no 13 de maio não lembramos da Princesa Isabel, mas de heróis negros como Zumbi dos Palmares. Zumbi organizou um lugar, no estado de Alagoas, onde ninguém era escravizado, castigado, impedido de comer ou ir aonde quisesse. Esse lugar chamava-se Quilombo dos Palmares. 

No Brasil inteiro havia muitos lugares como esse, mas Palmares é o mais famoso. Ele é uma inspiração para lutar contra o racismo e suas conseqüências, que trazem problemas para os negros e negras até hoje. Crianças, meninos e meninas, nasciam e cresciam nesses lugares onde todos lutavam para que ninguém fosse escravizado, discriminado, tratado diferente. 

Desde criança é possível lutar contra o racismo. Um bom começo é não tratar ninguém diferente por causa da cor da pele, do cabelo, do jeito de falar ou se vestir. Outra coisa é saber mais sobre os heróis e heroínas negros. Essa é a história que nós queríamos dividir com você hoje. 

Quer lutar contra o racismo? 
Pesquise mais sobre Zumbi dos Palmares.

O deputado federal Luiz Alberto, do PT da Bahia, é presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial. Natural do município de Maragogipe, região do Recôncavo Baiano, ele atua politicamente desde a década de 70, tendo como compromisso a luta e organização da sociedade brasileira, com especial atenção aos excluídos, ao combate ao racismo e à melhoria das condições de vida dos trabalhadores. 

Luiz Alberto fundou e preside a Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial, é petroleiro aposentado, dirigente sindical e militante do MNU - Movimento Negro Unificado.

Fonte: www.plenarinho.gov.br

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